SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O plano do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de reforçar sua campanha nos bairros por meio das centenas de candidatos de sua aliança pode ser outra frente prejudicada pelo avanço do influenciador Pablo Marçal (PRTB).
Na última semana, aspirantes a vereador que integram a coligação de Nunes passaram a defender ou apoiar explicitamente o rival, que ganha espaço entre eleitores da direita e do bolsonarismo. Outros omitem o rosto e o nome do prefeito em seus materiais de campanha, como mostrou o Painel.
Em resposta, os partidos ameaçam punir os postulantes que não seguirem as orientações da chapa. Já os candidatos justificam que fizeram acordos de independência com suas legendas, e outros afirmam que tinham consciência da possibilidade de retaliação.
Procurada, a campanha de Nunes disse que o “prefeito reuniu, numa frente ampla, a maior coligação da história da cidade de São Paulo”, com 12 siglas e 542 candidatos a vereador, e que “essa amplitude de forças políticas reflete o sentimento do excelente trabalho realizado pela cidade”.
Entre os que declararam apoio explícito a Marçal está o deputado federal suplente Daniel José (Podemos). Ele fixou no topo de seu Instagram um vídeo ao lado do autodenominado ex-coach. Com uma carteira de trabalho em mãos, o empresário apresenta o jovem como “o terror dos comunistas” e pede votos.
José diz que perdeu R$ 1 milhão do fundo eleitoral e tempo de propaganda na televisão pela escolha. “Eu tomei essa decisão logo no inicio da campanha e sabia que de alguma maneira ia vir alguma punição. Mas eu acredito que o Marçal tem o perfil ideal para combater a nossa maior ameaça, que é [o deputado do PSOL Guilherme] Boulos chegar à prefeitura.”
A ex-deputada federal Joice Hasselmann (Podemos), pivô de uma crise entre Nunes e a família Bolsonaro na última semana, também desembarcou da campanha do emedebista. “[Marçal] está igual massa de pão: quanto mais bate, mais cresce”, disse em suas redes, mas foi rejeitada e chamada de traíra pelo influenciador.
O Podemos, então, reforçou o “apoio maciço” ao prefeito. Respondeu que apenas 2 de seus 56 candidatos mudaram de posicionamento e não vai fornecer a eles materiais sem Nunes. “Também não vai conceder tempo de rádio e TV nem mais recursos de fundo partidário àqueles que não seguirem o que foi votado em convenção.”
Outro que buscou o claro apoio de Marçal foi Adrilles Jorge (União Brasil), ex-BBB e ex-comentarista da Jovem Pan. “Marçal fez o que o povo quis: criticou [o ministro do STF] Alexandre de Moraes e sua ditadura. E fez a generosidade de apoiar minha candidatura. Gratíssimo, Marçal”, escreveu em vídeo com o influenciador.
Adrilles afirmou à reportagem que Milton Leite, presidente da sigla na capital, lhe “deu total liberdade”. “Foi a condição para eu entrar no União Brasil”, escreveu, opinando que “ninguém com real espectro centro-direita tem gosto de apoiar Nunes dentro do próprio PL, a própria família Bolsonaro já disse isto”.
Questionado, porém, Leite subiu o tom e declarou que “o União Brasil não aceita nenhuma defecção”.
O atual presidente da Câmara Municipal disse que vai considerar como infidelidade partidária o apoio de qualquer integrante do União a outro candidato que não seja Nunes. “Não vou aceitar campanha fora desses termos e, inclusive, se for detentor de mandato, o partido pedirá a cadeira”, ameaçou.
Ainda dentro do União Brasil, o vereador Rubinho Nunes gravou vídeo dizendo que “a única forma de exorcizar um comunista é com a carteira de trabalho”, símbolo de Marçal. Já a médica bolsonarista Nise Yamaguchi ecoou o discurso de censura do influenciador quando a Justiça suspendeu suas redes sociais.
Também no mesmo partido, o vereador Eli Corrêa distribuiu santinhos com o número de prefeito em branco. Sua equipe nega que tenha sido intencional, diz acreditar que houve um erro gráfico específico e enfatiza que “está com Ricardo Nunes”, enviando fotos de outros três cartazes que incluem o emedebista.
A ex-deputada estadual Janaina Paschoal (PP), por sua vez, recentemente acenou à candidata a vice de Marçal, a policial militar Antonia de Jesus, a quem chamou de “Kamala [Harris] à direita”. Também escreveu que “assinava embaixo” da ideia de gerar empregos na periferia após assistir a uma entrevista de Marçal.
“Quando me filiei ao PP, o partido já estava na base do prefeito. Eu disse que me filiaria, se pudesse seguir independente”, diz ela, afirmando que não recebeu material de campanha conjunto “justamente por essa relação de independência” e acrescentando “não ter nada contra” Nunes e que “ainda não definiu seu voto” para prefeito.
Além deles, Claudia Baronesa (Republicanos), mãe do funkeiro MC Gui, também compareceu com bandeiras em um evento de campanha de Marçal na zona oeste de SP no domingo (25), como mostrou o Painel, a quem a candidata disse que estava “tudo conversado” com a direção de seu partido.
“O candidato do Republicanos para a Prefeitura de São Paulo é o atual prefeito, Ricardo Nunes”, rebateu a legenda. “Eventuais divergências nesse sentido são tratadas diretamente com a coordenação de cada campanha, e pelo nosso departamento jurídico, nos termos do estatuto.”
Diversos candidatos a vereador estão ainda omitindo o nome e a foto de Nunes em suas redes. Entre eles estão os influenciadores bolsonaristas Zoe Martínez e Lucas Pavanato, apostas do PL, e a vereadora Sonaira Fernandes, que chegou a ser cotada como vice do emedebista pelo partido de Jair Bolsonaro.
JÚLIA BARBON / Folhapress