SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas, Rebeca Andrade começou sua trajetória na ginástica artística em um projeto social na cidade de Guarulhos, em São Paulo, aos cinco anos de idade. Após os pódios da atleta em Paris, o telefone da iniciativa não para de tocar.
“O telefone não parava de tocar, não parava de vir pais querendo saber como fazia inscrições”, conta Mônica Barroso dos Anjos, 52, treinadora e uma das responsáveis pela Iniciação Esportiva. Ela identificou o talento de Rebeca.
Na última quinta-feira (1°), foram abertas 425 vagas para a iniciação na ginástica. Em menos de dois dias, todas foram preenchidas e já há 90 crianças na lista de espera. De acordo com a Prefeitura de Guarulhos, que mantém o programa, as inscrições são realizadas semestralmente.
Rebeca, claro, é referência para as meninas (de 4 a 12 anos) do programa, que funciona no ginásio Bonifácio Cardoso, localizado no bairro de Vila Tijuco.
Uma delas é Melissa de Assis, 9. A pequena ginasta conta que começou na modalidade após assistir Rebeca nas Olimpíadas. “Eu fiquei com muita vontade, e aí minha mãe me levou na ginástica da escola. A Mônica é treinadora lá. Ela me viu e me trouxe para a ginástica aqui.”
Adrielly Vitória, 10, passou por situação parecida. “Perguntei para a minha mãe: Posso fazer ginástica? Eu não quero balé, eu quero ginástica. Aí ela falou tá bom, vou colocar você. Eu fui fazer ginástica, a Mônica gostou de mim e me colocou na equipe.”
A treinadora conta que o projeto tem uma abordagem diferente em relação aos clubes tradicionais. A primeira é a massificação, voltada para a descoberta de novas atletas. Em seguida, há a integração com a iniciação esportiva voltada para a competição.
“Nós conseguimos manter [esses dois métodos], mas a maioria dos clubes não faz essa base. Geralmente, eles pegam as crianças mais ou menos prontas, que tiveram uma base anterior”, afirma ela.
O projeto é financiado integralmente com recursos da Prefeitura de Guarulhos. Mônica destaca a importância das verbas públicas, mas enfatiza a necessidade de parcerias com o setor privado. Ela diz que não se pode contar apenas com o surgimento de novas Rebecas para assegurar o apoio necessário ao esporte.
“Se o poder público e privado tivessem essa união, nós teríamos mais recursos. Eu espero que os empresários façam uma parceria com as prefeituras. Não só aqui em Guarulhos, mas em todas as outras prefeituras.”
Andréa Tomazin, mãe de Lorena, 10, elogia a iniciativa, mas diz que “algumas coisas precisam ser renovadas”. “Alguns aparelhos já são mais antigos. Recebemos algumas ajudas, que contribuem para a manutenção e andamento do projeto.”
As atividades são estruturadas em quatro níveis de desenvolvimento. No primeiro estágio, denominado oficina, as crianças têm o primeiro contato com o esporte, com treinos uma vez por semana. No segundo nível, a massificação, a frequência dos treinos aumenta para duas vezes por semana.
A penúltima fase, chamada pré-equipe, marca o início da participação das atletas em competições. Por fim, o último estágio é chamado de equipe, onde 15 atletas selecionadas treinam seis vezes por semana e participam de campeonatos de maneira regular.
Apesar de todas as pequenas atletas compartilharem o mesmo sonho de chegar às Olimpíadas e ganhar uma medalha, Mônica afirma que o projeto conta com avaliações periódicas de progresso. Caso não haja evolução, são sugeridos outros esportes.
“A partir do momento que uma criança entra aqui, ela ganha coordenação, força e flexibilidade. E leva isso para a vida toda, para um adulto saudável. Então quando ela chega em um outro esporte, ela vai ter uma vantagem.”
LUCAS LEITE / Folhapress