SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,37% nesta quarta-feira (14), aos R$ 5,469, em meio à divulgação dos dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos.
A sessão interrompeu a sequência de seis valorizações consecutivas do real, que levou o dólar de R$ 5,739, na segunda-feira da semana passada (5), até R$ 5,448 no fechamento de ontem.
Já a Bolsa brasileira avançou 0,69%, aos 133.317 pontos, o maior patamar desde 27 de dezembro do ano passado, quando atingiu a máxima histórica de 134.193 pontos.
Os investidores analisaram de perto o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), divulgado pela manhã, em busca de sinais sobre os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos.
Principal dado da semana para os mercados globais, o indicador subiu 0,2% no mês passado, depois de cair 0,1% em junho. Em 12 meses, ficou em 2,9%, ante 3,0% da leitura anterior.
O resultado mensal veio em linha com as projeções de analistas consultados pela Reuters; no comparativo anual, a expectativa era por 3,0%.
Os números favorecem o argumento de que a inflação dos Estados Unidos está arrefecendo -e em um ritmo gradual, afastando os temores de recessão que derrubaram Bolsas pelo mundo na semana passada.
“Nós não projetamos uma recessão e, sim, um pouso suave (da economia norte-americana)”, afirmou o economista-chefe Suno Research, Gustavo Sung. O foco agora é sobre como o ritmo inflacionário poderá ditar as próximas decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Agentes financeiros dão como certo o início do afrouxamento da taxa de 5,25% e 5,50% na próxima reunião de política monetária, em setembro, mas, até esta manhã, a magnitude do corte era incerta. As apostas medidas pela ferramenta CME Group FedWatch projetavam chances praticamente iguais de redução de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.
Com o CPI, o de 0,25 ponto se tornou a aposta majoritária, endossada por 62,5% dos operadores.
Na terça-feira, a inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) já havia fornecido certo otimismo ao vir abaixo do esperado. O índice avançou 0,1% em julho, ante projeção de 0,2% de economistas consultados pela Reuters.
Em tese, quanto mais o banco central dos EUA reduzir os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos atrativo frente a outras moedas quando os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro, chamados de Treasuries, caem.
No entanto, a moeda norte-americana fez o movimento contrário nesta sessão.
“Os números da inflação norte-americana poderia trazer alívio às moedas emergentes já que a variação do CPI veio em linha com a mediana do mercado, mas a sequência de valorização da moeda brasileira torna um novo movimento de valorização um pouco mais difícil”, explica André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.
Houve ainda o peso da economia chinesa na conta. Os contratos futuros do minério de ferro voltaram a ficar abaixo dos US$ 100, com perdas de mais de 3% na Bolsa de Dalian.
“Existe um temor rondando o mercado financeiro, renovado a cada ano, é verdade, de que a economia chinesa cresça em um ritmo menos intenso, o que comprometeria a demanda global por commodities, sobretudo as que estão ligadas ao ciclo econômico”, diz Galhardo.
Isso afetaria países de economias fortemente ligadas a matérias-prima, como a brasileira.
Na cena doméstica, ainda segue no foco a percepção crescente de que o BC (Banco Central) deve manter a taxa Selic no atual patamar de 10,50% ao ano ou até mesmo elevá-la antes do final de 2024.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados na terça-feira, Roberto Campos Neto, presidente da autarquia, afirmou que o BC tenta “manter a taxa de juros o mais baixa possível fazendo a inflação convergir para a meta”.
A autoridade monetária trabalha com a meta em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Na leitura de julho do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o resultado anual veio em 4,5% -exatamente no limite da banda.
O presidente do BC disse que o combate à inflação tem avançado, mas “é preciso perseverança nesse trabalho”, justificando que a desinflação tem arrefecido e as expectativas encontram-se desancoradas.
No fim de julho, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros inalterada pela segunda reunião consecutiva.
A decisão foi unânime, com alinhamento dos votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo Gabriel Galípolo -favorito a assumir o comando da instituição em 2025-, e o próprio Campos Neto.
Ao justificar a opção por manter a taxa de juros inalterada, o Copom adotou um tom mais duro no comunicado. Enfatizou a necessidade de “maior vigilância” e destacou que as conjunturas doméstica e internacional demandam um “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
A taxa de juros e a atuação do BC vem sendo alvo de críticas do presidente Lula desde o início do atual governo. O petista atacou Campos Neto diversas vezes, chamando-o o de “cidadão”, e chegou a questionar se ele possui interesses próprios em uma Selic elevada.
Nesta quarta, Lula afirmou que abaixar os juros é uma “briga eterna” e que, “mesmo se o juro for zero, se o cara não tiver dinheiro, ele não vai consumir”. “O importante é a circulação do dinheiro”, disse.
No Ibovespa, os investidores repercutiram a última bateria de balanços corporativos. Localiza derreteu 16,84%, após reportar prejuízo líquido de R$ 569,6 milhões no segundo trimestre, além de projetar a depreciação de veículos nos próximos três meses.
Raízen teve queda de 4,13%, em meio ao prejuízo de R$ 6,9 milhões.
Vale perdeu 0,92%, com a desvalorização do minério de ferro na China. Já a Petrobras, a segunda maior empresa do Ibovespa depois da mineradora, avançou 1,75%, em linha com o petróleo no exterior.
Cemig disparou 7,84%, com o balanço do segundo trimestre mostrando lucro líquido recorrente de R$ 1,13 bilhão.
JBS ganhou 6,99%, após lucro líquido de R$ 1,72 bilhão no segundo trimestre, revertendo um prejuízo registrado um ano antes.
Na terça-feira, o dólar fechou em queda firme de 0,90% na terça-feira, aos R$ 5,448, e a Bolsa avançou 0,98%, aos 132.397 pontos, maior patamar de fechamento desde 8 de janeiro.
Redação / Folhapress