CHICAGO, EUA (FOLHAPRESS) – “Os três políticos mais hábeis do mundo hoje são Vladimir Putin, Recep Erdogan e Nancy Pelosi”, diz o jornalista japonês que senta ao lado da reportagem enquanto ambos aguardam a chegada da ex-presidente da Câmara para uma entrevista à imprensa internacional durante a convenção democrata, em Chicago.
A história lembrará Pelosi, 84, por muitos motivos, mas talvez o principal seja ter sido a arquiteta da desistência de Joe Biden da corrida pela reeleição. Entre os populares bottons usados pelos delegados na convenção, um dos mais curiosos mostra a deputada como se fosse Don Vito Corleone. “A Poderosa Chefona”, diz o acessório.
“A eleição é uma decisão, você toma a grande decisão de ganhar uma eleição, e aí você toma todas as decisões depois disso para ganhar essa eleição”, disse Pelosi.
O maior temor democrata, que originou toda a pressão para a saída do presidente, foi o de que ele perderia o pleito para Donald Trump. Biden resistiu o máximo que pode, decidido a concorrer por convicção e orgulho, acusaram aliados mais e menos próximos na imprensa.
Ele só cedeu após a movimentação articulada principalmente por Pelosi e Barack Obama. “Agora vamos nomear a nova presidente dos EUA. Há uma exuberância, uma animação das pessoas para votar nela. Algo mudou nas últimas semanas”, disse a deputada nesta quinta.
Diante da imagem de política sagaz, surpreende o jeito engraçado, meio atrapalhado, de Pelosi ao vivo.
“Tinha uma foto minha nas redes sociais hoje com o presidente John F. Kennedy quando eu era adolescente e uma foto minha agora com seu neto Jack Schlossberg, que está na convenção, e as pessoas falaram ‘meu Deus, de uma geração para outra'”, disse. “Deixe-me falar uma coisa sobre aquele tempo. Vocês estão se perguntando por que isso é relevante, eu sei….”
O que Pelosi queria falar é que, embora o trecho “não se pergunte o que seu país pode fazer por você, se pergunte o que você pode fazer pelo seu país” seja o mais conhecido do discurso de Kennedy, a frase seguinte é igualmente importante: “países do mundo, não perguntem o que os EUA podem fazer por você, mas o que nós podemos fazer juntos pelo futuro da humanidade”.
Ao ouvir de uma jornalista que “estava maravilhosa” na foto com Kenendy, a democrata respondeu, bem-humorada: “eu tinha 17 anos”.
Mas, ao ser questionada sobre a troca de chapa democrata, Pelosi rapidamente se impôs: “Biden não foi pressionado a sair da corrida, ele tomou uma decisão altruísta. Sabendo que poderia ganhar, ele quis passar o bastão para outra geração”, disse.
O tom resoluto apareceu novamente ao ouvir uma pergunta sobre a ausência de um palestrante de origem palestina na convenção -uma demanda da ala mais à esquerda do partido crítica à aliança de Biden com Israel.
“Não temos toda nacionalidade do mundo na convenção, as pessoas representam bandeiras”, respondeu. “Nós ouvimos o Shawn Fein, presidente da UAW, o maior sindicato dos EUA. Eles apoiam um cessar-fogo. Ele poderia ter falado disso no discurso dele”, cutucou. “Alexandria-Ocasio Cortez, que apoia esse movimento, também. O senador Bernie Sanders também…”
Os dois, porém, citaram um cessar-fogo em seus discursos, embora em breves menções.
Voltando ao tom animado que a campanha de Kamala quer projetar, Pelosi afirmou que não há tempo a perder. “Vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance e não teremos arrependimentos no dia após a eleição pensando que dava para ter feito mais.”
Questionada sobre o significado de eleger a primeira mulher presidente dos EUA, a primeira mulher presidente da Câmara deixou claro que, em sua visão, para ganhar a eleição, gênero não pode estar em primeiro lugar.
“As pessoas não votam no gênero da pessoa, mas no que as políticas propostas significam para elas no seu dia a dia”, diz. “É maravilhoso que ela seja uma mulher não branca, mas para vencer a eleição, precisamos falar sobre as questões que importam na vida das pessoas.”
“Kamala Harris é uma mulher não branca e estamos orgulhosos disso. Mas estamos pedindo para que as pessoas votem nela porque ela é a melhor pessoa para o trabalho, não a melhor mulher para o trabalho.”
FERNANDA PERRIN / Folhapress