SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) declarou nesta sexta-feira (9) que é contra a legalização das drogas. Boulos foi questionado sobre o assunto durante entrevista em rádio a um programa evangélico, segmento que busca ampliar entre seu eleitorado e que em eleições recentes tem sido refratário a candidaturas à esquerda.
“No caso das drogas, minha posição não é legalização, minha posição é de resgate. Tem gente que só quer apontar o dedo, tem gente que quer botar o dependente químico na cadeia. Eu não acho que tem que ser por aí. Eu acho que a gente tem que estender a mão e resgatar [o dependente químico]”, disse o pré-candidato do PSOL.
Ele concedeu entrevista ao pastor evangélico Sezar Cavalcante, da rádio Musical FM.
A fala desta sexta difere de declarações anteriores do deputado federal. “Nós defendemos também o fim da guerra às drogas. É preciso descriminalizar as drogas no Brasil. É preciso legalizar a maconha. Como o Uruguai fez, Canadá fez, estados norte-americanos fizeram, como vários países europeus fizeram”, declarou à TV 247 durante as eleições de 2018, quando era a candidato a presidente também pelo PSOL.
Em encontro com movimentos de juventude naquele ano, o hoje deputado federal fez afirmação na mesma linha. “No caso da maconha, está claro em várias experiências internacionais que é possível legalizar com a regulamentação adequada sem prejuízo algum para a saúde pública”, segundo registrou o jornal Correio Braziliense.
Ainda dentro do tema, Boulos propôs na entrevista desta sexta que usuários químicos sejam atendidos dentro da cracolândia por psiquiatras e assistentes sociais e defendeu que internações compulsórias sejam fruto de decisão médica.
A reportagem procurou a campanha do deputado, que não se manifestou até a publicação deste texto.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos que buscam associar a esquerda à liberação das drogas, como fez ao longo da campanha eleitoral de 2022. Neste ano, o ex-mandatário apoia o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição em São Paulo e tenta colar no adversário a pecha de radical.
Durante o programa da Musical FM, Boulos ainda afirmou que “houve excessos” quando o MTST, movimento que ele coordena, depredou a sede da Fiesp durante manifestação na avenida Paulista, em 2016. “Não defendo manifestação violenta”, afirmou, dizendo que liderava um movimento de pessoas “humildes” que estavam “desesperadas”.
“O movimento sem-teto nunca invadiu a casa de ninguém […] pelo contrário, já deu casa para mais de 15 mil famílias ao longo dessa trajetória”, emendou, quando questionado sobre ser chamado de invasor.
Disse também: “O que o movimento defende é que a lei seja cumprida [que] imóvel que está abandonado seja desapropriado para moradia social”.
Sobre o aborto, defendeu a manutenção da lei atual, que prevê a interrupção da gravidez em casos de estupro, anencefalia ou risco à vida da gestante. “O que aconteceu recentemente no Congresso foi a tentativa de aprovar o que ficou conhecida como PL do Estupro, que era penalizar a menina estuprada [com] uma pena maior que o estuprador. Isso eu não posso aceitar e acho que nenhum cristão pode aceitar”, disse.
Ele acrescentou ainda na entrevista: “Sou cristão. Sou batizado, crismado, na Igreja Cristã Ortodoxa, tenho uma formação cristã na minha família, dos meus pais, tenho minha fé. O que não gosto, por isso não fico falando disso, é de político que tenta manipular a fé das pessoas em véspera de eleição para atacar os outros, fazer demagogia. Mas eu tenho minha fé”.
MARCOS HERMANSON / Folhapress