Moradores são retirados de pensões e hotéis durante megaoperação no centro de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moradores de ao menos seis pensões e hotéis na região central de São Paulo foram retirados desses locais na manhã desta terça-feira (6) durante megaoperação contra o crime organizado.

Os imóveis constam na investigação como locais usados para esconder drogas e celulares roubados.

Em uma das pensões, na alameda Barão de Piracicaba, nos Campos Elíseos, 45 famílias tiveram que sair às pressas levando apenas o RG, conforme determinação dos policiais.

“Aqui é uma pensão. Não nos avisaram nada, apenas chegaram e disseram que era para pegar o documento e sair. Somos moradores, pagamos aluguel”, afirmou Verônica Briones, que disse morar há 25 anos no endereço. Ela esperava permissão para voltar para seu apartamento e tinha somente o cartão do banco nas mãos. “Trouxe só isso porque não queria ficar sem dinheiro.”

Locatário do imóvel de três andares, Jurandir Lopes disse pagar R$ 10 mil por mês ao proprietário. “Chegaram hoje quebrando porta. Não tem tráfico de drogas aqui, coloquei câmera em tudo justamente por isso”, afirmou.

O retorno dos moradores foi autorizado por volta das 12h após os policiais revistarem todos os cômodos em busca de drogas.

Sentada na calçada com nove cachorros, Vivian Muller chorava preocupada com os cinco gatos que havia deixado no apartamento antes de ser retirada pelos policiais. “Tenho cinco gatos e sete cachorros, só consegui descer com eles e mais dois da minha vizinha”, disse.

No hotel ao lado, onde vivem 27 famílias, os policiais afirmaram ter encontrado entorpecentes e por isso foi ordenado o emparedamento do imóvel. “Moro aqui há 15 anos, minha renda só alcança pagar aluguel aqui”, afirmou Vilma de Freitas.

Moradora de um dos imóveis lacrados nesta terça, Evelise Matos Redondo, 44, tentava acalmar seu gato, preso em uma coleira próximo aos seus pertences empilhados na calçada. “É a terceira vez em dez anos que sou despejada”, diz.

Grávida de três meses, ela pediu ajuda do pai que mora em Itaquera, na zona leste, quando os policiais invadiram o hotel, usado como ponto de apoio do crime organizado, segundo as investigações. “Lá eu pagava R$ 750 por mês, é o que eu consigo”, diz.

Com a ajuda de um carroceiro, Denise Aparecido da Silva, 70, juntava sacos de roupas, quadros e brinquedos dos seus gatos para levar a outra ocupação, após o emparedamento do hotel onde morava na alameda Barão de Piracicaba. “Antes, eu vivia em um apartamento na rua Avanhandava, meu marido morreu e meus filhos e enteados me tiraram de lá para vender o imóvel”, diz.

Desde então, ela mora em ocupações por causa do baixo valor cobrado por mês em comparação com um aluguel formal. “Pediam fiador ou um caução de R$ 500 para fechar o contrato de aluguel. Eu não tenho esse dinheiro, por isso vim parar aqui”, conta.

Os imóveis alvo da operação desta terça-feira ficam próximos aos quarteirões ocupados pela cracolândia por mais de 30 anos, no entorno da estação Júlio Prestes.

Por causa da proximidade com o tráfico de drogas, os moradores dessas pensões foram inseridos na fila dos programas de moradia social do estado e da prefeitura, mas a maioria ainda não foi contemplada.

A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que disponibilizou uma estrutura de serviços em parceria com a prefeitura para oferecer vagas em abrigos e tratamento aos dependentes químicos afetados pela megaoperação desta terça. Um Bom Prato móvel foi montado nas proximidades para disponibilizar 200 refeições por dia, além de distribuição de cobertores, kits de higiene e roupas.

MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress

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