SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem até a segunda semana de setembro para sancionar ou vetar o Projeto de Lei (PL) 868/2023 que prevê a distribuição gratuita, pelo Poder Executivo, de medidor contínuo de glicose para pessoas com diabetes tipo 1. Segundo especialista da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), o sensor pode diminuir complicações crônicas do diabetes.
O diabetes tipo 1 é a deficiência na produção de insulina que acontece quando o sistema imunológico combate as células do pâncreas que produzem o hormônio. Ele é responsável por regular a quantidade de glicose no sangue.
O sensor é um aparelho usado na pele que monitora, de maneira contínua, a quantidade de glicose subcutânea. Segundo Karla Melo, coordenadora do Departamento de Saúde Pública, Epidemiologia, Economia da Saúde e Advocay da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o medidor gera gráficos de 24 horas do valores de glicose e um relatório de monitorização muito rico em detalhes.
Além disso, o sensor indica tendências da glicose. “A seta reta significa que ela está em estado de mínima variação. A seta um pouco inclinada para cima significa que a minha glicose está subindo 30mg/dl em 30 minutos. Se estiver toda inclinada para cima, na vertical, vai ser o dobro, 60mg/dl em 30 minutos”, explica Melo.
Segundo a médica, essa é uma das vantagens do sensor contínuo em relação aos aparelhos que medem a glicose no sangue a partir de tiras. “Quando eu furo meu dedo, eu sei quanto está minha glicose naquele momento, não sei se ela está subindo, se ela está baixando, se ela está estável, eu vou ter só uma foto daquele momento”, afirma.
A médica diz que o sensor permite que a pessoa possa se antecipar em relação à variação. “Se eu vejo que a minha seta está toda para baixo, isso quer dizer que em 30 minutos pode ser que eu tenha uma hipoglicemia. Então me antecipo, como uma fruta ou a quantidade suficiente de carboidratos de absorção rápida para restaurar glicemia.”
Melo conta que o aparelho é importante, principalmente, para evitar hipoglicemias noturnas em pessoas com diabetes tipo 1. Segundo a médica, a pessoa pode ter uma hipoglicemia nivel 1, que é quando ela sabe que a glicose está baixa, tem um sintoma e a corrige comendo alguma coisa com carboidratos.
“Imagina se isso acontece durante o sono? Muitas vezes a pessoa não vai despertar porque durante o sono os sintomas podem não ficar tão evidentes. E essa hipoglicemia noturna pode evoluir mais facilmente para uma hipoglicemia grave, que é quando eu não consigo resolver minha hipoglicemia sozinha porque já tive comprometimento no meu nível de consciência, estou desorientada, eu não consigo pegar açúcar”, questiona a médica.
Beatriz Scher tem diabetes tipo 1 há 24 anos e é influencer sobre o tema. Ela conta que, antes de usar o sensor de monitoramento contínuo, tinha bastante hipoglicemia noturna. Ela usa um sensor de glicose atrelado à bomba de infusão de insulina.
“Eu comecei a usar nove anos atrás e diminuiu bastante minha frequência de hipoglicemias. Eu tinha uma frequência de hipoglicemia de praticamente uma por dia, pelo menos. Agora eu tenho uma a cada 15 dias, a cada mês”, relata.
Scher destaca que o mais importante no medidor contínuo são os alarmes. “Se tiver com risco de hipoglicemia de madrugada, o celular vai apitar, então vai acordar a pessoa, vai ajudar para tomar uma atitude antes de chegar num estado crítico”, ressalta.
A bomba de infusão de insulina e o sensor de Scher foram obtidos por via judicial. Porém, a influencer não acredita que a judicialização é a solução. “Eu acredito que ter políticas públicas é a solução. Já tem até estudos que falam, que comprovam que é mais barato prevenir do que tratar a complicação.”
Melo afirma que, no curto prazo, o uso do sensor contínuo de monitoramento de glicose reduziu os valores da hemoglobina glicada, exame que mostra a média de glicemia dos últimos três meses.
A longo prazo, isso representa uma “redução de complicações crônicas relacionadas ao diabetes e isso é algo que do ponto de vista financeiro traz um impacto importante”, diz e continua: “Isso evita o aparecimento de cegueira, de doenças renais com necessidade de diálise, de transplante. São complicações que de fato comprometem a qualidade de vida de pessoas com diabetes”.
O PL 868/2023 prevê a distribuição do sensor contínuo de glicose somente para pessoas com diabetes tipo 1. Segundo Melo, “a pessoa com diabetes tipo 1 é muito sensível à insulina. A pessoa com diabetes tipo 2, é menos sensível, tolera melhor doses mais altas de insulina, sem ter hipoglicemia, porque tem uma resistência maior na ação do hormônio”.
JULIANA MATIAS / Folhapress