Adultério durante a gravidez impacta a saúde da mulher e do bebê

A traição gera um cenário de estresse e faz com que a mulher corra o risco de ter um parto prematuro, afirma especialista

Fotomontagem Jornal da USP com imagens de: Janko Ferlic/Pexels

Cerca de 50% dos homens admitem que são infiéis. Esse é o resultado da pesquisa Mosaico 2.0, da professora Carmita Helena Najjar Abdo da Faculdade de Medicina (FM) da USP e coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FM (HCFM). O estudo foi realizado com mais de 3 mil brasileiros em sete diferentes regiões metropolitanas do País, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal.

Outro estudo, publicado pela revista científica Journal Of Clinical Medicine, mostrou que um em cada dez homens traem as suas esposas durante a gestação. A psicóloga Andréa Cristina de Toledo Zanardi, do Centro Obstétrico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP diz que “a traição tem sido algo muito recorrente e acontecer na gestação é apenas um reflexo dessa atmosfera que já existe em outros momentos da vida do casal”.

Para a psicóloga, isso mostra a inabilidade do companheiro em buscar outras maneiras de lidar com o que a gestação está representando na vida dele e na vida do casal. “Nós sabemos que a gestação traz muitas mudanças, mas, como essa nossa fase será elaborada e ressignificada, é um processo individual de cada um que está nessa relação”, analisa.

Segundo a especialista, a traição durante o período gestacional pode prejudicar a saúde da mulher e também o desenvolvimento do bebê, pois a mulher pode ter os sintomas depressivos aumentados, tendo dificuldade em aderir ao pré-natal e em lidar com a rotina de exames e consultas. “A gestante também pode apresentar um quadro de estresse que vai repercutir na sua saúde emocional e física. Por exemplo, uma situação onde a hipertensão aumenta por todo esse cenário de estresse corre o risco de provocar um parto prematuro”, aponta.

Essas situações devem ser enfrentadas com tratamento psicológico e ajuda médica, orienta a psicóloga: “ÉD necessário realizar um atendimento psicológico ou conversar com um médico. Sempre que houver problemáticas, que podem estar interferindo na questão do relacionamento, é indispensável o diálogo, troca e conexão entre o casal”.

Andréa diz que a cultura machista em que vivemos é usada muitas vezes para justificar uma traição. “As pessoas buscam justificativas, como colocar a culpa nos hormônios da mulher, dizer que ela está muito irritada ou sobre a vida sexual do casal, em que muitos homens acham que vão prejudicar de alguma maneira o bebê, e também a gestante não querer ter relação sexual. Essas situações podem causar um distanciamento e alguma crise para o casal.”

Como exemplo de força e resiliência na vivência de uma traição durante a gravidez, a psicóloga cita a cantora Iza, que no início do mês de julho deste ano anunciou o término de seu relacionamento com o jogador de futebol Yuri Lima. Casos como esse podem influenciar e servir de espelho no contexto de vida das pessoas, segundo Andréa. “Se a gestante que foi traída mostra resiliência e força para superar, como é o caso da cantora Iza, isso pode representar um modelo de força para outras mulheres também traídas, conduzir elas para um lugar de mais força e coragem”, aponta.

**Texto por Jornal da USP