Festival de Veneza abre com ‘Coringa’ e Walter Salles na disputa principal

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Talvez não impressione mais ter um vilão da DC Comics nas telas de um prestigiado festival de cinema. Desde que o “Coringa” de Todd Phillips venceu o Leão de Ouro, prêmio máximo do Festival de Veneza, há cinco anos, os filmes hollywoodianos têm tomado cada vez mais espaço ali. Mas não deixa de ser curioso ver o teimoso Beetlejuice abrindo agora o evento italiano.

A 81ª edição do festival tem início nesta quarta com a estreia mundial de “Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice”, sequência do clássico também assinado por Tim Burton e que não participa da premiação.

“Coringa: Delírio a Dois” é um dos destaques da competição pelo Leão de Ouro na mostra que vai até 7 de setembro. O filme volta ao atormentado Arthur Fleck, papel de Josephin Quinn, que aguarda o julgamento dos crimes cometidos enquanto Coringa. No processo, ele se apaixona pela Arlequina, personagem clássica das HQs agora encarnada pela cantora Lady Gaga.

Crítico ao atual estado do cinema de super-heróis, mas ansioso com o retorno do icônico vilão em particular, Pedro Almodóvar também retorna, trazendo “The Room Next Door”, finalizada em cima da hora para a estreia no festival. O filme segue a relação entre Martha, papel de Tilda Swinton, e sua amiga Ingrid, vivida por Julianne Moore, que tenta ajudar a primeira a reatar os laços com a mãe depois de uma briga turbulenta. O projeto é o primeiro longa-metragem da carreira do cineasta feito no Reino Unido.

Em disputa com o diretor espanhol, Luca Guadagnino estreia “Queer”, romance baseado em um livro do americano William S. Burroughs. Protagonizado por Daniel Craig, o filme acompanha William Lee, um homossexual que luta contra o vício em drogas na Cidade do México dos anos 1950. O longa tem gerado expectativas pelo que se espera da representação de seu conteúdo sexual.

Para os brasileiros, a empolgação é particularmente interessante. Dez anos depois de seu último longa, Walter Salles renova a parceria com Fernanda Torres –que dirigiu no premiado “Terra Estrangeira”, de 1995– em “Ainda Estou Aqui”, adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.

Ao lado de Selton Mello, Torres divide a personagem Eunice com a própria mãe, Fernanda Montenegro. O longa acompanha a trajetória de uma mulher que se tornou advogada depois de perder o marido, Rubens Paiva, acusado de ter ligações com o Partido Comunista Brasileiro, pelas mãos de agentes do regime militar.

Fora da competição principal, o Brasil ainda marca presença com “Manas”, de Marianne Brennand, e “Alma do Deserto”, de Mônica Taboada-Tapia. Os filmes foram selecionados para a mostra paralela Giornate degli Autore, que se inspira na Quinzena dos Realizadores de Cannes. O país ainda está representado pelo curta-metragem “Minha Mãe É uma Vaca”, na mostra paralela Orizzonti, e apresenta o novo filme da diretora Petra Costa, “Apocalipse nos Trópicos”, fora de competição.

O Brasil também está presente no júri deste ano, presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert. Kleber Mendonça Filho compõe o grupo que vai definir o vencedor do Leão de Ouro, junto do americano James Gray, do britânico Andrew Haigh, da polonesa Agnieszka Holland, do mauritano Abderrahmane Sissako, do italiano Giuseppe Tornatore, da alemã Julia von Heinz e da chinesa Zhang Ziyi.

Seguindo pelo mesmo teor político de “Ainda Estou Aqui”, outros destaques da competição principal são “The Order”, de Justin Kurzel, e “Jouer avec le Feu”, da dupla de diretoras Delphine Coulin e Muriel Coulin. O primeiro acompanha as investigações de um detetive interpretado por Jude Law, e tem como pano de fundo uma série de crimes cometidos por supremacistas brancos no estado americano de Idaho, no início dos anos 1980. O segundo, por sua vez, acompanha a vida de Pierre, papel de Vincent Lindon, um ferroviário, pai de dois rapazes, que percebe uma atração crescente entre os seus filhos e células de extrema direita.

O diretor Wang Bing também dá as caras com a conclusão do seu grande manifesto sobre os efeitos da economia sobre as relações sociais. “Youth (Homecoming)” é o desfecho da trilogia de um dos maiores documentaristas chineses ainda em atividade e acompanha acompanha a vida de jovens trabalhadores que, após abandonar o campo em busca de oportunidade na indústria têxtil, são obrigados a voltar para casa.

Ainda em competição, o festival exibe a conclusão de outra trilogia, desta vez “espiritual”, do chileno Pablo Larraín. Estrelado por Angelina Jolie, “Maria” adapta os conceitos trágicos de “Jackie” e “Spencer” –outros filmes que dramatizam a falência da vida privada de importantes mulheres públicas– para acompanhar a cantora de ópera Maria Callas numa espiral de sofrimentos durante os seus últimos dias na Paris dos anos 1970.

Entre os homenageados da edição, o realizador francês Claude Lelouch exibe seu novo filme, “Finalement”, fora de competição, e recebe o prêmio Gloria, que é anualmente dedicado a uma personalidade que teve grande contribuição criativa para a indústria do cinema. Ao seu lado, estarão a atriz americana Sigourney Weaver e o realizador austríaco Peter Weir receberão um Leão de Ouro em homenagem às suas carreiras.

Veja a seguir a lista completa dos longas que concorrem ao prêmio principal:

“The Room Next Door”, de Pedro Almodóvar

“Campo di Battaglia”, de Gianni Amelio

“Leurs Enfants Après Eux”, de Ludovic Boukherma e Zoran Boukherma

“The Brutalist”, de Brady Corbet

“Jouer avec le Feu”, de Delphine Coulin e Muriel Coulin

“Vermiglio”, de Maura Delpero

“Iddu (Sicilian Letters)”, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

“Queer”, de Luca Guadagnino

“Love”, de Dag Johan Haugerud

“April”, de Dea Kulumbegashvili

“The Order”, de Justin Kurzel

“Maria”, de Pablo Larraín

“Trois Amies”, de Emmanuel Mouret

“Kill the Jockey”, de Luis Ortega

“Coringa: Delírio a Dois”, de Todd Phillips

“Babygirl”, de Halina Reijn

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles

“Diva Futura”, de Giulia Louise Steigerwalt

“Harvest”, de Athina Rachel Tsangari

“Youth (Homecoming)”, de Wang Bing

“Stranger Eyes”, de Yeo Siew Hua

DAVI GALANTIER KRASILCHIK / Folhapress

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