SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os monólitos criados pela artista plástica Gisela Colón parecem galáxias esculpidas em pedra. Nas obras, há um sem-número de pontos luminosos que deixam o espectador mesmerizado diante daquilo que se assemelha à poeira cósmica.
“É como olhar para a explosão do Big Bang”, diz a artista porto-riquenha no Instituto Artium. Em Higienópolis, no centro de São Paulo, o espaço reúne oito trabalhos dela na exposição “Matéria Prima”. Em paralelo, a galeria Raquel Arnaud, na zona oeste da cidade, realiza a mostra “O Quarto Estado da Matéria”.
Chama a atenção do público os monólitos que têm marcado a produção da porto-riquenha. Fabricados com uretano verde, um material sustentável, os totens são a forma que a artista encontrou de exorcizar uma infância permeada pela violência em Porto Rico.
Ela perdeu a mãe aos 12 anos, vítima de feminicídio. Depois, sua tia também foi assassinada. Os tiroteios eram tão frequentes que ela costumava brincar com cápsulas de projéteis encontradas pelo chão. “A bala tinha uma forma atraente para mim. Era uma superfície bonita, mas ao mesmo tempo perigosa.”
Esse fascínio guiou o trabalho dela, motivo pelo qual os totens têm um formato que lembra o de um projétil de fuzil. “A mensagem que minhas esculturas passam é como transformar o negativo em positivo, como transformar a morte em vida”, diz.
A natureza também é um assunto ligado de forma intrínseca à produção de Colón. A coloração de aparência cósmica dos totens é uma referência à La Parguera, uma baía bioluminescente de Porto Rico. Essa região abriga milhões de micro-organismos conhecidos como dinoflagelados.
Eles brilham intensamente no escuro com o movimento, dando a impressão de que o mar foi tomado por uma constelação. “Quando você sai da água, todo o seu corpo brilha. Então, é uma forma de transmitir essa magia por meio da obra de arte”, afirma a artista.
Ela começou a pintar com quatro anos por influência de sua mãe, que também era pintora. Apesar das pretensões artísticas, a porto-riquenha decidiu fazer faculdade de economia. Depois de ganhar uma bolsa de estudos, ela se mudou para o continente, onde cursou direito na Southwestern University, no Texas.
Em paralelo à vida acadêmica, continuou pintando. Nos anos 1990 e 2000, sua produção consistia em abstrações geométricas inspiradas na natureza de sua terra natal.
No entanto, em 2012, decidiu produzir esculturas depois que entrou em contato com o movimento “light and space” –corrente artística que usa luz e formas geométricas para brincar com a percepção visual dos espectadores.
Organizador da mostra no Instituto Artium, o canadense Simon Watson diz que o trabalho de Colón chama atenção pelo seu caráter futurista. “Parece que as obras vieram de outro mundo”, afirma ele, acrescentando que essa característica deixa o público intrigado.
“São obras que fazem a gente se questionar como elas são feitas, o que estão dizendo e o que significam. Elas nos fazem meditar sobre a nossa vida e sobre espiritualidade.”
Já para Marcello Dantas, organizador da mostra em cartaz na galeria Raquel Arnaud, as obras ocupam um não lugar. “Tem gente que vê um totem, uma forma fálica ou um foguete. Essa ambiguidade é boa, porque reflete o lugar que a gente ocupa no mundo.”
Matéria-Prima
Quando: De qua. a sex. das 12h às 18h; Sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 3 de novembro
Onde: Instituto Artium – R. Piauí, 874, Higienópolis
Preço: Gratuito
O Quarto estado da Matéria
Quando: Ter. a sex., das 11h às 19h. Sáb., das 11h às 15h. Até 19 de outubro
Onde: Galeria Raquel Arnaud – Rua Fidalga, 125, Vila Madalena
Preço: Gratuito
MATHEUS ROCHA / Folhapress