Americanas não tem trégua, Lula fala sobre isenção do IR e o que importa no mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Americanas revela prejuízo bilionário, e ações despencam a 14 centavos, Lula fala em isentar PLR de imposto de renda e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (16).

**AMERICANAS EM QUEDA. DE NOVO**

O advogado pernambucano Inácio Melo Neto, maior acionista da Americanas, não mudou sua estratégia depois do prejuízo bilionário revelado nesta semana.

As ações despencaram 57% no pregão de ontem, mas o investidor decidiu ampliar sua fatia do patrimônio da empresa, agora em torno de 12,5%.

PERDAS

As ações de Inácio valiam R$ 70 milhões em 15 de julho, momento em que alcançou o primeiro lugar na lista de investidores. Ele conversou com a Folha na época e disse acreditar na recuperação.

Com a queda recente, todos os seus papéis, incluindo os novos aportes, caíram dos R$ 70 milhões para apenas R$ 17 milhões em um mês.

MUITA FÉ

“Eu considero que o prejuízo está controlado”, disse Melo Neto nesta quinta-feira (15) à repórter Daniele Madureira. Ele reafirmou que acredita na companhia.

Membro de uma família tradicional de Olinda, Melo Neto comanda instituições de ensino e foi vereador em Recife de 2008 a 2012.

Ele se diz fã dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira, Marcel Telles, acionistas de referências da empresa.

“Os homens mais ricos do Brasil não fariam um aporte de R$ 12 bilhões em um mau negócio”, disse à Folha de S.Paulo.

“PREJU”

A Americanas, em recuperação judicial desde a fraude contábil de R$ 25 bilhões revelada em janeiro de 2023, registrou um prejuízo de R$ 2,3 bilhões no ano passado.

Apesar do rombo, o número é bem inferior às perdas de R$ 12,2 bilhões de 2022, último ano da gestão investigada pela fraude.

RELEMBRE

Membros da antiga administração são investigados por mascarar dívidas com fornecedores nos balanços. Isso ajudava a valorizar as ações no mercado porque indicavam uma saúde financeira melhor.

A Americanas demitiu, fechou lojas e propôs uma reestruturação no último ano. São R$ 42 bilhões em dívidas, em renegociação com grande bancos, como Santander e BTG Pactual.

Uma operação da Polícia Federal retomou o caso em junho. Foram cumpridos mandados de busca, apreensão e até de prisão contra o ex-CEO, Miguel Gutierrez.

ALTO RISCO

A Folha de S.Paulo revelou na noite que ontem que executivos da empresa tentaram segurar o impacto negativo do escândalo sobre o preço das ações no ano passado.

Eles pressionaram as agências de rating S&P, Moody’s e Fitch, que fazem análises financeiras sobre empresas e países para basear a decisão de investidores.

Mensagens de WhatsApp trocadas por executivos poucos dias após a revelação da fraude indicam uma tentativa de ganhar tempo.

A Americanas teve sua nota rebaixada nos dias seguintes.

TUDO NOVO

A gestão atual afirma que começa a colher alguns resultados positivos, mesmo que investidores não vejam as coisas assim e tenham levado à queda das ações em mais de 50% nesta quinta-feira.

A melhora no prejuízo foi resultado de uma distribuição mais eficiente de produtos nas lojas físicas e negociações mais próximas com fornecedores.

O presidente Leonardo Coelho descreveu o quadro como o de uma empresa menor, essencialmente do varejo físico.

As novas apostas são venda de guloseimas, cosméticos, utilidades domésticas e brinquedos.

**BOEING QUER VOLTAR AO TOPO**

Com um novo CEO no comando, a fabricante de aviões Boeing quer recuperar a liderança do mercado. Mas Kelly Ortberg, que assumiu a empresa americana há poucas semanas, terá obstáculos consideráveis pelo caminho.

RELEMBRE

Sua principal concorrente, a europeia Airbus, alcançou um marco histórico há quatro anos: seus aviões superaram, pela primeira vez, os da Boeing em número de voos ao redor do mundo.

As duas gigantes formam um duopólio no mercado de aviões de passageiros. Em número de vendas, a europeia já havia superado a americana em 2019.

Desde então, a Airbus alcançou 64% do mercado de aviões “single-aisle” (de um corredor só), os mais procurados na aviação.

NÃO FALTAM CLIENTES

O alento para os investidores é que a Boeing não sofre com falta de encomendas, pois as companhias aéreas sempre precisam renovar suas frotas.

MAS…

Ela ainda enfrenta as consequências de acidentes fatais envolvendo o modelo 737 Max na Indonésia, em 2018, e na Etiópia, em 2019, além de um incidente este ano, quando um painel se soltou de um avião em pleno voo.

Os eventos resultaram em uma rigorosa investigação e forçaram a empresa a revisar seus processos de fabricação e cultura interna. Os 737 Max ficaram quase dois anos no chão. Voltaram a ser produzidos e vendidos, mas com restrições.

O prejuízo foi de US$ 1,4 bilhão (R$ 7,86 bilhões) no segundo trimestre.

EM MEIO A ESSE CENÁRIO…

A linha A321 da Airbus ganhou mercado. Autoridades europeias aprovaram recentemente o modelo de grande porte A321 XLR, que já tem 500 encomendas e pode atrapalhar mais a Boeing.

Apesar de estar à frente, a europeia também enfrenta atrasos na entrega de motores e outras peças, que impactam sua produção.

O resultado é uma escassez de aviões, devido a gargalos na cadeia de produção.

Oportunidade para a Embraer? Talvez.

O domínio das duas empresas deve continuar, como destaquei nesta edição da newsletter. Elas acumulam uma fila de encomendas de 15 mil aviões, com entregas previstas até o fim da década.

Mesmo assim, analistas de mercado veem a brasileira Embraer e a chinesa Comac como potenciais concorrentes, especialmente em modelos específicos.

Sediada em São José dos Campos (SP), a Embraer é líder mundial no segmento de aviões comerciais de pequeno porte, com perspectivas positivas. Ela tem sido mais procurada por companhias aéreas e forças armadas de países.

A empresa confirmou recentemente que estuda construir aviões maiores. A necessidade de investimentos, porém, seria grande. Hoje, tem uma receita que é menos de 10% da obtida por cada uma das rivais.

Faturamento em 2023:

– Boeing: US$ 77,8 bilhões (R$ 426,6 bilhões);

– Airbus: US$ 65,4 bilhões (R$ 358,5 bilhões);

– Embraer: US$ 5,2 bilhões (R$ 28,5 bilhões).

**PLR ISENTA DE IMPOSTOS?**

O presidente Lula disse nesta quinta-feira (15) que espera pôr fim ao imposto de renda cobrado sobre os valores pagos aos trabalhadores nas PLRs (Participação de Lucros e Resultados). A isenção atual vai até R$ 7.400.

O projeto de isenção foi aprovado em comissão da Câmara dos Deputados em 2023, mas segue emperrado. Ele foi aprovado primeiro no Senado.

Como os valores são incluídos na folha salarial, sofrem a mesma cobrança de imposto de renda que a remuneração tradicional, com retenção na fonte.

“Só estou esperando a oportunidade para que a gente possa dar o bote e aprovar o fim do imposto de renda para o PLR”, disse Lula em visita à fábrica da Renault no Paraná.

ENTENDA

A PLR é uma forma de premiação, mas que depende de determinados resultados definidos pelas empresas e é oferecida aos funcionários.

Todos os trabalhadores em regime CLT têm direito a receber, mas o pagamento só é obrigatório em caso de acordo ou convenção coletiva.

Ela costuma ser usada pelas empresas como diferencial para atrair talentos e incentivar o alcance das metas.

MENOS IMPOSTO

O presidente da República aproveitou para reiterar seu compromisso de isentar do imposto de renda os trabalhadores que ganham até R$ 5.000, promessa feita na campanha de 2022. Hoje, a isenção abrange salários de até R$ 2.824,00.

↳ A mudança, no entanto, envolve grande renúncia fiscal, o que atrapalharia o compromisso do governo de manter as contas públicas equilibradas.

SIM, MAS…

Uma alternativa apontada por especialistas para compensar os R$ 5.000 isentos no “Leão” seria a cobrança do imposto sobre dividendos, numa espécie de troca.

Lula criticou essa isenção no mesmo discurso, mas não deu detalhes sobre reformas.

A mudança é vista como impopular, mas deve avançar numa futura etapa de reforma tributária, focada na renda e patrimônio, prometida para até o fim do ano.

**PARA ASISSTIR: “REVOLUÇÃO AGRO”**

YouTube, documentário de Belo Leme (1h09min)

A agropecuária foi um dos motores que levaram o PIB do Brasil a superar expectativas nos últimos anos.

O país lidera as vendas mundiais de alimentos como soja, café, açúcar, milho, carne bovina e suco de laranja.

Exportações agrícolas somaram recorde de US$ 166,5 bilhões (R$ 913 bilhões) em 2023.

O documentário mostra como esse crescimento foi baseado no investimento em tecnologia. A nova geração de produtores rurais tem apostado em ferramentas para aumentar a produtividade, com uso, por exemplo, de drones e inteligência artificial.

“Revolução Agro” percorreu regiões tradicionais do agronegócio, como o interior de São Paulo, Uberlândia (MG) e Londrina (PR), e traz entrevistas com fundadores de startups, pesquisadores e especialistas em tecnologia agrícola.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

PETROBRAS

Petrobras vai gastar R$ 870 milhões para reabrir fábrica de fertilizantes que acumula prejuízos. Em cerimônia nesta quinta, Lula voltou a criticar paralisação de obras da Lava Jato e disse que estatal é ‘indústria de desenvolvimento’.

COPOM

Lula avalia anúncio em bloco de nomes para diretoria do BC, incluindo Galípolo na presidência. Se aprovados pelo Senado, indicados do petista serão maioria entre membros fixos do Copom.

ENERGIA LIMPA

Toyota aposta em modelos híbridos à medida que demanda por veículos elétricos diminui. Empresa está se preparando para converter a maior parte da linha Toyota e Lexus para modelos exclusivamente híbridos.

PÚBLICO

Aposentados brasileiros em Portugal lutam contra taxação de 25% do Imposto de Renda. Percentual cobrado pela Receita Federal do Brasil é o mesmo para todos os brasileiros que vivem no país europeu.

VICTOR SENA / Folhapress

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