SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que poderia unir personagens como Carrie Bradshaw, de Sex and the City, Serena van der Woodsen e Blair Waldorf, de Gossip Girl, e Emily Cooper, de Emily em Paris? Para além dos desencontros amorosos, a entrega de looks icônicos.
Se por um lado, Carrie, nos anos 1990, tinha um estilo marcado pela ousadia e experimentação; Serena, nos anos 2000, foi uma das responsáveis por popularizar a estética “boho-chic”, e sua amiga, Blair, com seu guarda-roupa mais clássico, era adepta do que hoje a geração Z chama de “old money” ou estilo de herdeira. As personagens são resgatadas hoje pelos mais jovens, que, além de recriar seus looks, também debatem sobre suas personalidades no TikTok.
Emily, que surge em 2020, por sua vez, sustenta looks maximalistas, que podem até ser definidos como “camp” termo que estabelece uma linha tênue entre o extravagante e o cafona e que foi popularizado pelo Met Gala de 2019.
Assim como suas antecessoras, “Emily em Paris” tem conquistado a geração Z não só pela sua trama leve e divertida, mas sobretudo pelas suas composições de moda super elaboradas e nada óbvias. O que separa, no entanto, Emily de Carrie, Serena e Blair estas novaiorquinas é um oceano. A personagem, que também é americana, se muda para Paris e vive toda sorte de desilusões amorosas por lá.
Na quarta temporada, que estreia nesta quinta-feira (15) na Netflix, Lily Collins vive a protagonista que se prepara para experienciar triângulos amorosos, salvar marcas luxuosas do mercado de moda com ideias mirabolantes e proporcionar looks icônicos andando pelos principais pontos turísticos da cidade.
A grande responsável pelo lado fashionista da série é a figurinista Marylin Fitoussi, que traz do seu estilo pessoal o mix de estampas, a combinação de diferentes tecidos e texturas, e o abuso de acessórios que marcam a estética de Emily.
“Quando morava em Paris, as pessoas me chamavam de palhaço, de papagaio. Nunca disse ou pensei que iria vestir Emily como eu, que amo estampas e cores, que sou maximalista. Amo também a mistura do vintage com marcas de luxo e marcas acessíveis. Era apenas normal que meu estilo passasse um pouco para o estilo dela”, diz Fitoussi.
Ela acredita também que o fato de Collins comprar suas ideias e segurar os looks propostos foi fundamental para a viralização deles.
“Estávamos discutindo na primeira temporada e eu perguntei: você quer, depois de três episódios, se vestir como uma parisiense entediante? Ela disse: não, não. quero ser forte, pensar fora da caixa. Ela mantém sua personalidade. E eu realmente amo isso. Amei muito Lily porque ela foi ousada o suficiente.”
Mesmo assim, a figurinista não esperava tamanha repercussão nas redes sociais em torno da série. Há até uma demanda para saber a origem de cada uma das peças de roupa, que podem ser emprestadas de grandes grifes, garimpadas em brechós ou encontradas em pequenas marcas.
“Quando começamos o programa há cinco anos, eu nunca poderia imaginar que se tornaria viral. Acho que as pessoas amaram porque de alguma forma dizia não seja escravo das tendências, seja seu próprio designer, vista-se para agradar a si mesmo, tenha seu próprio estilo”, afirma Fitoussi. “Se você gosta de usar brilhos às 9h da manhã, sinta-se à vontade. Onde está a polícia da moda que não permite que você se vista como quiser?”
A nova temporada da produção estreia mesmo após uma onda de protestos de parisienses contrariados com o retrato caricato e fútil que a série faria dos moradores da capital francesa. Fitoussi, entretanto, parece não se incomodar com as críticas.
“Quero que o público fique surpreso, seja positivamente ou negativamente. Isso não me incomoda. Se eu correr riscos, acho que as pessoas vão perceber. Pelo menos não é um programa comum de se assistir. Ainda é interessante, mesmo que você queira discutir se é bonito ou não. Mas é algo diferente. E precisamos disso. Precisamos desse toque de mau gosto.”
A fórmula de sucesso dos figurinos na quarta temporada segue a mesma: mais é sempre mais. Um dos looks de Emily, que mistura padronagens e cores vibrantes, inclusive, já estava viralizado antes mesmo da estreia. O cardigã rosa, assinado por Jacquemus, com o conjunto estampado verde floral composto por blusa e short, da Philosophy Di Lorenzo Serafini, serve como referência para peças mais baratas encontradas em fast fashions.
Assim como “Sex and the City” é um ícone da moda 26 anos depois ou “Gossip Girl”, 17 anos após sua estreia, Fitoussi espera que o mesmo aconteça com “Emily em Paris”. “Quero manter esse programa atemporal. Quero que as pessoas, daqui a 20 anos, não consigam dar uma data precisa ao programa.”
NADINE NASCIMENTO / Folhapress