De Rosalía a Luan Santana, como cantores criam shows para viralizar na internet

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Luan Santana construiu uma redoma e a cobriu com projeções de temas espaciais para fazer um show e gravar seu DVD “Luan na Lua”, na Grande São Paulo, em julho. A sensação de ver o sertanejo cantar sobre a superfície lunar representou um passo além de uma tendência cada vez mais popular entre as superestrelas da música –a de investir em cenografia para fazer as apresentações viralizarem nas redes sociais.

Quando Jão estreou sua “Superturnê” em janeiro, por exemplo, a cenografia já era motivo de especulação dos fãs havia dias. Eles compartilhavam fotografias e vídeos das montagens do palco, que tinha um enorme dragão cenográfico e uma passarela que se estendia para o gramado.

Os palcos não deixaram a desejar para as turnês de estrelas internacionais, como a “The Eras Tour”, de Taylor Swift, e a “Renaissance Tour”, de Beyoncé. Os shows de Swift se tornaram um fenômeno digital quando os fãs se desafiaram a encontrar elementos- surpresa das diferentes fases da cantora na cenografia.

Antes disso, a espanhola Rosalía, em sua “Motomami World Tour”, surpreendeu o público com um cinegrafista que a seguia de cima do palco, durante a apresentação toda, para exibir as filmagens em dois telões verticais gigantes fixados nas laterais da arena. Os passos pareciam coreografados para se encaixar nas telas verticais dos celulares.

O cenógrafo Kley Tarcitano diz que o interesse dos artistas brasileiros em shows elaborados para repercussão na internet disparou nos últimos anos. O artista, que dirigiu turnês de Jennifer Lopez e Katy Perry e trabalhou com o Grammy Latino e o Super Bowl, tem mais clientes nos Estados Unidos, onde vive há cerca de 15 anos, mas começou a atender brasileiros agora.

Ele fez o show de Anitta no festival Coachella, nos Estados Unidos, e tam bém os últimos dois DVDs de Luan Santana. Para o sertanejo, ele construiu o cenário de uma cidade futurista que serviu de ambientação tanto para os shows quanto para os clipes que o cantor gravou para suas redes sociais.

“O que está no vídeo é o que vai ficar para sempre. Com as redes, o alcance é maior do que com a televisão”, diz Tarcitano. “Antes, a preocupação era com o que estaria nos dois lados do palco, na horizontal, e hoje é o que vai estar em cima e embaixo do artista, na vertical.”

Lucy Bennett, professora de jornalismo, mídia e cultura da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, pesquisa o comportamento de fãs durante apresentações ao vivo desde 2012. Ela diz que, nos últimos anos, os shows se estenderam para muito além da plateia à frente do artista, com fãs que transmitem apresentações inteiras, ao vivo, em suas redes.

A transmissão atende aos fãs que não conseguiram ir ao show e assim podem ver a apresentação de casa, ao mesmo tempo em que promove os artistas. “Ingressos são muito caros, então o público tem de se sentir atraído para querer comprar. Vídeos criados por fãs podem demonstrar o impacto emocional do show mais do que um vídeo oficial.”

A estrategista criativa Elisa Gijsen conta que foi pensando nisso que Ludmilla a contratou para dirigir seu show no último Rock in Rio, há dois anos.

A apresentação, que custou cerca de R$ 3 milhões, alterou toda a estrutura do palco Sunset, para acomodar uma escada central que serviu de plataforma para a banda e os dançarinos, além de telões e luzes que mudavam a cada faixa. “Cada vez que a pessoa apontava o celular para documentar o show, ela poderia capturar uma imagem diferente. Foi muito estimulante visualmente”, ela afirma.

O show de Ludmilla ficou entre os assuntos mais comentados do X, o novo Twitter, por horas.

Gijsen conta que aprendeu num projeto com a artista Marina Abramovic, um dos nomes mais importantes da história da performance, a importância do registro. “Além da experiência da performance, é essencial pensar no resultado visual que sairá daquilo. Marina é contratada para fazer a performance, mas ganha dinheiro com fotos e vídeos.”

Por outro lado, a sustentabilidade financeira de megashows preocupa os produtores. Kley Tarcitano diz que no Brasil é caro e difícil alugar essas estruturas. “Muitas peças ainda não existem aqui e têm que ser alugadas de fora”, diz o cenógrafo, que usou o mesmo elevador de Beyoncé na “Renaissance Tour” para o show que Ivete Sangalo fez no estádio do Maracanã em dezembro. “Para artistas menores pode ser mais difícil, e a conta acaba não fechando.”

Gijsen diz que o alto preço pago pelos artistas –e consequentemente pelo público– vale pelo retorno midiático e que, no futuro, o investimento deve ir além, com sensores de pressão, temperatura e movimento, para proporcionar uma interação ainda mais especial entre o artista e o público no mundo de carne e osso.

“A ideia é engajar as pessoas cada vez mais nos shows, romper a barreira entre artista e fã de alguma forma e transformar aquele acontecimento ao vivo em notícia”, afirma a diretora. “Sempre estamos pensando em qual é o ápice dessa experiência, qual o momento que vai viralizar e gerar a grande oportunidade de compartilhamento.”

AMANDA CAVALCANTI / Folhapress

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