PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – “Antes da disputa da medalha, a gente teve aquela… Como é que fala no futebol?” Preleção. “Isso, preleção. Eu falei um pouquinho, já me emocionei, a galera estava bastante emocionada, mas estava todo mundo com muito sangue no olho.”
Rafael Silva, o Baby, se despediu do judô olímpico neste sábado (3) em Paris com seu terceiro bronze, o primeiro do Brasil na disputa por equipes mistas, a melhor campanha do esporte em Jogos, tudo isso embalado em um clima de estádio de futebol. Em parte devido à presença de Teddy Riner, estrela da programação, tricampeão olímpico no individual e agora bicampeão por equipes; ou porque a França é o país do judô.
Mas o crédito cabe também ao formato da competição, adotada em Tóquio-2020 dentro do esforço do COI em atingir a paridade de gênero nos Jogos. Os países inscrevem uma seleção de atletas e precisam, em cada rodada de combates, por no tatame três homens e três mulheres. Com composições muito diversas, a disputa vira um jogo de estratégia.
“Eu acho que o Brasil foi muito feliz nas estratégias que escolheu, as pessoas que escolheu para lutar”, contou Baby, descrevendo um ambiente “muito democrático” entre atletas e comissão técnica em busca da melhor formação para cada combate. “Foi um trabalho conjunto muito bonito, porque tem que ser uma escolha racional, quem vai entrar, como é que vai ser.”
“Foi um dia especial para o judô brasileiro”, declarou o veterano de quatro Olimpíadas na categoria dos pesados, a que vive à sombra de Riner há mais de uma década. Com o bronze, distribuído para a seleção de dez atletas, incluindo os que ficaram no “banco”, o judô nacional atingiu sua melhor campanha em uma edição dos Jogos (4 medalhas, com ouro, prata e 2 bronzes) e um total de 28 pódios na história.
“Tem muito amor aqui nessa medalha, é uma conquista histórica pra gente”, afirmou Beatriz Souza, ouro no dia anterior. “É muito diferente do individual, são várias cabeças pensando, tem pessoa que entra, pessoa que não entra e tudo mais. A união é gigantesca.”
Judoca decisiva no confronto contra a Itália que valeu o bronze, Rafaela Silva creditou seu desempenho ao desejo de superar a derrota no individual, na segunda-feira (29). “Eu sabia o quanto eu era importante para a equipe. Sabíamos os pontos em que a gente teria mais facilidade e os que com mais dificuldade. Eu tinha que me reerguer, mesmo sendo um momento duro”, declarou a judoca, campeã olímpica na Rio-2016, e que viveu uma gangorra em sua carreira nos últimos anos.
Suspensão por doping, afastamento do judô, questões pessoais e, como revelou em rede social nesta semana, até uma tentativa de suicídio. Em Paris, pelo time, Rafaela voltou.
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress