SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) lançou nesta quinta-feira (1º) seu programa de governo, documento também protocolado na Justiça Eleitoral, sem informar precisamente dados orçamentários e prazos. Parte das informações foi detalhada por ele em evento no qual reafirmou que suas propostas são exequíveis.
O documento, com 40 páginas e 119 pontos, dá menos ênfase a bandeiras caras à esquerda, como a aversão a privatizações, do que o apresentado por ele quando disputou a Prefeitura de São Paulo em 2020, tendo como vice Luiza Erundina (PSOL). A companheira de chapa da vez é Marta Suplicy (PT).
Os postulantes são obrigados a oficializar o plano de governo quando registram suas candidaturas, mas a Justiça Eleitoral não impõe regras para formato ou conteúdo. É comum que ideias também sejam reveladas ou adaptadas durante a campanha. Marina Helena (Novo), única candidata além de Boulos a formalizar seu programa até agora, também deixou de fornecer previsões de custos e cronogramas.
Boulos disse no ato com correligionários na quinta que, se eleito, prevê aproximadamente R$ 50 bilhões em investimentos ao longo de quatro anos, sendo R$ 41 bilhões com recursos do orçamento municipal e R$ 10 bilhões provenientes do governo federal, sobretudo por meio do Novo PAC, entre outras fontes. Ele apontou o alinhamento político com o presidente Lula (PT), seu apoiador, como um facilitador.
Segundo o representante do PSOL, a projeção sobre o caixa municipal foi feita com base na média da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Para 2025, a receita total prevista é de R$ 119 bilhões, sendo R$ 14,4 bilhões para investimentos próprios.
Boulos disse que buscará reforçar o caixa com operações de crédito e intensificando a cobrança de valores da dívida ativa, com estímulo ao trabalho de procuradores e auditores fiscais para mirarem grandes devedores. O candidato também já se comprometeu a não criar taxas para os cidadãos.
Ele exibiu no telão estimativas para algumas áreas específicas em quatro anos, como R$ 7 bilhões para implementar ensino integral nas escolas, R$ 1 bi para a abertura dos chamados Centros de Oportunidades, com cursos profissionais para jovens principalmente na periferia, R$ 4 bi para zerar as filas de exames e procedimentos na saúde e R$ 4 bi para a construção de corredores de ônibus.
Tais dados, contudo, não constam do documento protocolado.
Boulos tem repetido que a capital não tem problema de caixa e dito que todas as propostas foram definidas por sua equipe com base em fontes orçamentárias e já levando em conta gastos com custeio. “[O programa] para em pé. A conta fecha. Tudo isso é possível de ser feito”, declarou.
Ele afirmou que os detalhes de custos e fases execução serão mostrados “ao longo de toda a campanha” e ponderou que a apresentação foi uma versão resumida, restrita a pontos “mais importantes”.
O deputado reforçou que a ideia é ampliar a adesão de São Paulo a programas federais, o que, segundo ele, vem sendo negligenciado pela gestão Ricardo Nunes (MDB) por razões “eleitoreiras e mesquinhas”.
Os prazos para a implementação das medidas também foram omitidos tanto no plano quanto na fala do candidato. A informação repetida é a de que as iniciativas serão postas em prática “de maneira gradual” e que está prevista a divulgação de um “futuro plano de metas”.
Ao prometer transformar o SUS da capital em referência nacional, ele disse à plateia para cobrá-lo “daqui a quatro anos” sobre o cumprimento.
Boulos foi questionado pela imprensa ao fim do ato sobre a proposta de expandir a tarifa zero nos ônibus, hoje restrita aos domingos, para que passe a valer diariamente em linhas locais, que ligam bairros a terminais. Respondeu que a ideia é adotar o projeto aos poucos e não fixou um prazo.
Coordenado pelo deputado estadual Antonio Donato, da parte do PT, e pela economista Camila de Caso, ligada ao PSOL, o programa de governo aliviou o tom militante em relação àquele apresentado em 2020, que marcava distância em relação ao setor privado e priorizava fortalecimento da máquina pública.
Embora o candidato continue acenando ao funcionalismo, promessas de novos concursos públicos tiveram menos espaço desta vez, com ênfase maior à convocação das pessoas que já foram aprovadas em seleções. Quatro anos atrás, o postulante aventava concursos “para todas as carreiras”.
Na eleição anterior, o plano defendia “reverter a lógica privatizante” em diferentes áreas. Na educação, a ordem era reduzir, por exemplo, o modelo de entregar o comando de creches a OSs (organizações sociais).
Outra proposta na época era revogar a concessão do estádio do Pacaembu, cuja administração foi repassada à iniciativa privada em contrato válido por 35 anos.
No plano atual, as concessionárias são mencionadas no trecho que prevê a auditoria dos contratos com as empresas de ônibus e no tópico sobre o empoderamento da SP Regula, para que a agência reguladora endureça a fiscalização dos serviços a fim de assegurar transparência e eficiência.
O discurso agora inclui buscar parcerias com empresários para favorecer a criação de empregos, abrir linhas de crédito para o segmento e simplificar os processos de licenciamentos e alvarás para pequenas e médias empresas que se instalarem nas regiões com menor oferta de empregos.
Boulos tem buscado fazer uma conversão ao centro e moderar posições que acentuaram a imagem de radical e intransigente, associada sobretudo à sua atuação no MTST (movimento de moradia). A escolha de Marta para a vice é vista como um aceno a setores de fora da esquerda com os quais a ex-prefeita tem proximidade.
A chapa, no entanto, concilia a ampliação ideológica com sinalizações ao chamado campo progressista.
Boulos foi ovacionado ao propor contra o analfabetismo o “mutirão Paulo Freire”, homenageando o educador atacado por conservadores e que foi secretário na capital na gestão Erundina. O eixo principal da campanha é o combate às “desigualdades profundas da cidade”, questão que o deputado descreveu como algo “humanamente inaceitável”.
JOELMIR TAVARES / Folhapress