Com incêndios, atendimentos por infecções respiratórias sobem 60% em Ribeirão Preto

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fuligem e a fumaça dos incêndios que atingem o interior paulista, agravados pela baixa umidade do ar, já causam alta de problemas respiratórios e de atendimentos nas unidades de saúde.

Neste sábado (24), as quatro UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) de Ribeirão Preto registraram aumento de cerca de 60% na procura. Em um sábado normal, são feitos em média 2.000 atendimento.

Segundo Marcelo Carboneri, superintendente da Fundação Santa Lydia, que faz a gestão das UPAs de Ribeirão, a expectativa era terminar o sábado com 3.200 atendimentos.

Neste sábado, o índice de qualidade do ar (IQA) e de poluição do ar (PM2,5) em Ribeirão chegou a estar 14 vezes acima do recomendável pela OMS (Organização Mundial de Saúde), segundo o IQAir, uma entidade com sede na suíça que faz medições da qualidade do ar, a partir de estações de todo o mundo.

A secretaria municipal de Saúde, Jane Aparecida Cristina, afirma que as infecções respiratórias têm liderado os atendimentos nas UPAs. “Muita tosse seca, dor de garganta, dificuldade para respirar, rinites e dermatites por conta da fuligem que causa muita irritação na pele”, diz ela.

Ela afirma que há uma preocupação com um aumento ainda maior nos atendimentos nos próximos dias, especialmente na segunda (26) e terça-feira (27), quando é esperado um agravamento nos casos das complicações respiratórias devido à baixa umidade relativa do ar e a inalação de fumaça.

A cidade está com umidade relativa do ar abaixo de 20%, enquanto a ideal para saúde humana deve estar entre 50% e 60%.

De acordo com o pneumologista Luiz Renato Alves, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, a região vive o pior cenário. “Temos a combinação de uma estiagem absurda associada a essa poluição ambiental decorrente das queimadas. Estamos respirando um ar extremamente poluído”, diz.

Ele explica que, em condições normais, o organismo umedece e filtra o ar inalado contra as partículas nocivas.

Mas, com um ar seco e extremamente poluído, as mucosas nasais perdem muito líquido e ressecam. Surgem aí sintomas como irritabilidade na garganta e sangramento nasal.

Ao não conseguir filtrar esse ar, são inalados muitos materiais particulados, de queimada, por exemplo, e isso pode levar ao desenvolvimento de doenças inflamatórias tanto de origem pulmonar quanto das vias aéreas.

“Você pode ter quadros de pneumonia, pneumonites [inflamação dos pulmões] e traqueobronquites [inflamação dos brônquios]. Mesmo pessoas que não têm problemas periódicos estão sujeitas a esses quadros. Crianças, idosos e pessoas que sofrem de problemas alérgicos vão acabar sofrendo mais nessa época”, diz Alves.

O QUE FAZER PARA MINIMIZAR A SITUAÇÃO?

A primeira orientação é tentar evitar o máximo possível a exposição ao ar externo poluído. “Evitar sair ao ar livre especialmente nessas condições, evitar ficar perto de áreas onde tenham queimadas, aumentar muito a hidratação”, explica Alves.

Lavagem nasal com soro fisiológico também é fundamental não só para manter a mucosa hidratada, como também remover o material que fica preso na primeira parte superior das vias aéreas.

A secretária da Saúde de Ribeirão afirma que se pessoas sem condições de comprar soro fisiológico podem buscar o produto em unidades de saúde da cidade.

“Use bastante lavagem, se você estiver dentro de ambiente fechado tente usar algum tipo de umidificador de ambiente, como umidificadores, toalhas molhadas, baldes de água. O uso do ar-condicionado piora ainda mais a umidade.”

Outro conselho é manter as portas e janelas fechadas. “Se o ar está muito poluído, ao abrir, você traz essa poluição para dentro de sua casa.”

O uso de máscara também é recomendado em ambientes abertos, fechados ou em aglomerações, segundo Jane Cristina. “O ar está muito poluído, com muita fuligem e fumaça por conta das queimadas.”

Ela afirma que a prefeitura reforçou as equipes médicas e de enfermagem nas UPAs e também os estoques de medicamentos e outros insumos, como soro fisiológico. “Se houver necessidade de aumento expressivo de oxigênio, as empresas já estão avisadas e preparadas para nos socorrer.”

Neste sábado, o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, se deslocou para a região de Ribeirão Preto para avaliar a situação. “Vamos fazer uma estratificação de risco e começar a montar uma logística para que possamos ajudar os municípios”, disse.

CLÁUDIA COLLUCCI / Folhapress

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