Leonilson se mantém em alta no mercado da arte, dizem galeristas paulistanos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na semana em que o Masp inaugura uma mostra retrospectiva da obra de Leonilson, expoente da chamada Geração 80, as galerias de arte MaPa e Marilia Razuk também abrem exposições temáticas sobre o artista, enquanto o Teatro Cacilda Beker exibe o monólogo “Ser José Leonilson”.

A programação paralela é uma homenagem a um dos principais artistas contemporâneos do país, que pintou suas angústias e seu desejo por outros homens em tecidos e telas que, até hoje, continuam altamente valorizadas no mercado da arte.

Na MaPa, são apresentados cartazes de motras desenhadas por Leonilson no final da década de 1980 e início de 1990. “Ele era muito exigente, então se irritava um pouco com o que os outros faziam com o material dele”, afirma Marcelo Pallotta, diretor da galeria.

João Pedrosa, curador da MaPa morto no ano passado, era amigo de Leonilson. Em artigo publicado em 2013 neste jornal, ele contou que uma vez, quando o artista ligou chorando, ele levou até sua casa um antigo submarino de brinquedo –uma reprodução do Nautilus, de “20 Mil Léguas Submarinas”, livro de Júlio Verne.

Depois de receber o brinquedo, Leonilson ficou feliz. “Tão rapidamente como afundava o mundo de Léo na depressão, se dava a sua passagem para a alegria, súbita e impressionante”, escreveu Pedrosa. O pequeno submarino também faz parte da mostra.

Entre os cartazes, está um que anunciava a icônica exposição na galeria Luisa Strina, ao lado de Leda Catunda, Ciro Cozzolino e Sergio Romagnolo, no qual o nome dos artistas foram escritos com tinta e pinceladas expressionistas.

“Ele usa a diagramação, do ponto de vista do design gráfico, de forma muito interessante”, diz Pallotta, apontando para os letreiros posicionados em diferentes quadrantes.

Em outro pôster, Leonilson utilizou símbolos com significados para representar cada um de seus amigos artistas que participam da mostra. Catunda, por exemplo, é um pôr-do-sol sobre o mar.

“Ele é um artista considerado ‘blue chip’ no mercado, que tem preços bem altos que não oscilam muito. Não se perde valor”, diz Pallotta. “A relação dele é muito intimista com o colecionador. Quem tem obra dele se identifica muito com o que ele fala de si próprio, com a poesia delicada, e também com o universo gay.”

O mesmo é dito pela galerista Marilia Razuk, que levou à última feira Art Basel Miami Beach, nos Estados Unidos, delicados bordados do artista. Segundo ela, foi um sucesso de público, com algumas vendas. “Muitos interessados em arte conhecem seu trabalho [no exterior], especialmente os mais estudiosos da arte latina”, diz. “Levamos Leonilson diversas vezes para fora do país, e é sempre bem recebido.”

Na galeria Marília Razuk, o destaque são as obras do artista do início da década de 1980, quando Leonilson já dava claros sinais de qual seria o seu estilo. Elas estão ao lado de trabalhos de outros artistas contemporâneos que, de alguma forma, se dedicam a investigar a própria identidade, como os brasileiros Panmela Castro e Guerreiro do Divino Amor.

Já o ator Laerte Késsimos estudou as obras de Leonilson para mergulhar fundo em sua história. Ele conta que se preparou para dar vida ao artista na peça “Ser José Leonilson” não tentando imitar a voz dele, mas fazendo obras com os mesmos materiais que Leonilson usava. As gravações que o artista deixou como diário também fazem parte das cenas. “Os áudios nos dão um panorama muito cru do dia a dia do Leonilson”, diz Késsimos. “Queríamos trazer esse depoimento direto ao público.”

ALESSANDRA MONTERASTELLI / Folhapress

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