SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio ao verde exuberante de uma área de eventos do hotel Rosewood, em São Paulo, Claudia Raia posava para fotos vestindo um conjunto de tecido plissado em tom salmão. Fazia sol e as centenas de convidados bebiam espumante, antes do meio-dia de uma segunda.
Era uma festa no início da semana, o desfile da coleção de verão 2025 da Neriage, marca sensação da moda brasileira conhecida pelos modelos plissados, as dobraduras semelhantes a pregas nos tecidos.
Com menos de dez anos de mercado, a Neriage começou como trabalho de faculdade e depois se tornou um segredo dos fashionistas, antes de crescer e ficar bastante influente.
Hoje, a etiqueta da estilista Rafaella Caniello está no guarda-roupas de personalidades das artes e da cultura, de globais, de influenciadores, da primeira-dama, Janja Lula da Silva, da deputada Erika Hilton, que estava no desfile, e dos interessados por moda autoral brasileira. Virou uma marca desejo.
Também pudera. As peças da Neriage vestem bem mulheres de todos os tipos de corpo, e o design, que tende ao minimalismo, empresta um ar elegante ao visual. Dá para usar um conjunto no mesmo tom, como fez Claudia Raia, ou então jogar um blazer sobre uma camiseta básica, por exemplo.
Na nova coleção, “Andrômeda”, além da tradicional paleta de tons pastel com que trabalha, a estilista mostrou looks em couro preto e marrom e em jeans azul desbotado.
As botas, feitas em parceria com a marca de calçados Manolita, traziam o cano alto até o joelho, tipo “femme fatale”, e as bolsas, criadas em colaboração com a Ryzi, pareciam vindas do espaço, com formas geométricas exageradas e tons prateados, meio caricato.
Caniello também trabalhou com a artista Regina Silveira, na obra de quem se inspirou para criar as estampas, sempre em preto e branco, da coleção. As modelos desfilaram roupas com ilustrações de óculos distorcidos, da conhecida série “Anamorfas” de Silveira, peças com motivos de janelas e outras com desenhos que lembravam a “Guernica”, de Picasso.
“Não é um desfile, é uma reunião de pessoas e ideias”, disse a estilista, chorando de alegria após a apresentação. “Faço roupas para as mulheres se vestirem como elas se sentem seguras e felizes. A ideia é causar emoção acima de tudo.”
A elegância da mulher imaginada pela Neriage é diferente da pensada por Cris Barros, marca da estilista de mesmo nome que apresentou o verão 2025 no seu showroom, um casarão no bairro do Jardim Paulista em que as peças eram mostradas em araras num ambiente que dava a sensação aconchegante de uma de sala de estar.
Barros, que completou agora 22 anos de marca, não define um público-alvo para a sua etiqueta como fazia no passado. Do alto de sua experiência, ela conta, sorridente, que diferentes gerações de uma mesma família vão juntas às suas lojas.
“As duas compram o mesmo blazer, mas a mãe compra com calça e a filha com uma regata ou um shortinho. Cada uma monta o seu look. A coleção é extensa e acaba falando com diversos públicos”, diz ela, antes de tirar da arara um vestido feito com uma mistura de tecidos que lembra juta.
Na coleção que chega às lojas nas próximas semanas, “Magicians of Life”, ou mágicos da vida, a estilista homenageou o que chama de mágicos do cotidiano –são artistas, arquitetos, cineastas e designers que deixam o dia dia mais encantador, mais colorido.
Zanine Caldas, o designer de móveis, inspirou os aviamentos da temporada, por exemplo. São botões de linhas retas criados em madeira e pó de mármore, usados para quebrar a seriedade de um terninho preto ou como ornamento de cintos dourados finos. Barros também trabalhou com a malaquita, que empresta seu verde hipnótico para os anéis.
Bordados florais aparecem em camisas e vestidos de festa, em roupas executadas com muita atenção aos detalhes. Também há peças mais versáteis e fáceis de combinar, como camisetas, alguma coisa em jeans e vestidos chemise listrados em tons náuticos para passar o dia à beira da piscina.
Com a marca em crescimento e lojas próprias em várias capitais, Barros quer estar sempre presente. Sua grife, afirma ela, “veste a mulher em diferentes momentos da vida”.
JOÃO PERASSOLO / Folhapress