Roupa clara, barba na medida, novo ‘shape’: candidatos de SP mudam visual para atrair eleitores

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Além das palavras, as roupas que os candidatos à Prefeitura de São Paulo usam nos debates televisionados podem indicar o tom que pretendem empregar em suas campanhas nos próximos meses.

As peças são capazes de indicar a busca por uma imagem mais moderada, como no caso de Guilherme Boulos (PSOL), ou atrair maior destaque, como nas cores claras adotadas por Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo).

A Folha conversou com especialistas que avaliaram o estilo dos seis principais nomes que concorrem ao cargo máximo do Executivo municipal.

A análise dos profissionais entrevistados é a de que Boulos tem adotado a tática de Lula em 2002 -quando o hoje presidente investiu em suavizar a imagem de radical. Ricardo Nunes (MDB) faz escolhas sóbrias, clássicas, que conversam com a classe média.

Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez no passado, Pablo Marçal (PRTB) tenta transmitir a imagem de outsider ou “diferente de tudo que tá aí”. Apesar de usar visuais diferentes, José Luiz Datena (PSDB) demonstra a mesma intenção, segundo os especialistas.

Ainda segundo a análise, a paleta de cores de Tabata e Marina serve para destacá-las em meio aos tons escuros geralmente presentes nos vestuários masculinos.

Ambas abusam das roupas bem recortadas e clássicas, o que passa o sentimento de confiança, segundo os consultores ouvidos pela reportagem. Tabata de forma mais flexível, e Marina com referências mais conservadoras.

Para a especialista em branding e semiótica Deniza Gurgel, a estratégia de imagem de Boulos vem se desenvolvendo há algum tempo. Ao entrar na política após longo período na militância do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), ele deixou de lado a calça jeans e o moletom e migrou para roupas mais formais.

Mudaram também o comprimento do cabelo e a barba. “Aliás, a barba tem um papel central dentro do posicionamento político dele, já que dialoga ali com grandes líderes da esquerda que servem como inspiração.”

O deputado federal do PSOL foi para o primeiro debate, no dia 8, com camisa branca e paletó azul, que trazem seriedade e tiram a imagem de revolucionário. Com isso, ele mostra que também pode conversar com o mercado, opina Deniza.

“Quando vai para o embate com praticamente a mesma roupa que Ricardo Nunes, ele tenta mostrar que tem capacidade de governar São Paulo. Ele sempre tenta sorrir de forma mais simpática, para reduzir a percepção de que é rebelde.”

Investir na imagem, claro, não pode ser a única aposta dos candidatos. A mensagem passada para o telespectador vem de um conjunto de fatores. Por exemplo, sobre o conflito que envolveu Boulos e Marçal no segundo debate com os candidatos –na quarta-feira (14)–, Deniza diz: “Pode colocar sorrisos e roupa clara que for, vai ser difícil tirar a marca de radical do Boulos se ele não tiver inteligência emocional para resistir às provocações”.

No caso de Pablo Marçal, a repaginação do visual aconteceu de forma mais brusca. Além de mudanças na barba, no corte de cabelo e nas roupas, em abril de 2024, o autodenominado ex-coach decidiu participar de um desafio de transformação corporal, junto ao influencer e fisiculturista Rodrigo Cariani. Tudo divulgado nas redes sociais.

“Quando ele vai para o debate com essa roupa que reforça o ‘novo shape’, ajuda a chamar atenção e atiça a curiosidade sobre o que ele fez para, do nada, aparecer tão forte. É o que se chama de capital erótico, teoria sociológica sobre a importância dessa sedução para conquistar votos”, afirma a especialista.

O fotógrafo João Mena, conhecido por retratar o ex-presidente Bolsonaro sem camisa, exibindo a marca da facada que o atingiu em 2018, foi um dos responsáveis por ajudar Marçal com a nova imagem. A estratégia incluiu um ensaio fotográfico da nova versão do influencer.

“Fizemos alguns testes, uma das dúvidas era se manteria ou tiraria a barba. Minha visão profissional era de tirar a barba para fazer um antagonismo com o Boulos e também para se conectar mais com o público. O boné não foi algo que eu indiquei, mas chama a atenção e quebra um padrão para que o grande público o conheça”, afirma Mena.

“Pablo Marçal sem dúvida é uma pessoa que domina a comunicação, e entende, como poucos, o poder da imagem e dos símbolos”.

Para a especialista em semiótica, o boné dialoga com outros líderes da direita mundial, como o ex-presidente americano Donald Trump e o presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

Durante o debate na TV Bandeirantes, Marçal vestia camisa e calça social, sem terno. Na volta de um dos blocos, surgiu com um boné com a letra “M”. Aliados de outros candidatos se incomodaram com o gesto. O advogado Fabio Wajngarten, apoiador de Nunes, chegou a questionar aos que estavam perto se o acessório era permitido.

Datena é apontado como outro candidato a fim de não ser associado com a política tradicional. No primeiro debate a que compareceu, usou blazer de veludo. No segundo, um sobretudo.

Essas não são peças usuais em políticos, principalmente por conta do brilho e dos elementos que conversam mais com a moda fashionista, além de remeter muito ao universo da TV, do espetáculo, que é de onde ele vem, explica Deniza.

Nunes, Tabata e Marina Helena focam em visuais mais tradicionais. Roupas bem cortadas, muito bem passadas, cabelo impecavelmente no lugar, o que remete à sofisticação, “ao politicamente correto”, e a confiança, na visão da especialista.

Entre os três, chama a atenção principalmente a transformação de Tabata ao longo dos anos. É possível encontrar fotos da jovem antes de se eleger pela primeira vez em que mantém estilo mais jovial, com roupas estampadas, calça jeans e camisetas.

A especialista relaciona o uso da cor branca com a família do namorado da candidata, João Campos (PSB), prefeito do Recife.

“Tabata adotou a tradição da família Campos de usar a cor branca em campanhas, que existe desde que Eduardo foi eleito pela primeira vez. Além disso, no debate da Band ela usou um colar com a pombinha do espírito santo, tentando trazer para a imagem dela essa ideia de capacidade de diálogo, de entender e respeitar algumas tradições importantes para a sociedade brasileira.”

A professora titular de semiótica da USP Clotilde Perez afirma que moda é modo e é também identidade e, nesse aspecto, pode ser uma manifestação de quem se é e de como se quer ser visto.

“Não são as roupas que vão garantir a vitória de um candidato. No entanto, as roupas e acessórios podem contribuir para reforçar algum aspecto importante do candidato, por exemplo, a conexão com as pautas ambientais ou a ligação com determinadas perspectivas culturais e sociais”, afirma.

VICTÓRIA CÓCOLO / Folhapress

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