Novo presidente propõe enxugar Vale e não teve resistência do governo após pressão

RIO DE JANEIRO, RJ E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Palácio do Planalto foi informado na semana passada do favoritismo de Gustavo Pimenta na disputa pelo comando da Vale e, segundo fontes, não fez objeções ao executivo, que substituirá Eduardo Bartolomeo no comando da mineradora.

Vice-presidente de finanças da companhia, Pimenta foi eleito para a presidência nesta segunda-feira (27), encerrando um conturbado processo de sucessão que ganhou contornos políticos com pressões do governo para indicar nomes.

Em sabatina com conselheiros antes da eleição, o executivo propôs enxugar a estrutura corporativa da empresa, considerada inchada por acionistas após a criação de áreas para cuidar da reparação das tragédias de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais.

Pimenta concorria com outros dois executivos da mineração: Ruben Fernandes (Anglo American) e Marcelo Bastos (ex-BHP e ex-Vale). Uma articulação entre conselheiros mais próximos ao Planalto apoiou o eleito como uma saída para reduzir a tensão com o governo.

Sua eleição foi por unanimidade, com forte apoio da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, um dos maiores acionistas da mineradora. Fonte do Planalto diz que o governo tinha preferência pela solução interna, mas que a decisão foi do próprio conselho e não houve tentativa de interferência.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) queria emplacar o ex-ministro Guido Mantega mas, sem muita margem para intervir no processo, passou os últimos meses criticando a gestão da mineradora, que tem regras bem definidas para a sucessão.

O processo prevê a disputa final entre dois nomes de lista elaborada por consultoria internacional e um candidato interno. A Previ chegou a sugerir o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que é membro do conselho fiscal da Vale, mas também não encontrou apoio.

Com a conclusão do processo, o conselho de administração da Vale avalia antecipar a saída de Bartolomeo, que havia negociado ficar no cargo até dezembro e, depois, atuar como consultor para ajudar na transição.

O executivo era frequentemente criticado por problemas no relacionamento com governos federal e estaduais e se tornou alvo de aliados de Lula. A avaliação entre conselheiros é que sua permanência na presidência da companhia não é mais necessária, o que deve acelerar a transição.

Conselheiros e investidores Investidores esperam de Pimenta relação mais próxima com autoridades federais e estaduais, de quem a empresa depende para obter licenciamentos e para destravar a renovação da concessão de ferrovias da companhia.

A Vale chegou a fechar acordos para renovar as concessões durante o governo Jair Bolsonaro (PL), mas o governo Lula decidiu rever os termos e espera receber mais dinheiro da empresa em troca da extensão de prazo.

Outro ponto crítico é a negociação do acordo para reparação das vítimas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana, um dos focos de atrito com o governo federal. Na divulgação do balanço do segundo trimestre, Pimenta afirmou que estava otimista com um desfecho próximo.

A solução interna para a sucessão foi celebrada pelo mercado, já que indica continuidade na estratégia da empresa. “Entendemos que a escolha de Pimenta, num primeiro momento, deve resultar em um movimento positivo para as ações da empresa”, escreveu a corretora Ativa nesta terça (27).

As ações da empresa subiam 3,01% no pregão da B3 desta terça, também beneficiadas por repique no preço do minério. Mas o desempenho ainda está longe de recuperar as perdas acumuladas no ano, que foram impulsionadas pelas incertezas em relação à sucessão.

NICOLA PAMPLONA E CATIA SEABRA / Folhapress

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