‘Não sei se sou a pessoa ideal’, diz Bernardinho sobre renovação na seleção

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Bernardinho não está acostumado a fracassos. Nunca deixou de habitar o pódio olímpico como treinador, no masculino ou no feminino. Nesta segunda-feira (5), em Paris, eliminado junto com uma seleção mal resolvida nas quartas de final do torneio olímpico, afirmou que o vôlei mudou. E que o Brasil, potência do esporte até há alguns anos, também precisa mudar.

“A responsabilidade é toda minha de não ter dado aos rapazes a condição de aproveitar essa oportunidade”, afirmou pouco depois de seu time ter perdido para os EUA por 3 a 1. Foi a primeira vez desde Sydney-2000 que o país caiu nas quartas.

“No primeiro set tivemos chance. Talvez eu não conhecesse totalmente o grupo, talvez não soubesse como extrair o melhor. Como é que eu consigo colocar um Darlan ou um Adriano com mais consistência? É jogando mais, vivendo a situação mais vezes. Quantas partidas de Jogos Olímpicos o Darlan jogou?”, perguntou, citando os novatos do time.

Bernardinho assumiu a seleção no fim do ano passado, substituindo Renan Dal Zotto, que se afastou por questões de saúde. Sem um prazo maior para o trabalho, mesclou veteranos e jovens talentos. Nos Jogos de Paris-2024, venceu apenas um de quatro jogos.

“Eu fico muito triste pelos veteranos, eu sei o quanto eles se doaram para estar aqui, o quanto eles se dedicaram. Mas eles têm muita coisa pela frente. É que chorem mesmo, que sejam lágrimas de motivação para o próximo ciclo que começa amanhã”, disse.

Tanto no discurso do treinador como no do capitão Bruninho, seu filho, palavras como renovação e atualização se sucederam. O Brasil já liderou a transformação do esporte, não mais. “Veja a quantidade de países novos que surgiram no vôlei, como Eslovênia e Polônia. O Campeonato Polonês é fortíssimo, vejam o resultado”, disse o levantador, que reconheceu que seu ciclo na seleção está se encerrando.

“O voleibol mudou muito. Tecnicamente. Não é só força, toque. O jogo, a gente chama assim, está mais sujo, você agarra a bola, toca a bola, ataca”, afirmou Bernardinho. “A cultura do vôlei mudou. Temos que aprender com os outros. Veja o nível de saque da nossa Superliga comparado ao nível do saque aqui fora. Não é crítica. É o que é.” A participação brasileira em Paris teve diversos erros de saque em momentos decisivos dos jogos.

“O esporte mudou muito nesse aspecto. Muitos breaks foram decididos no saque. Talvez falte um pouco mais de jogadores atuando fora do país”, afirmou o técnico, lembrando que seu time campeão olímpico em Atenas-2004 tinha todos os integrantes jogando em ligas internacionais.

“Mas a verdade é que, de todos os jogadores, a nota mais baixa é a minha”, declarou Bernardinho, se colocando à disposição da CBV para colaborar com “o que for necessário”. Mas isso significa que ele ficará à frente do time que, tirando Paris, só vencia sob seu comando? “Será que eu sou a pessoa ideal? Eu preciso ter essa reflexão. Tenho condições de me dedicar a 100%. Vou estar em Saquarema [no centro de treinamento da CBV] de domingo à noite à sexta-feira? Não sei.”

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress

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