RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Principal executivo da Globo por décadas, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, levou estrelas e ex-estrelas do elenco da emissora à noite de autógrafos de seu livro ‘O Lado B de Boni’ na noite desta terça-feora (6). O lançamento aconteceu na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio, e até Regina Duarte, que mora em São Paulo e anda reclusa, apareceu por lá. Ela chegou cedo e aguardou na fila a sua vez de se aproximar do autor.
Durante essa espera de mais ou menos uma hora, a reportagem não viu nenhum colega de profissão se aproximar da atriz (ela diz que havia sido cumprimentada antes por algumas pessoas). A classe artística, comprovou-se ali mais uma vez, ainda tem reservas com Regina por causa de suas posições alinhadas à direita e pela devoção a Jair Bolsonaro, em cujo governo trabalhou por 74 dias, ocupando o cargo de secretária de Cultura.
À Folha de S.Paulo, a ex-“Namoradinha do Brasil” nega ressentimentos e repete várias vezes que anda numa fase ‘leve’. Sobre sua passagem pela política, é direta: “Foi uma experiência importantíssima, mas não repetiria”. A atriz afirma ainda não ter mágoas da Globo, onde trabalhou por 50 anos antes de largar tudo para aceitar o convite de Bolsonaro. Sobre um possível convite para uma novela, diz que não aceitaria. Ou melhor, “Quem sabe uma pontinha…”, disse a intérprete de Raquel na versão original de “Vale Tudo”, cujo remake vai ao ar em 2025, com Taís Araújo em seu lugar. Leia abaixo a entrevista com Regina.
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Pergunta – Qual a importância de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para você?
Regina Duarte – Boni é um grande amigo. Temos uma história de 60 anos …. Amor, gratidão, respeito e amizade. Foi ele quem me chamou para a Globo. Isso foi em 1969 e eu estava na TV Excelsior trabalhando na novela “Dez Vidas”. Ele me chamou numa quinta-feira, e na segunda, eu estava na Globo.
P. – Foi tranquilo para você essa mudança brusca?
R. D. – Não! Fiquei dois dias com febre de 40 graus, de nervoso. Muito chato deixar um trabalho no meio. Logo em seguida estreei em “Véu de Noiva” (Regina era protagonista da trama de Janete Clair). É muito bom ter alguém que acredite em você e que dê oportunidades. Você pode ter o maior talento do mundo, mas, se não olharem para você com amor e expertise…Dificilmente acontece.
P. – Alguma mágoa da Globo?
R. D. – Nenhuma. Fui bem feliz lá… Muitas oportunidades… Eu tive muita sorte também porque naquela época tinham outras grandes atrizes na minha faixa etária e eles acreditaram em mim. Foi uma relação de mão dupla e só tenho gratidão.
P. – Se te convidassem para uma novela na Globo, em outra emissora ou no streaming….
R. D. – (Interrompe) Sinceramente? Não. É um trabalho muito exaustivo e estou tão feliz sem poder ter que decorar textos e mais textos (risos). Para quem faz os papéis principais são calhamaços e calhamaços de textos… Quem sabe uma pontinha, uma aparição ou uma participação bem pequena?
P. – Então não voltaria?
R. D. – Não penso nisso. Estou muito feliz com o trabalho de colagens que ando fazendo. Me absorve numa paixão alucinante e tem sido um prazer enorme acordar cedo recolher os papelões nas ruas para fazer meus quadros de colagens botânicas, faço para chamar a atenção das pessoas sobre a importância da natureza. Também continuo pintando os meus quadros. Estou leve.
P. – Em um evento com vários colegas de classe, não vi nenhum deles se aproximar de você. Isso te deixa magoada?
R. D. – Alguns vieram falar comigo, sim. Não fico sentida.
P. – Nem um pouco chateada?
R. D. – Não. Sabe, querida… (para e respira). Estou leve e tenho certeza que foi uma experiência importantíssima, mas não repetiria. Foram 74 dias suficientes para me mostrar que não era nem é a minha praia. Absolutamente. Na verdade, tenho pena de quem frequenta essa praia. Não é fácil. Então, estou fora e feliz. Aprendi muito.
P. – Se arrepende de ter aceitado o convite de Jair Bolsonaro?
R. D. – Eu sempre tomei e tomo as minhas decisões. Sou muito aventureira e isso desde criança e todas as oportunidades na minha vida, encaro como um aprendizado e como uma experiência enriquecedora. Deu certo, vai me enriquecer em algum lugar e se deu errado também. Arrependimento? (para por alguns segundos) Não repetiria. Hoje, não aceitaria.
P. – Mesmo assim, você continua apoiando Bolsonaro.
R. D. – Sim. Bolsonaro, Bolsonaro e Bolsonaro. Se ele falar que cede para o Tarcísio, eu voto em Tarcísio.
P. – Vem aí o remake de “Vale Tudo”. Qual a sua expectativa
R. D. – Acho incrível. Quero muito ver e estou curiosa. Não tenho muito o que opinar sobre quem vai interpretar a Raquel, mas soube que pode ser a Taís Araújo e achei ótimo. Ela é muito boa.
ANA CORA LIMA / Folhapress