PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Os 1.500 m são uma das provas mais recheadas de emoções na história olímpica. A dos Jogos de Paris fez jus à tradição. Onde todos esperavam um duelo entre os mesmos medalhistas de Tóquio –pela ordem, o norueguês Jakob Ingebrigtsen, o queniano Timothy Cheruiyot e o britânico Josh Kerr–, quem surgiu do nada para conquistar o ouro foi um jovem de rabo de cavalo e olhos azuis, o americano Cole Hocker.
Ingebrigtsen aspirava a se tornar o primeiro bicampeão olímpico da prova desde o britânico Sebastian Coe (1980 e 1984). Adotou a estratégia de liderar desde o início. Kerr e os quenianos Cheruiyot e Brian Komen o acompanhavam de perto.
Nos 150 metros finais, o gás do norueguês começou a acabar. Kerr e Komen pareciam destinados a brigar pela vitória, quando Hocker apareceu por dentro para roubar de ambos a glória olímpica. Ainda por cima, com 3min27s65, ele quebrou o recorde olímpico, que pertencia a Ingebrigtsen (3min28s32).
Até então, o melhor resultado da carreira do americano tinha sido a medalha de prata no Mundial de pista coberta, em março, na Escócia.
Ingebrigtsen parecia perplexo após a prova. “Abri com 54 segundos, pelo menos dois segundos rápido demais. Pensei em desacelerar, mas estraguei tudo forçando demais.”
Se ele fracassou no objetivo do bicampeonato, outro atleta saiu do Stade de France nesta terça-feira (6) com o segundo ouro consecutivo. O grego Miltiadis Tentoglou, 26, saltou 8,48 metros, 7 centímetros a mais que nos Jogos de Tóquio.
O último saltador a conservar o título olímpico em edições consecutivas foi o americano Carl Lewis, campeão quatro vezes seguidas entre 1984 e 1996. Wayne Pinnock, da Jamaica (8,36 metros), e Mattia Furlani, da Itália (8,34 metros), completaram o pódio.
“A Grécia é o país que inventou as Olimpíadas, então estou contente por ter feito isso pelos gregos”, disse o bicampeão.
Além do ouro de Hocker, os muitos americanos presentes nas arquibancadas do Stade de France vibraram com a vitória de Gabby Thomas, 27, nos 200 m rasos (21s83). A americana, formada em neurobiologia pela Universidade Harvard, ganhou seu primeiro ouro olímpico, depois de uma prata (revezamento 4 x 100 m) e um bronze (200 m) em Tóquio.
Julien Alfred, que no sábado (3) havia conquistado para a pequena Santa Lúcia sua primeira medalha olímpica na história, ficou com a prata desta vez (22s08). Brittany Brown deu mais um bronze aos EUA (22s20).
A prova que mais emocionou o público local, nesta terça, foi a final dos 3.000 m com obstáculos. “Alice! Alice!”, gritava o público, incentivando a francesa Alice Finot. Ela ganhou quatro posições na última volta, quebrou o recorde europeu, mas ficou a uma posição do pódio.
A vitória foi de Winfred Yavi, do Bahrein, com mais um recorde olímpico (8min52s76). Foi o terceiro ouro da história olímpica de seu país de adoção –Yavi nasceu no Quênia. Os outros dois ouros também tinham sido conquistados por atletas naturalizadas –outra queniana e uma etíope.
“O ouro significa muito para mim e para o país”, afirmou Yavi.
A canadense Camryn Rogers venceu a outra final do dia, do lançamento do martelo, com 76,97 metros.
Pela manhã, nas eliminatórias, o brasileiro Luiz Maurício, 24, quebrou o recorde sul-americano do lançamento do dardo (85,91 metros), classificando-se com a sexta melhor marca para a final desta quinta-feira (8).
“Competi com os melhores, que eu assistia na televisão, e agora estou na final junto com eles. Agora é voltar para a Vila [Olímpica], terminar a preparação e entregar 100% na final”, disse o mineiro de Juiz de Fora.
Outro brasileiro, Rafael Pereira, obteve na repescagem uma vaga para a semifinal dos 110 m com barreiras, marcada para esta quarta-feira (7).
Mais uma semifinal com presença brasileira, também nesta quarta, é a dos 400 m com barreiras. Alison “Piu” dos Santos, um dos favoritos ao ouro, e Matheus Lima tentam uma vaga na final de sexta-feira (9).
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress