RIBEIRÃO PRETO, SP, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Até o momento não há indícios de que a onda de incêndios que atingiu o estado de São Paulo tenha sido causada por uma ação coordenada de criminosos, disse nesta segunda-feira (26) o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ao menos quatro pessoas foram detidas suspeitas de causarem as queimadas. A última dessas detenções aconteceu nesta segunda em Batatais (que fica na região de Barretos), a 355 km da capital.
O homem de 27 anos foi preso por policiais militares após colocar fogo em um pasto. O incêndio chegou até uma residência. A pastagem fica anexa a uma área de preservação permanente.
As outras prisões aconteceram nas cidades de Guaraci, São José do Rio Preto e também Batatais, todas no interior do estado. “Até aqui não conseguimos constatar nenhum tipo de relação entre essas pessoas, ou envolvimento coordenado”, afirmou o governador.
Apesar da declaração dele, a Polícia Civil disse que ainda não descartou nenhuma hipótese. O delegado responsável pelo caso disse à reportagem que um dos principais objetivos da investigação é chegar aos responsáveis pelo fogo e descobrir se eles agiram sozinhos ou a mando de outras pessoas.
As origens dos incêndios também estão sendo investigadas pela Polícia Federal, que abriu dois inquéritos no domingo (25). A informação foi repassada pelo diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Segundo ela, o fato de os incêndios em São Paulo se intensificarem em dois dias é um sinal de ação humana, posição que foi reforçada em evento da pasta nesta segunda.
“Tem a estranheza do aumento repentino de focos de incêndio, muitos deles concentrados em lavouras de cana”, disse Raoni Rajão, diretor do Departamento de Políticas de Controle do Desmatamento e Queimadas do Ministério. “São elementos que estão em investigação. As dinâmicas são muito diferentes de acordo com a região”.
Representantes do setor agrícola também já afirmaram que o incêndio pode ter origem criminosa. A situação fez usinas de açúcar e etanol do interior de São Paulo oferecerem recompensa para quem der informações sobre os autores do fogo.
Depois de o Grupo Moreno oferecer recompensa de até R$ 30 mil por informações que levem à prisão dos incendiários, agora a Usina Santa Adélia está ofertando R$ 20 mil para quem conseguir identificar os supostos criminosos.
Na última quinta, quando a série de queimadas teve início, o Grupo Moreno, com sede em Luiz Antônio, ofereceu a recompensa sobre autores dos incêndios criminosos ou não autorizados em suas lavouras de cana-de-açúcar.
“Tais incêndios causam transtornos e prejuízos às empresas, seus colaboradores, meio ambiente e sociedade em geral. O programa de recompensa por denúncias está disponível para qualquer pessoa que tenha informações sobre as causas e autoria desses incêndios”, diz o comunicado do grupo. A recompensa será paga caso, segundo o Grupo Moreno, as informações levem à prisão do responsável pelo ato.
A Santa Adélia ofereceu como canais de denúncias unidades em Jaboticabal e Pereira Barreto e também pagará caso os autores sejam presos a partir das informações dos denunciantes.
O presidente da Faesp (Federação da Agricultora do Estado de São Paulo), Tirso Meirelles, afirmou que o setor agrícola não é responsável pelos incêndios.
Ele disse à reportagem que foram encontradas garrafas com gasolina enterradas em lavouras das regiões de Batatais e General Salgado e que orientou os produtores rurais a registrarem boletim de ocorrência na polícia.
“Quando inicia um incêndio ele inicia pontualmente por alguma bituca de cigarro, uma lata de cerveja ou óleo. Agora tem uma sequência de uma distância de 400 quilômetros um do outro e levar tudo ao mesmo tempo é algo surreal, né? Isso não existe, não é possível que você tenha 400 km de incêndios praticamente contínuos”, afirmou.
Tarcísio disse que uma “combinação explosiva” de eventos climáticos pode ter levado ações criminosas pontuais e isoladas e até mesmo acidentais, como fogueiras e bitucas de cigarro, a se transformarem em queimadas gigantescas.
“Estamos em uma situação muito severa de estiagem, situação que já vinha comprometendo safras. Temos municípios em situação de emergência, com racionamento de água”, comentou o governador, citando as cidades de Pitangueiras e Bauru.
“Aí teve uma combinação de fatores explosiva: baixíssima umidade do ar, que bateu na casa dos 17%, altas temperaturas, acima dos 30 graus, e ventos muito fortes”, listou Tarcísio. “O fato é que tivemos essa situação complexa e que tomou proporção gigantesca.”
Delegado responsável pelo caso, Jorge Amado Cury Neto classificou a situação como assustadora. “O que nós vivenciamos esses últimos quatro, cinco dias é algo que eu nunca vi em Ribeirão Preto e na nossa região”, afirmou ele.
“Nós não podemos descartar nada. Porque tem ações isoladas e tem ação da natureza também, que espalhou demais o fogo. O negócio foi tão macro, houve floresta, reserva ambiental, parte rural, parte da cidade, parte urbana. O que aconteceu na região nos últimos quatro, cinco dias foi algo impactante”, completou Neto.
Os incêndios causaram acidentes e interrupção de aulas e lotaram hospitais, entre outros transtornos em diversas regiões do estado. Duas pessoas morreram e outras 66 ficaram feridas, de acordo com a Defesa Civil.
MARCELO TOLEDO, CLAYTON CASTELANI E PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress