PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – “Conseguimos em quatro anos o impossível há cem: Sena é balneável!” O presidente da França, Emmanuel Macron, comemorou no Instagram a realização das provas de natação do triatlo dos Jogos de Paris, na manhã desta quarta-feira (31). Após ser palco da cerimônia de abertura, na sexta (26), o rio enfim fez parte de uma prova.
A batalha, porém, não está ganha. Outras três competições no Sena, nestes Jogos, estão ameaçadas, devido à forte chuva que atingiu Paris na madrugada de terça para (30) quarta-feira.
São elas o revezamento misto do triatlo, no próximo dia 5, e as maratonas aquáticas feminina e masculina, de 10 km, nos dias 8 e 9.
A chuva piora a qualidade da água porque o sistema contra enchentes em Paris carrega a água da chuva para o Sena, arrastando lixo consigo.
A informação que corre entre os atletas é que, por causa do temporal, o triatlo misto do dia 5 será transformado em duatlo, ou seja, terá apenas as provas de ciclismo e corrida. A revelação foi feita pela brasileira Djenyfer Arnold, que ficou em vigésimo lugar na prova desta quarta-feira (31). “É o que tá rolando aí”, disse Djenyfer.
Para Lionel Cheylus, porta-voz da ONG Surf Rider, que faz medições independentes da qualidade da água, “teria sido prudente adiar as provas”, devido à chuva horas antes, “à espera de visibilidade” em relação à real contaminação da água.
“Geralmente, quando chove, a água demora um pouco para melhorar a qualidade”, comentou outro brasileiro, Miguel Hidalgo, que ficou em décimo lugar na prova masculina melhor resultado do país nessa prova em Olimpíadas. Ele ficou decepcionado com o resultado, pois chegou a estar em quinto, e já fala na próxima oportunidade. “Eu quero ganhar em Los Angeles, e vou fazer de tudo para isso.”
A qualidade limítrofe da água do rio Sena colocou em dúvida a realização da natação do triatlo até o último momento. A prova masculina, marcada para terça (30), havia sido adiada para quarta, mesmo dia da feminina, porque uma das medições apontou um nível de bactérias Escherichia coli superior a 1.000 por 100 ml, acima do permitido pela federação internacional de triatlo.
A decisão de autorizar a prova foi tomada quatro horas e meia antes da largada feminina. Djenyfer e a outra brasileira na prova, Vittoria Lopes, foram informadas às 4h da manhã (23h de terça em Brasília). Mas elas já teriam que acordar nesse horário, explicou Djenyfer, porque tinham que estar na ponte Alexandre 3º às 5h30 para a largada, às 8h.
Na véspera da prova, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, já tinha dado a entender que o Sena seria liberado. Em entrevista à TV francesa, disse ter recebido “boas notícias” em relação à medição da contaminação do rio. Amostras são obtidas em quatro pontos diferentes do rio.
A própria prefeita se colocou como figura central na polêmica do rio quando anunciou que mergulharia no Sena para provar que estava limpo. Ela cumpriu a promessa cerca de dez dias antes da cerimônia de abertura.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) foi questionado na manhã desta quarta sobre a realização da prova mesmo após a chuva teoricamente, com uma contaminação maior que a indicada na medição da véspera. “Seguimos rigorosamente o processo estabelecido pela federação internacional, ou seja, as amostras foram analisadas nesta madrugada. E é graças a esses testes que decidimos deixar a competição ocorrer”, explicou Mark Adams, assessor de comunicação do COI.
O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, disse que a balneabilidade do Sena “é um legado que vai durar”. A ideia é, daqui a um ano, permitir que a população se banhe no rio.
Após a prova, Djenyfer Arnold queixou-se da falta de treinos de reconhecimento do rio, cancelados devido à contaminação da água. Isso a prejudicou na hora da passagem de uma boia. A outra brasileira na competição, Vittoria Lopes, também disse que poderia ter feito mais. Ela caiu da bicicleta, como várias outras competidoras, e terminou em 25º.
No masculino, Miguel Hidalgo conseguiu o melhor desempenho do Brasil no triatlo olímpico, o décimo lugar na prova desta quarta-feira (31), mas estava inconformado com os adversários que bateram nele durante a prova de natação.
“Falta penalidade, mais fiscalização .Sou um cara que nunca bati em ninguém, mesmo se batem em mim eu não revido, porque gosto de correr de forma limpa, e as pessoas batem para ganhar uma ou duas posições. Isso não é justo, e embaixo da ponte é difícil de filmar. Foi onde eu apanhei, e não tinha muito como filmar embaixo da ponte ali. O drone, acho que não entrou lá, o helicóptero também não consegue filmar, então ali é onde apanhei mais e acabei sofrendo muito com isso.”
Hidalgo disse que seu objetivo, agora são os Jogos de 2028. “Eu quero ganhar em Los Angeles e vou fazer de tudo para isso.”
O outro brasileiro na prova, Manoel Messias, terminou em 45º lugar. Disse que sentiu dificuldade com a correnteza do Sena na natação: “Tinha hora que parecia que eu não estava saindo do lugar.”
Segundo Djenyfer, o Brasil tem menos chance de medalha se a natação não for disputada, e sim apenas o ciclismo e a corrida. No revezamento misto, no dia 5, competem os quatro representantes do Brasil nos Jogos.
A medalha de ouro do feminino ficou com a francesa Cassandre Beaugrand, e a do masculino, com o britânico Alex Yee.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress