BC adota tom mais duro e mantém Selic em 10,5% ao ano pela 2ª reunião seguida

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (31) a taxa básica de juros -a Selic- parada em 10,5% ao ano. Esta é a segunda reunião consecutiva sem alteração no patamar dos juros.

A decisão foi unânime, com alinhamento dos votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo Gabriel Galípolo -favorito a assumir o comando da instituição em 2025-, ao do atual chefe do BC, Roberto Campos Neto.

Ao justificar a opção por manter a taxa de juros inalterada, o Copom adotou um tom mais duro no comunicado. Enfatizou a necessidade de “maior vigilância” e destacou que as conjunturas doméstica e internacional demandam um “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.

“Os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”, disse a cúpula do BC em trecho do documento.

O colegiado ressaltou o cenário global incerto e o ambiente doméstico marcado pela resiliência da atividade econômica, pela elevação das suas próprias projeções de inflação e pela piora das expectativas.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para 2024 subiram de 4% para 4,2% e, para 2025, tiveram alta de 3,4% para 3,6%.

O comitê manteve o cenário alternativo, no qual mantém a Selic inalterada “ao longo do horizonte relevante” (o que inclui o primeiro trimestre de 2026). Nesse quadro, a projeção de inflação do próximo ano ficaria em 3,4% (em junho, a estimativa era de 3,1%).

Já as estimativas do indicador para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% no alternativo.

Repetiu a mensagem de que a política de juros deve seguir contraindo a economia por “tempo suficiente” para consolidar tanto o processo de desinflação como também a convergência das expectativas em torno da meta.

“O comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, reafirmou no comunicado.

A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a manutenção da Selic em dois dígitos, no atual nível de 10,5% ao ano, era a projeção unânime dos economistas consultados.

O ciclo de corte de juros foi interrompido no encontro passado, em junho, com a retomada do consenso entre os membros do colegiado, inclusive os indicados pelo presidente Lula.

O alinhamento aplacou os ruídos gerados um mês antes, em maio, após um racha no Copom, que alimentou o temor dos analistas de que o BC poderia se tornar mais leniente no combate à inflação no ano que vem. Em 2025, sete dos nove membros da cúpula do BC terão sido indicados pelo petista.

Ao longo do processo de flexibilização, iniciado em agosto de 2023, a taxa básica saiu de 13,75% ao ano e, no acumulado, recuou 3,25 pontos percentuais. Foram seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto. Hoje, a Selic está no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

Até o fim do ano, quando termina o mandato de Campos Neto, atual presidente do BC, o Copom tem mais três rodadas de reuniões —17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.

Desde a reunião de junho, houve piora no cenário econômico doméstico, com desvalorização do câmbio e projeções de inflação mais distantes do centro da meta.

No mês passado, a taxa de câmbio usada pelo Copom em seu cenário de referência era de R$ 5,30. Na reunião desta quarta, ela correspondeu a R$ 5,55. O dólar fechou em alta de 0,64% nesta quarta, cotado a R$ 5,653.

A depreciação do real frente à moeda americana reflete, segundo economistas, incertezas decorrentes de tensões políticas nos Estados Unidos e da questão fiscal no Brasil.

Quanto ao fiscal, o Copom voltou a dizer que monitora com atenção os desdobramentos do tema sobre a política monetária e os ativos financeiros (ou seja, o dólar). Reconheceu, em acréscimo ao texto já utilizado em encontros anteriores, que “a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes.”

Nas últimas semanas, as expectativas de inflação apuradas pelo boletim Focus foram revisadas para cima tanto para 2024 quanto para 2025.

Os economistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) feche o ano em 4,1% (em junho, o avanço era de 3,96%). Para 2025, hoje mais relevante para a decisão do BC, a estimativa saltou para 3,96%, ante 3,8% às vésperas do último Copom. A estimativa para 2026 segue estacionada em 3,6%.

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

No balanço de riscos para a inflação, o colegiado do BC continuou com a avaliação de que os fatores estão em equilíbrio em ambas as direções, embora tenha elencado três fatores que puxariam os preços para cima e dois que levariam os preços para baixo.

Entre os fatores de alta, mencionou o risco de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado, uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um mais apertado hiato do produto (margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima) e uma conjunção de fatores internos e externos que tenham impacto inflacionário no Brasil. Neste caso, cita como exemplo a taxa de câmbio ficar persistentemente mais depreciada.

Entre os fatores que puxariam os preços para baixo, o comitê citou a possibilidade de desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e os possíveis impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação em todo o mundo.

Sobre o cenário doméstico, o Copom ressaltou o dinamismo “maior do que o esperado” da atividade econômica e do mercado de trabalho. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,9% no segundo trimestre deste ano. No mês passado, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Brasil abriu 201.705 vagas formais de trabalho.

Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC mira o alvo fixado para 2025 e já olha para o primeiro trimestre de 2026. O Copom volta a se reunir nos dias 17 e 18 de setembro para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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