SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alguns dos maiores especialistas em Tarsila do Amaral foram impedidos pelo escritório de advocacia que cuida do espólio da artista de emitirem pareceres ou validarem as obras da pintora, como era tradição até agora. Os experts também foram desligados do catálogo raisonné da artista.
Entre as pessoas que receberam a notificação extrajudicial do escritório Lee Brock Camargo estão Regina Teixeira de Barros e Aracy Amaral, considerada a maior conhecedora de Tarsila. Ambas fizeram parte do comitê que organizou o catálogo raisonné, publicado em 2008 e tido como o livro referência para as obras da pintora.
Também compuseram o colegiado Vera d’Horta, Maria Izabel Branco Ribeiro e Tarsilinha do Amaral, a sobrinha-neta da artista.
A reportagem teve acesso a uma das notificações, datada de meados de abril, portanto após uma tela atribuída à Tarsila aparecer na feira SP-Arte, em São Paulo, e ter a sua autoria disputada.
Agentes do mercado afirmaram que a obra era falsa, mas nesta segunda-feira a autoria do quadro foi confirmada por Paola Montenegro, familiar agora à frente do espólio da artista, Thomaz Pacheco, o galerista que tenta vender a obra, e Douglas Quintale, perito contratado para avalizar a pintura.
Agora certificada como verdadeira, a tela está à venda por R$ 60 milhões, um preço quase quatro vezes maior do que os R$ 16 milhões inicialmente pedidos. A obra foi pintada em 1925 e faz parte da fase “Pau-Brasil” de Tarsila, segundo a família, considerado o seu período mais valioso no mercado de arte.
Quem assume a coordenação do trabalho de certificação e catalogação das obras de Tarsila é Paola Montenegro, sobrinha-bisneta da artista e que cuida de seu espólio desde 2022, após a saída de Tarsilinha do cargo.
“Em um momento oportuno, a Tarsila S.A. irá elaborar uma nova versão do catalogo raisonné, em prol da atualização do legado de Tarsila do Amaral, de forma que esteja integralmente contemplado”, diz Montenegro, por meio de sua assessoria de imprensa.
Solano de Camargo, advogado do espólio, reconhece o teor da carta e diz que “as pessoas notificadas não estão autorizadas a falar em nome desse comitê [de validação de obras] ou do espólio” a respeito da tela recém-certificada da artista.
JOÃO PERASSOLO, SILAS MARTÍ E PEDRO MARTINS / Folhapress