SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A oceanógrafa brasileira Leticia Carvalho venceu nesta sexta-feira (2) a eleição para chefiar a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), agência da ONU (Organização das Nações Unidas) que está à frente das discussões sobre a controversa mineração em alto-mar.
A diplomata ocupará o cargo de secretária-geral da instituição de 2025 a 2028. A votação aconteceu em reunião em Kingston, na Jamaica. A brasileira recebeu 79 dos 113 votos.
Carvalho, candidata favorita entre os ambientalistas, disputou o pleito contra o atual secretário-geral da organização, Michael Lodge, amplamente apoiado pela indústria.
O britânico, no cargo desde 2016, tentava um terceiro mandato à frente da entidade. Advogado com especialização em legislação marinha, ele vem incentivando países-membros a fecharem, no curto prazo, a definição das regras ambientais que permitiriam o início das atividades em alto-mar.
“Leticia Carvalho será a primeira mulher, cientista e latino-americana a ocupar o cargo. A oceanógrafa brasileira construiu sólida carreira profissional, acumulando 26 anos de experiência em cargos executivos na administração pública brasileira e em organismos multilaterais”, disse, em nota, o Itamaraty, ao divulgar a eleição.
Atualmente, a diplomata é diretora de oceanos e águas doces no Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), em Nairóbi, no Quênia.
A mineração em alto-mar é uma atividade comercial que ainda não existe, mas com potencial avaliado em trilhões de dólares, em razão do aumento da popularidade dos carros elétricos, cuja fabricação demanda recursos que existem no leito marinho. Cientistas têm destacado, porém, os riscos relacionados à extração de minérios dessas áreas pouco estudadas.
Para além das questões de regulamentação da atividade controversa, as eleições ocorreram em meio a suspeitas, reveladas pelo jornal The New York Times, de pagamentos para obtenção de votos, má gestão de recursos e conflitos de interesses na candidatura do atual chefe da organização.
Reportagem do Times publicada no começo de julho compilou alguns das alegações contra o atual secretário-geral, incluindo suspeitas sobre reembolsos de despesas e usos de recursos da organização, inclusive para viagens internacionais que poderiam ser interpretadas como despesas de campanha. Lodge nega todas as irregularidades.
Em entrevista à Folha de S.Paulo antes da eleição, Leticia Carvalho afirmou que a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos vive uma crise de governança, com repercussões na sua reputação.
“Há uma clara questão sobre transparência, uma opacidade na tomada de decisão, na alocação de recursos. Eu quero muito mais transparência, aproximando muito mais a ISA das boas práticas e regras da ONU”, afirmou ela, com quase duas décadas de experiência no Ministério do Meio Ambiente, onde trabalhou, entre outras coisas, com regulação de extração de petróleo no mar.
Redação / Folhapress