Sob protestos, Stock Car realiza primeira prova em circuito de rua de BH

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As polêmicas provas de rua da Stock Car em Belo Horizonte tiveram início neste sábado (17), apesar das diversas tentativas para suspender o evento, diante de possíveis impactos negativos a unidades de pesquisa e tratamento de animais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Durante a semana, o Ministério Público Federal tentou novamente barrar a prova na Justiça, alegando descumprimento da legislação municipal sobre poluição sonora, mas não obteve sucesso.

Neste sábado, foi realizada durante a tarde a primeira corrida do fim de semana, chamada de sprint e vencida por Tiago Camilo. Neste domingo (18), ocorre a prova principal. Desde quinta (15), porém, os pilotos vêm treinando no circuito.

A prova enfrentou forte resistência de moradores e da gestão da UFMG desde seu anúncio. Primeiro, a preparação do circuito resultou no corte de cerca de 60 árvores na região da Pampulha, que os organizadores dizem ter sido compensado com plantio em outras áreas.

Depois, a comunidade universitária começou a alertar para o risco que o barulho traz para instalações da UFMG que lidam com animais e estão próximas ao circuito, como o hospital veterinário e centros de pesquisa com animais.

“Qualquer pessoa que olhe um mapa daquela região vê que não há como ter um circuito de rua, da Stock Car, que é a mais ruidosa das corridas automobilísticas”, disse nesta semana a reitora da UFMG, Sandra Goulart.

“Não há nada que se possa fazer para mitigar o ruído causado por esses carros”, completou, dizendo que a universidade já havia transferido alguns animais do local, mas que um número grande não pode ser retirado.

O Hospital Veterinário da UFMG realiza 35 mil atendimentos por ano, entre consultas, cirurgias, exames de imagem e laboratoriais de animais domésticos e de porte maior, como bois e cavalos. A preocupação é em relação ao barulho, além das dificuldades de acesso.

Além do hospital veterinário, há na região um biotério, de onde saem anualmente mais de 23 mil roedores padronizados para pesquisas científicas, quatro espécies de camundongos que servem de cobaias para o teste de vacinas, remédios e tratamentos para doenças.

Os organizadores chegaram a propor a instalação de barreiras acústicas para minimizar o problema, mas a UFMG afirma que não há barreiras capazes de lidar com ruído dessa intensidade.

O Ministério Público disse que estudos apresentados pelos organizadores “foram considerados insuficientes para mitigar os impactos sobre animais atendidos” e pediu a suspensão também dos treinos para a corrida.

“A proposta de instalação das cortinas acústicas apresentada pelos organizadores demonstra que a corrida causará impacto sonoro acima do permitido pela legislação municipal em todas as estruturas biologicamente sensíveis da UFMG”, afirmou.

No hospital veterinário, escreveu o Ministério Público, o impacto é de 73,6 decibéis, acima do máximo legal é de 55 decibéis. O ruído dos primeiros treinos, afirmou, “foi suficiente para causar alterações comportamentais nos animais em atendimento, como intensa agitação e taquicardia”.

É a primeira prova de rua da Stock Car em quase dez anos –a última foi realizada em Salvador, em 2014. O circuito em Belo Horizonte foi batizado de Toninho da Matta, ex-automobilista mineiro, multicampeão em torneios da categoria turismo.

Tem 3.113 metros de extensão na região onde está instalada, além da UFMG, o estádio Mineirão. Nos treinos para a prova principal, o piloto Daniel Serra fez o melhor tempo. O campeão Cacá Bueno ficou na terceira posição.

Procurada, a assessoria da Stock Car não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.

NICOLA PAMPLONA / Folhapress

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