Novo confronto entre indígenas e fazendeiros em MS amplia tensão na região

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Um novo confronto entre indígenas guarani-kaiowá e fazendeiros em Douradina (MS) foi registrado no fim da tarde de domingo (4). De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), um agricultor ficou ferido por um disparo de bala de borracha.

A pasta afirmou que o conflito aconteceu mesmo com a presença de representantes de órgãos do governo, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.

O conflito começou com um incêndio, que foi controlado por tratores no local. A Força Nacional interveio com uso de gás lacrimogêneo, e, em seguida, quatro disparos de armas de fogo foram ouvidos no local, segundo o MJSP. O autor dos tiros não foi identificado.

A pasta ainda afirmou que os dois grupos estavam exaltados e teve que usar munição de efeito moral para acalmar a situação.

Fontes próximas aos guarani-kaiowá afirmaram à reportagem que o confronto deixou ao menos 20 indígenas feridos, mas a informação não pôde ser confirmada de maneira independente. Procurado, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) não respondeu até a publicação deste texto.

O confronto do domingo, na área de ocupação Yvyajere, aconteceu menos de 24 horas depois de um ataque em um local próximo, na área retomada Pikyxyin. As duas estão entre as sete da Terra Indígena Lagoa Panambi, identificada e delimitada desde 2011.

Cinco pessoas foram encaminhadas em ambulância ao Hospital da Vida, em Dourados (MS), de acordo com o MPI. A última atualização fornecida pela pasta indicava que um indígena seguia no local em estado grave.

O ataque de sábado, divulgado por Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), aconteceu após a Força Nacional sair da região, segundo a entidade. De acordo com os relatos, homens armados, em uma caminhonete, atiraram contra os indígenas com munição letal e balas de borracha.

O MJSP disse que o confronto do início da tarde aconteceu enquanto a Força Nacional fazia o patrulhamento em outra área da mesma região. Afirmou também que o foco de todo o efetivo no estado está em auxiliar o MPI e o Ministério Público Federal (MPF), que estão intermediando os conflitos.

A Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul disse que continuará apoiando todas as forças federais de segurança e os órgãos oficiais do governo com o objetivo de prevenir confrontos entre produtores rurais e indígenas no estado.

Apesar de as retomadas ocorrerem em território já delimitado pela Funai, o processo de demarcação está suspenso por determinação judicial.

Em meio a um quadro de escalada da violência fundiária no estado, o Ministério da Justiça prorrogou, em julho, o uso da Força Nacional em Mato Grosso do Sul em ações para preservar a ordem e a integridade em aldeias indígenas e nas regiões de fronteira.

A medida, que vigorava desde abril, foi renovada após indígenas guarani-kaiowá serem alvos de tiros nos municípios de Douradina e Caarapó. A Polícia Federal investiga.

Levantamento do Cimi divulgado em julho mostra que assassinatos de indígenas voltaram a crescer no primeiro ano do governo Lula (PT) e tiveram alta de 15,5% na comparação com 2022, o último de Jair Bolsonaro (PL).

Foram 208 mortos no ano passado ante 180 em 2022, segundo o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil.

ARTUR BÚRIGO / Folhapress

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