RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Há mais de 24 horas, o Brasil inteiro (quiçá o mundo) se emocionou ao ver a judoca Beatriz Souza em Paris. Ainda zureta das ideias logo após o conquistar a primeira medalha de ouro pelo país nas Olimpíadas, ela recebeu o celular de um repórter da TV, na saída do tatame.
Do outro lado da linha, na câmera de vídeo, estavam seus familiares. Ela diz que os ama, “eu consegui!”, chora (choramos juntos), e lança a frase final; uma declaração que, naquele momento, ficou meio fora de contexto para muita gente, apesar de dar para imaginar o que ela quis dizer: “Foi pela vó”.
Depois ficamos sabendo que Brecholina Silva, a dona Lina, sua avó paterna, havia morrido em junho. Bem na fase final de sua preparação para essa que viria a ser a sua consagração, um turning point na carreira de qualquer atleta. Vovó não teve tempo de assistir, mas foi para ela que Bia lutou. E fez questão de dizer isso ao mundo, numa cena marcante destes Jogos.
Lorrane Oliveira, 26, conquistou a medalha de bronze por equipes na ginástica artística, dias atrás, e era, naquele quinteto de mulheres carismáticas e felizes, talvez a mais sorridente delas. Quem imaginaria que há três meses a atleta perdeu a irmã mais nova, Maria Luiza, 21. Ela estava treinando com a seleção na França quando foi informada de sua morte. Ficou emocionalmente destroçada.
“Eu tô completamente sem chão, e procurando maneiras pra entender como vou seguir minha vida sem você. Você só tinha 21 anos, mas era tão inteligente, me aconselhava e me fazia mais forte como ninguém”, escreveu, à época, nas redes sociais. Lorrane cogitou isolar-se no luto. “Confesso que pensei em desistir e não vir. Abrir mão”, disse.
O apoio de Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Rebeca Andrade e Julia Soares, além de toda a comissão técnica, foi essencial para que ela mudasse de ideia. “A equipe é maravilhosa e me ajudou diariamente. Elas deram o tempo de que eu precisava, meu treinador me apoiou. Foi difícil, eu chorava todos os dias. Tinha dias que não treinava, mas elas sempre me apoiaram. Às vezes só precisava de um abraço, e elas estavam ali”, contou, em uma entrevista recente.
Ainda na expectativa de uma medalha e com três vitórias consecutivas no vôlei de praia, Carol Solberg está de luto desde meados de novembro de 2022. Foi quando sua mãe, a ex-jogadora Isabel, morreu, aos 62 anos, por complicações de uma Síndrome Aguda Respiratória do Adulto (SARA). Carol estava começando os preparativos para a disputa da vaga nos Jogos de Paris quando Isabel se foi.
“Foi devastador. Me perguntava como conseguiria tocar. Era impensável. No começo, tentei me blindar. Depois, entendi que não tinha como fugir dessa dor. Essa dor é minha, faz parte de quem sou hoje, e terei de conviver com ela para sempre”, afirmou, em depoimento ao jornal O Globo.
Carol, que joga ao lado de Bárbara Seixas, fechou a fase de grupos com 100% de aproveitamento ao vencer a partida contra as holandesas Stam e Schoon, nesta sexta, 2 de agosto. É a data em que Isabel faria 64 anos. Foi uma motivação a mais.
“Tento pegar toda força da minha mãe que está dentro de mim e transformar isso. Sei que ela está aqui comigo em cada passo que eu dou para frente”, disse ela, emocionada, na TV, no pós-jogo. Já se passou um ano e meio da morte de Isabel, e Carol diz que pensa nela todos os dias. O tempo todo.
O que faz todo o sentido para o poeta gaúcho Fabricio Carpinejar, que escreveu: “O luto não é uma fase, é uma condição eterna da sensibilidade. O luto é eterno, infindável, para toda a vida”.
CLEO GUIMARÃES / Folhapress