SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um em cada quatro brasileiros afirma que percebe aumento na quantidade de pessoas em situação de rua no país, enquanto metade da população nota sinais mais amplos de aumento da pobreza.
São índices menores do que há um ou dois anos, mas ainda assim preocupantes na avaliação do Instituto Cidades Sustentáveis, que encomendou a pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, antigo Ibope) que trouxe esses dados.
O instituto entrevistou um total de 2.000 pessoas em 129 municípios de todo o país entre os dias 4 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
A pesquisa Desigualdades visa mensurar a percepção da população sobre a desigualdade social, racial, de gênero e de orientação sexual no país, assim como a mobilidade social ao longo de gerações.
Há dois anos, em sondagem feita com as mesmas perguntas, 34% dos brasileiros percebiam um aumento na quantidade de pessoas morando na rua. Essa proporção já havia caído para 29% no ano passado. Hoje, a mesma opinião é compartilhada 24% da população.
O movimento foi semelhante em relação a outros aspectos da pobreza. Em 2022, quase metade (47%) dos entrevistados afirmava que viam nas ruas ou conheciam pessoas com dificuldades para comprar comida. Neste ano, esse percentual caiu para 25%.
Se a proporção de entrevistados que dizia perceber o aumento de pessoas em situação de pobreza era de 75% há dois anos, hoje ela ainda atinge mais da metade da população (52%). “Ainda é um patamar grande e demonstra que o país ainda tem um grande passivo [social] para lidar”, diz o coordenador de relações institucionais do Instituto Cidades Sustentáveis, Igor Pantoja.
A percepção de fome e pobreza é consideravelmente mais alta em municípios nas capitais, nas periferias metropolitanas e em cidades com mais de 500 mil habitantes. A diferença na avaliação do aumento da pobreza chega a 25 pontos percentuais, por exemplo, entre quem mora em capitais (68% afirmam que houve aumento de pobreza) e no interior (43%).
Três em cada dez entrevistados dizem que precisaram fazer algum trabalho extra para complementar renda ao longo dos últimos meses. Esse índice ficou estável em relação ao ano passado, mas caiu (de 45% para 31%) na comparação com 2022.
Ao mesmo tempo, a pesquisa também mostra uma percepção de melhora nas próprias condições de vida dos entrevistados ao longo das décadas. Três em cada quatro dizem que alcançaram condições melhores de escolaridade e moradia, ao comparar-se com os próprios pais. Mais da metade (63%) diz também que têm renda maior do que os pais tinham na mesma idade.
O desempenho é pior quando se avalia o investimento mais recente no estudo. Menos da metade dos entrevistados (42%) diz que conseguiu melhorar o nível de escolaridade nos últimos cinco anos, e a proporção é menor entre os mais pobres.
Se 55% dos entrevistados que ganham mais do que cinco salários mínimos conseguiram investir em educação desde 2019, apenas 41% daqueles que ganham entre um e dois salários dizem o mesmo. Entre quem ganha até um salário mínimo, só 30%.
Para Pantoja, as desigualdades entre renda, trabalho e estudo estão conectadas. “As pessoas estão trabalhando mais. Esse tempo [no trabalho] acaba ocupando um espaço que poderia ser dedicado ao estudo, ao lazer”, afirma. “Não pode ser o nosso novo normal a dupla jornada de trabalho, sem garantias de direitos e muitas vezes até expondo ainda mais as pessoas a riscos do que o trabalho formal.”
A pesquisa é publicada ao mesmo tempo em que é lançada uma atualização dos dados do Observatório das Desigualdades, levantamento de dados oficiais em vários setores organizado pelo movimento Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, que reúne 200 entidades, entre organizações do terceiro setor, associações municipais e de classes profissionais.
TULIO KRUSE / Folhapress