RIBEIRÃO PRETO, SP E GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – O aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, cidade no interior de São Paulo onde fica a sede da Voepass, viu um clima de tensão se alastrar entre os passageiros nesta sexta-feira (9) em que a queda de um avião de médio porte da companhia aérea deixou todos os seus 61 passageiros mortos em Vinhedo.
Um voo que sairia por volta das 14h20 com destino à capital paulista atrasou e decolou por volta das 17h. A reportagem apurou que o piloto e o copiloto que estavam escalados para a viagem não se sentiram confortáveis para voar e precisaram ser substituídos por outros profissionais.
A imprensa local também registrou grupos de passageiros que já estavam no aeroporto, mas não quiseram embarcar ao saberem da notícia, que começou a circular por volta das 13h30. Outro voo com destino ao aeroporto de Congonhas, previsto para as 18h45, foi adiado para as 20h.
Os funcionários do aeroporto afirmam que o atraso não se deve à queda do bimotor. Já a Voepass diz que não tem informações sobre o impacto do acidente nos demais voos operados pela companhia.
No fim da tarde, a reportagem conversou com a família de um passageiro que assistia à decolagem de um voo do lado de fora do aeroporto. Eles não quiseram se identificar, mas se disseram aflitos e contaram que seu familiar só não desistiu da viagem porque se tratava de um compromisso de trabalho inadiável.
Ainda no fim da tarde, uma funcionária da Voepass escoltava uma idosa, chorando, para fora do aeroporto. Elas não quiseram conversar com a reportagem.
A Voepass não divulgou à imprensa onde os pilotos e comissários da aeronave viviam, mas a sede e o principal aeroporto de operação da empresa é na cidade.
O último voo da Voepass com saída de Ribeirão Preto está marcado para as 20h45, com destino a Belo Horizonte. Não há previsão de atraso.
Os porta-vozes da empresa reconheceram que houve pilotos que não se sentiram confortáveis em seguir suas escalas e voar nesta sexta-feira, após o acidente. A direção da companhia diz que acolhe a decisão dos profissionais, que serão substituídos sem prejuízo à operação. A empresa não soube, no entanto, quantificar a quantidade de voos afetados pelo acidente.
VOOS SÃO CANCELADOS EM GUARULHOS
Na tarde desta sexta, dois voos da empresa que partiriam do aeroporto de Guarulhos para Presidente Prudente (SP) e Caxias do Sul (RS) foram cancelados.
Segundo uma funcionária da companhia, que preferiu não se identificar, os cancelamentos aconteceram porque as tripulações dos voos disseram não se sentir à vontade para operá-los logo após a tragédia. Procurada, a companhia disse não ter informações sobre eventual recusa da tripulação em voar. O motivo do cancelamento não foi informado.
Quando as notícias do acidente começaram a circular, o engenheiro clínico João Ferreira, 31, estava embarcado em uma aeronave do mesmo modelo da que sofreu o acidente e que já taxiava rumo à decolagem para Caxias do Sul.
“Ficamos uma hora embarcados, já estávamos taxiando na pista, até que anunciaram que o voo seria cancelado”, disse ele, enquanto tentava uma remarcação no balcão da Voepass.
O vendedor Washington Gabriel, 42, chegou ao aeroporto de Guarulhos vindo de Roma e aguardava uma conexão com a Voepass para Presidente Prudente, que também acabou cancelada após o acidente.
O vendedor disse que abriu mão de uma eventual remarcação do seu voo e preferiu seguir para Inúbia Paulista, onde mora, por terra. “Depois de 12 horas de voo, agora serão mais oito de estrada, além do tempo que ficamos aqui esperando. Só quero chegar na minha casa”, disse ele.
PEDRO MARTINS E GABRIEL JUSTO / Folhapress