SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta volatilidade nesta sexta-feira (2), um dia depois de atingir a maior cotação desde 21 de dezembro de 2021.
A moeda norte-americana tem oscilado entre os sinais durante a sessão, chegando a atingir R$ 5,793 na máxima (avanço de 1%) e R$ 5,705 na mínima (queda de 0,5%).
Às 12h31, subia 0,30%, cotada a R$ 5,752 na venda. Já a Bolsa brasileira, pressionada por perdas de mais de 2% da Petrobras, recuava 0,98%, aos 126.144 pontos.
Os mercados reagiam aos últimos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos. O chamado “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou que a criação de vagas de emprego desacelerou a um ritmo maior do que o esperado em julho.
De acordo com o Departamento de Trabalho, a economia adicionou 114.000 novos postos no mês passado e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021.
Analistas consultados pela Reuters esperavam abertura de 175.000 postos de trabalho e manutenção da taxa de desemprego em 4,1%. No mês anterior, 179.000 vagas foram abertas, em dado revisado para baixo.
Por um lado, os números reforçam a tese de que o início de um ciclo de afrouxamento monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) pode estar próximo, com apostas quase unânimes de que um corte irá acontecer na próxima reunião do colegiado, em setembro.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de treasuries. Isso significa que, quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário.
A autarquia manteve a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5% na quarta-feira, como esperado. No comunicado, porém, afirmou que os preços agora estão apenas “um pouco elevados”, a primeira suavização na linguagem desde que deu início à batalha contra a inflação, classificada como “elevada” nos últimos relatórios.
À medida que a inflação continua convergindo à meta de 2% e outros dados mostram uma desaceleração considerável da atividade econômica, agentes financeiros passaram a não só apostar que o primeiro corte de juros acontecerá em setembro, mas também que a magnitude dele será maior do que o previsto.
De acordo com a ferramente CME Watch, que colhe apostas sobre a política monetária norte-americana, 67,5% dos investidores preveem que os juros irão cair em 0,5 p.p; 32,5% esperam 0,25 p.p.
No entanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, descartou uma queda mais agressiva nos juros por lá, afirmando que não se trata de “algo que o colegiado esteja pensando no momento”.
Com temores de que a desaceleração da atividade econômica dos EUA indique uma possível recessão nos próximos trimestres, e as falas do charmain apontarem para um corte de menor magnitude, o mercado busca ativos mais seguros, como o dólar, para alocar investimentos.
É essa a junção de fatores que tem trazido alta volatilidade para a moeda norte-americana nesta sessão. Além disso, os juros no Brasil também impõem uma pressão adicional ao real, na visão de Bruno Padilha, chefe de câmbio da Nippur Finance.
“O BC (Banco Central) deu um voto de confiança no governo, sinalizando que não aumentará os juros no curto prazo o que torna a perspectiva de compra de reais menos atrativa na comparação com o dólar, pelo diferencial de juros”, explica Bruno Padilha, chefe de câmbio da Nippur Finance.
O Copom (Comitê de Política Monetária) optou por manter a taxa básica de juros do país a Selic em 10,50% ao ano. No comunicado emitido após a decisão, adotou um tom mais duro ao enfatizar a necessidade de “maior vigilância” diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
Para alguns analistas, a falta de sinalizações sobre uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.
O comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.
O Boletim Focus desta semana apontou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior, segundo estimativas de analistas consultados pelo BC.
As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.
O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, a dúvida agora é se o atual patamar da Selic é contracionista o suficiente para levar a inflação de volta à meta.
Outro fator de estresse para os mercados é a escalada de tensões no Oriente Médio.
Um dia depois do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Terãa, o governo de Israel anunciou a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado judeu, em um bombardeio no mês passado.
“O ataque de Israel é muito significativo, porque agora parece haver um aval do líder iraniano para que Terãa faça uma retaliação”, afirma André Galhardo, consultor econômico do Remessa Online.
Para os mercados, a escalada de tensões “tem levado parte dos investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e o dólar”, explica
A cena geopolítica tem trazido instabilidade aos preços do petróleo Brent, o que, no Brasil, reverbera principalmente nos papéis da Petrobras, a segunda empresa de maior peso no Ibovespa.
As ações preferenciais e ordinárias da petroleira caíam mais de 2% neste pregão, pressionando o índice para baixo.
Na véspera, as tensões no Oriente Médio e a decisão do Copom também afetaram os mercados. O dólar subiu 1,43%, a R$ 5,734, e a Bolsa recuou 0,20%, aos 127.395 pontos.
Redação / Folhapress