SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É comum que pessoas com deficiência física com repercussão na parte inferior do corpo tenham os pés com tamanhos, formas e sensibilidade diferentes dos convencionais. Isso dificulta e, em parte dos casos, inviabiliza, o uso de calçados leves no dia a dia. De olho nisso, e aproveitando a onda paralímpica, um inédito chinelo inclusivo chega ao mercado nos próximos dias.
Desenvolvido pelas Havaianas, com colaboração de ideias, sugestões e testes de um grupo de atletas paralímpicos, com diferentes condições físicas, as sandálias foram gestadas por cerca de três anos e passaram por vários testes antes de serem lançadas. O Comitê Paralímpico Brasileiro, parceiro da iniciativa, recebe patrocínio da marca desde os Jogos de Tóquio, em 2020.
O calçado tem solado de borracha injetada, tida como mais macia que a tradicional, conta com uma ponteira para auxiliar quem tem menos precisão de movimentos a ajustar o chinelo nos pés, assim como uma pequena alça na parte de trás e uma tira que rodeia o calcanhar. Os itens ajudariam a dar mais firmeza e precisão, inclusive, para quem usa prótese.
Os tecidos escolhidos para as sandálias prometem ser respiráveis e suaves, o que reduziria o atrito, diminuindo chances de ferir peles mais sensíveis ou sem sensibilidade. O visual dos chinelos, porém, não remete a um calçado específico, podendo ser usado por qualquer pessoal.
“Trazer pessoas diversas para trabalhar na construção desse produto, junto com os designers, foi um grande acerto. Quando eu era criança, minha avó colocava um elástico atrás do chinelo, para ele parar no meu pé. Ela usou até uma alça de sutiã para fazer a adaptação. A partir dessa minha experiência, adotou-se a alça no calçado [inclusivo], que ficou confortável e funcional”, afirma Edênia Garcia, detentora de três medalhas paraolímpicas na natação.
Segundo Edênia, que está entre os 279 atletas brasileiros nos Jogos de Paris que começam a partir de 28 de agosto, o calçado ficou moderno, inclusivo e de bom gosto.
“Ficou muito bonito. Não ficou algo específico para pessoas com deficiência. É funcional para todo mundo. Atende ao máximo de corpos, de pés. Os designers acertaram muito na ‘boniteza’.”
A Havaianas, marca presente em 130 países, não revela o quanto investiu na iniciativa, mas vai colocar o produto à venda nacionalmente em suas lojas físicas e digitais por R$ 149,99, em numeração 35/6 a 45/6.
“Não é uma ação de marca ou de vendas. É uma ação de civilidade, de fazer o certo. Faz sentido para o DNA da marca, para o brasileiro. O comitê [paralímpico] vai receber 7% do valor das vendas para melhorias e incentivos”, declara Maria Fernanda Albuquerque, vice-presidente de marketing global da Havaianas.
Além dos testes realizados dentro da empresa, o Ibetc (Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos) colocou à prova a segurança, o conforto e a resistência do produto e o atestou, de acordo com Havaianas.
“Percebemos uma vontade dos atletas, desde pequenos, de usarem [chinelos] havaianas para fazerem parte, como os amigos deles, como todo brasileiro. Mas havia dificuldade de encaixar no pé. Isso nos tocou muito. Fizemos uma conexão grande com eles, foram muitos testes. Estamos orgulhosos de por alguns deles entrarem na abertura dos Jogos com ele”, diz a executiva da marca.
Em princípio, os chinelos serão disponibilizados apenas no Brasil, mas a empresa diz que suas fábricas estão preparadas para aumentar a produção de forma rápida havendo demanda internacional.
JAIRO MARQUES / Folhapress