RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A campanha de Alexandre Ramagem (PL) à Prefeitura do Rio de Janeiro tenta crescer no eleitorado evangélico, mas esbarra nas costuras realizadas por Eduardo Paes (PSD) durante a pré-campanha.
O atual prefeito e candidato à reeleição tem entrada nas congregações evangélicas mais populares, como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Assembleia de Deus Madureira e a Advec (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), de Silas Malafaia.
O vereador Alexandre Isquierdo (União Brasil), que foi pastor da Advec, é um dos políticos com bom trânsito entre os evangélicos que tenta fazer a aproximação de Ramagem com a comunidade. Mas a amistosa relação que Malafaia tem com Eduardo Paes dificulta a tentativa de Ramagem.
Pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (22) aponta que Paes tem 49% de intenção de voto entre os evangélicos, ante 11% de Ramagem. Entre os católicos, Paes tem 61% e Ramagem alcança 11%.
Na pesquisa anterior, de julho, Paes tinha 46% entre os evangélicos e 59% entre os católicos. Ramagem marcava 9% entre os evangélicos e 7% entre os católicos.
Em uma semana, Paes se reuniu ao menos duas vezes com pastores evangélicos. Na quinta, publicou foto ao lado de líderes de federações e convenções da Assembleia de Deus. O encontro foi publicado nas redes sociais.
Na semana anterior, discursou para pastores em articulação feita pelo pastor Abner Ferreira, líder da Assembleia de Deus Madureira, e pelo deputado federal Otoni de Paula (MDB), da mesma congregação.
Paes, Otoni, Abner e Eduardo Cavaliere (PSD), candidato a vice, também estiveram juntos no domingo (18), e publicaram uma foto ao lado das respectivas mulheres.
Otoni é o principal responsável pela articulação entre Paes e as igrejas evangélicas. Abner se aproximou mais do prefeito nas últimas semanas.
Por assumir posição de interlocução, Otoni se tornou um dos alvos preferidos da oposição de Ramagem. A candidata a vice do PL, deputada estadual Índia Armelau (PL), publicou na semana passada vídeo reagindo e ironizando falas de Otoni.
No vídeo, Otoni diz que o eleitorado evangélico está com Paes e defende que não há contradição nisso, pois, segundo ele, Paes nunca foi um político de esquerda. Índia responde dizendo que Paes é “soldado do Lula”.
“Não vai ser ataque pessoal”, diz Índia no vídeo. “Eu mesma, no início, quando começou essa coisa do Ramagem, falei para ele [Otoni de Paula] que achava mais forte [a chapa com] ele e o Ramagem. Só que me entristece ver uma pessoa passando uma informação que não é verdadeira”.
Segundo integrantes do PL, outros vídeos mirando Otoni e tentando afastar o eleitor evangélico do voto em Paes devem ser produzidos durante a campanha.
Entre os políticos ligados à igreja Universal, o clima é de dúvida. No último dia 15 a Universal comemorou 25 anos da Catedral da Fé, gigantesco templo na zona norte do Rio de Janeiro. Paes, como prefeito, compareceu ao evento. A presença dele foi mencionada no altar pelo bispo que presidia o culto, assim como a do governador Cláudio Castro (PL).
Paes já havia visitado a Universal em julho, em São Paulo, no evento de celebração dos dez anos do Templo de Salomão.
Políticos filiados ao Republicanos e ligados à igreja Universal têm produzido material de campanha com Ramagem, mas não sabem quando poderão publicá-los. Eles esperam indicação do partido para saber qual será a intensidade do apoio.
Durante a pré-campanha, o Republicanos, que compõe a coligação de Ramagem, chegou a encaminhar o nome da deputada estadual Tia Ju (Republicanos), ligada à Universal, como vice na chapa, mas o nome foi barrado internamente pela igreja.
Parte do PL entende que Ramagem ainda não é amplamente conhecido e acredita que a figura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, atual presidente do PL Mulher, poderia ajudar a chapa a chamar eleitores evangélicos.
Entendida por integrantes do diretório estadual como “suprassumo” dos ideais conservadores, a imagem de Michelle já é usada em banners e publicações nas redes sociais por candidatos a vereador, mas não há definição sobre o desembarque dela no Rio para agendas públicas.
A equipe de campanha de Ramagem, porém, avalia que somente a associação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e sua família não será suficiente para atrair o eleitorado evangélico. Uma das apostas é destacar em suas apresentações sua participação como delegado federal em Roraima na Operação Arcanjo.
A investigação mirou uma rede de pedofilia que envolvia servidores públicos, boa parte deles já condenados.
ITALO NOGUEIRA E YURI EIRAS / Folhapress