Promotor se diz ‘estarrecido’ com penitenciária federal em audiência de caso Marielle

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O promotor Olavo Pezzotti, que representa a PGR (Procuradoria-Geral da República), nas audiências do caso Marielle Franco (PSOL) no STF (Supremo Tribunal Federal) criticou nesta terça-feira (20) de forma veemente o sistema penitenciário federal por manter uma testemunha e um acusado no processo em alas semelhantes.

A fala do promotor ocorreu após Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, testemunha no caso, indicar reservas para falar sobre o que sabe em relação à atuação de major Ronald Paulo Pereira, acusado de planejar a morte de Marielle.

“Sobre o major Ronald, eu não tenho o que falar. Tomamos banho de sol juntos, ficamos na mesma ala a uma distância de quatro metros entre as celas, na mesma ala de convivência”, disse ele.

Os dois estão na penitenciária federal de Campo Grande. Pezzotti se disse estarrecido com a informação e disse que pretende pedir ao Sistema Penitenciário Federal o distanciamento entre a testemunha e o acusado.

“Estou estarrecido com a informação de que a testemunha e o acusado estão no mesmo espaço de convivência. Peço para que a inteligência do Sistema Penitenciário Federal, ou o que resta dela, para que fiquem em alas distintas. O sistema federal tem vagas de sobra”, disse o promotor.

Orlando Curicica foi arrolado como testemunha após relatar a ação do delegado Giniton Lages de lhe forçar a assumir a autoria do homicídio sob pena de ser indiciado por outros crimes. Na data do assassinato, ele estava preso sob suspeita de um homicídio.

No depoimento, ele reafirmou a acusação e disse que o objetivo era imputar a ordem do assassinato ao ex-vereador Marcelo Siciliano, rival político de Domingos e Chiquinho Brazão, acusados pelo crime. Segundo Orlando, após se recusar a prestar depoimento com o teor desejado, ele passou a ser alvo de indiciamentos pela equipe de Giniton.

A organização do sistema penitenciário federal também foi alvo de críticas ao fim da audiência, quando Curicica perdeu a conexão com a sala virtual. Era possível ver e ouvir a testemunha gritando para que um agente fosse lhe prestar auxílio a fim de que retomasse contato com a audiência.

“O que me preocupa é uma testemunha ou réu passar mal e até que uma providência seja tomada… São dois ou três minutos que podem definir se a pessoa sobrevive”, disse o juiz Airton Vieira, instrutor das audiências em nome do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

A audiência foi encerrada sem que Orlando Curicica tivesse sido socorrido.

A audiência também ficou marcada por protestos silenciosos de apoiadores do delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil acusado de ter ajudado no planejamento do assassinato.

Antes do início da audiência, duas pessoas exibiram camisas em apoio ao delegado. Ao fim, um dos ouvintes exibiu uma tela com imagens de uma manifestação feita por alunos de Rivaldo contra a prisão.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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