Mostra de Julio Le Parc reúne a produção recente de um dos pais da arte cinética

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Julio Le Parc, um dos pioneiros da arte cinética junto a Carlos Cruz-Diez, tem uma rotina como a de “qualquer trabalhador ou artista”, segundo ele. Em sua casa-ateliê nos arredores de Paris, o artista acorda às 8h, lê o jornal e toma café da manhã antes de descer para seu local de trabalho, por volta de 10h, e começar a desenhar, “que é o que mais gosto de fazer”.

Foi desta disciplina que Le Parc, hoje com 95 anos, criou nos últimos dois ou três anos a maioria das 45 obras agora em exposição na galeria Nara Roesler, em São Paulo. Os trabalhos apresentados no espaço no Jardim Europa são pinturas, estudos e dois móbiles —sendo um feito especificamente para esta mostra— que ainda não haviam sido exibidos no Brasil.

As obras são o mais recente desdobramento da série “Alquimias”, uma sequência de trabalhos que Le Parc realiza desde os anos 1980. Na primeira sala, vemos os estudos, em escala menor, para algumas das pinturas apresentadas na segunda galeria, a maior. Com milhares de pontinhos em diferentes tonalidades de cor, identificadas por números, Le Parc rascunha as suas conhecidas formas geométricas e como elas se encontram, se agrupam e interagem entre si.

As pré-obras deixam ver o processo criativo do artista —ele se vale de tons mais frios, como o azul e o roxo, e outros quentes, a exemplo do vermelho e do laranja, todos em geral aplicados de maneira vibrante sobre o papel. A paleta de Le Parc compreende 14 tonalidades, as mesmas que utiliza desde 1959.

O espaço expositivo maior guarda o principal da mostra. Ali vemos o artista, com a ajuda de seus assistentes, levar para telas grandes em fundo preto o pontilhismo colorido dos estudos. As pinturas, em tinta acrílica, são estáticas, é claro, mas Le Parc é mestre em passar para o espectador a impressão de que as figuras geométricas estão em movimento, como que fluindo e se entrelaçando umas nas outras.

“Sempre gostei de variar meus trabalhos com fundos pretos ou brancos, principalmente as ‘Alquimias’, que dependendo do desenho e da cor do fundo mudam de intensidade”, afirma o artista, por email. No andar superior da galeria há uma série de obras de décadas passadas de Le Parc, com fundo branco, de modo que fica claro o contraste com a série exposta no térreo.

Representado pela galeria Nara Roesler há 25 anos, o argentino criou para esta mostra um novo móbile que se estende do teto ao chão do espaço expositivo. Na peça, os pontinhos das telas viram pequenos quadrados de acrílico, presos uns aos outros por fios e criteriosamente ordenados pelas 14 cores da paleta do artista.

“É o segundo móbile multicolorido que fiz. O primeiro foi para a Fundação Hermès, em Tóquio, em 2021. Mas foi de outra forma, até este momento as células [os quadradinhos] eram todas uniformes de uma única cor ou de aço, mas gostei da ideia de fazer um assim pela primeira vez nos últimos anos”, ele conta.

No segundo andar da galeria está uma seleção de trabalhos mais antigos de Le Parc, dentre os quais alguns totens com discos giratórios dentro. Estes discos são refletidos infinitamente por um conjunto de espelhos, e o visitante vê diferentes versões da obra dependendo de onde se posiciona em relação a ela.

“Todos os meus trabalhos requerem a participação do espectador, alguns talvez mais do que outros”, diz o artista. “Minha intenção sempre foi que o espectador se sentisse parte do trabalho e criasse uma relação próxima com o trabalho, a fim de descomplicar.”

‘COULEURS’, DE JULIO LE PARC

– Quando Até 19 de outubro. De seg. à sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h

– Onde Galeria Nara Roesler – av. Europa, 655, São Paulo

– Preço Grátis

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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