Em condomínio onde avião caiu em Vinhedo, calmaria deu lugar a pânico e cenário de caos

VINHEDO, SP (FOLHAPRESS) – Paulistano da zona oeste da cidade, o engenheiro Eduardo Borges, 50, saiu da agitação de São Paulo para viver na calmaria de um condomínio de chácaras em Vinhedo –a cerca de 80 km da capital paulista.

Nos 10 anos em que vive no residencial Recanto Florido, onde a aeronave ATR 72-500 da Voepass caiu na sexta-feira (9), nunca experimentou qualquer resquício de perturbação, cenário que mudou completamente nos últimos cinco dias.

Borges, que ainda trabalha na capital, disse que nos últimos dias o condomínio lembra o cenário de um filme de ação. Bombeiros, Polícia Militar, Força Aérea Brasileira e uma aeronave em ruínas pintam o cenário de uma realidade antes impensável. “Nem eu nem qualquer outro morador desse lugar pensou em um dia acordar em um pesadelo como esse”, afirma.

Ele é conselheiro da associação formada por cerca de 150 moradores que vivem no bairro, que tem 50 propriedades. À reportagem, conta que a retomada está sendo difícil para todos. “As pessoas estão muito abaladas com que aconteceu. No dia do acidente, alguns vizinhos entraram em pânico. Eu mesmo acolhi a vizinha da propriedade onde o avião caiu, ela chorava muito”, lembra.

No residencial, apenas duas famílias estão fora de suas casas. Uma delas reside na propriedade onde os trabalhos de remoção dos destroços acontecem. A segunda vive no imóvel ao lado e, segundo informações de moradores, está muito abalada.

Segundo o secretário de Segurança Pública de Vinhedo, Osmir Cruz, há um grande número de residentes procurando a administração municipal em busca de atendimento psicológico e psiquiátrico. “É uma situação comum a vítimas de acidentes de elevada gravidade”, disse na segunda-feira (12), durante entrevista coletiva.

Situação que é confirmada por Borges. “Todos sentem muito, mas principalmente as pessoas que viram a cena. Algumas até viram corpos fora da aeronave. As únicas pessoas que nunca vão esquecer o acidente do ATR da Voepass são os familiares das vítimas e nós, que vivemos aqui”, diz.

A local onde a tragédia aconteceu fica no bairro Capela, por sua vez situado às margens da rodovia Anhanguera (SP-330). Trata-se de uma região composta por condomínios, em uma transição entre as últimas ruas da área urbana e uma estrada que leva à zona rural.

Vinhedo tem se consolidado nos últimos anos como uma cidade dormitório, procurada por pessoas que trabalham em São Paulo, mas buscam mais qualidade de vida. A opção pelo município, que tem pouco mais de 76 mil habitantes, se dá em função de sua posição geográfica, beneficiada por fácil acesso às rodovias Anhanguera e Bandeirantes (SP-348) –o que facilita o acesso à capital.

A cidade é formada por dezenas de condomínios de alto padrão.

“Aqui sempre foi um lugar de muita tranquilidade, e em nenhum momento achamos que isso seria ameaçado”, conta Angélica Medeiros, 43, que mora a cerca de 300 metros de onde o acidente aconteceu.

“Pelo raio que o avião parecia ocupar com o movimento dele, cada morador achou que ia cair sobre sua casa. Eu e outros moradores corremos para tentar ver se havia algum sobrevivente, foi quando houve a explosão e tivemos certeza que ninguém havia sobrevivido”, diz Borges ao reconstituir as cenas de terror que os moradores viveram.

Até a noite desta terça-feira (13), seguia no local o trabalho de triagem dos pertences das vítimas –que havia sido interrompido após novos restos mortais terem sido encontrados no local, o que exigiu o retorno da perícia.

Durante todo o dia, os moradores evitaram falar com jornalistas em frente à portaria. No local ainda havia técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidente Aeronáuticos) e da Polícia Científica, além de agentes da Defesa Civil municipal.

Uma empresa contratada pela Voepass irá remover os destroços da aeronave assim que a retirada dos pertences for concluída pela seguradora.

Moradores prometem realizar um ato ecumênico em homenagem às 62 vítimas no próximo sábado (17), se houver uma autorização das autoridades. A cerimônia será realizada em frente ao residencial para que qualquer um possa participar, inclusive familiares das vítimas e imprensa.

A expectativa é que nesta quarta-feira (14) comece a remoção dos destroços.

LUIS EDUARDO DE SOUSA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS