BRASÍLIA, DF, PORTO ALEGRE, RS, E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta sexta-feira (16) o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmando que ele deveria agradecê-lo pelas ações do governo federal destinadas ao estado.
“Eu às vezes fico incomodado, porque o governador nunca está contente com as coisas. Ele deveria me agradecer um dia: ‘Lula, obrigado pelo tratamento que você esta dando ao Rio Grande do Sul, porque o Rio Grande do Sul nunca foi tratado assim”, afirmou o presidente.
Lula na sequência afirmou que o seu antecessor Jair Bolsonaro (PL) não tratou o Rio Grande do Sul com respeito e não realizou obras no estado.
Lula concedeu entrevista para a Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira (16). O presidente está no Rio Grande do Sul para compromissos, como lançamentos e inaugurações do programa Minha Casa Minha Vida.
Durante a cerimônia de entrega de moradias, Leite respondeu às críticas feitas pelo presidente na entrevista. O governador destacou que o estado enfrentou as consequências do déficit fiscal, duas secas consecutivas, a pandemia de Covid-19 e agora os impactos da enchente.
“O povo gaúcho não é mal-agradecido, não é ingrato, agradece todo o apoio que recebeu da sociedade e do seu governo. Mas também sabemos o que é de direito da população e do estado”, afirmou Leite.
O governador também disse que houve uma demora no repasse de verbas. “O recurso não chegou integralmente na ponta porque diversas amarras ficaram no meio do caminho”, disse.
Em seu discurso, Lula afirmou que possuía números sobre a atuação do governo no estado, mas que decidiu guardá-los para apresentar em uma reunião com o governador. Afirmou, porém, que os seus governos e o da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foram os que mais fizeram pelo estado.
O Rio Grande do Sul enfrentou no primeiro semestre uma forte enchente que deixou pelo menos 179 mortos e deixou inundadas cidades praticamente inteiras.
Durante as ações de enfrentamento, o presidente repetiu diversas vezes que era necessário e que ele iria trabalhar de maneira harmônica. Lula e Leite estiveram reunidos em vários momentos durante a crise, buscando sinalizar uma sinergia no trabalho.
No início da cerimônia desta sexta, o governador foi apresentado sob gritos de “fora Leite” pela militância petista no local. Lula então repetiu um gesto feito em outros estados nos quais o governador é da oposição e pediu ao público que respeitasse a presença do tucano no evento.
“Ele é o nosso convidado. O governador disputou e ganhou as eleições. Lamentavelmente é assim a vida. Eu perdi em São Paulo quatro eleições para o [Geraldo] Alckmin, ele é meu vice-presidente hoje e estamos convivendo muito bem”, continuou.
Em seu pronunciamento, Leite falou que no passado também foi criticado pela “claque” do ex-presidente Jair Bolsonaro e disse que é vaiado pelos grupos dos dois lados.
A resposta veio logo na abertura do discurso de Lula. “Se o outro presidente trazia claque para te vaiar, quem está aqui são trabalhadores”, disse, sob aplausos.
O evento, porém, também foi marcado por sinais de aproximação entre as duas partes, que sentaram lado a lado e conversaram durante a cerimônia.
Leite afirmou que os empreendimentos do Minha Casa Minha Vida programa que sob Bolsonaro tinha o nome de Casa Verde Amarela andavam devagar porque faltavam recursos no governo passado.
“Desta vez, foi apresentada uma proposta ao governo do estado que aportasse novos recursos. Colocamos R$ 20 milhões e o governo nacional também aportou novos recursos”, disse.
Lula, por sua vez, também destacou a cooperação entre os governos e fez afago ao tucano. “Eduardo, eu quero que toda vez que você olhar para o governo federal, saiba que tem um amigo. Eu não disputo nada com você, não disputo popularidade”, disse o presidente.
RENATO MACHADO, CARLOS VILLELA E ARTUR BÚRIGO / Folhapress