SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mauricio Pozzobon Martins, cunhado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi nomeado assessor especial parlamentar no gabinete do deputado estadual Danilo Campetti (Republicanos) na Assembleia Legislativa de São Paulo.
A nomeação ocorreu no último dia 20, e o salário previsto para o cargo é de R$ 20.535,08, de acordo com as informações de transparência do Legislativo paulista.
Segundo suplente do Republicanos, Campetti assumiu o mandato em junho, após articulação de Tarcísio para abrir a vaga ao aliado na Assembleia.
O acordo envolveu o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que nomeou o deputado estadual Rui Alves (Republicanos) na secretaria municipal de Turismo. Campetti, então, assumiu o gabinete de Rui Alves e manteve a equipe do antecessor.
Entre as poucas novas contratações do seu mandato, está a de Martins, cunhado do governador. A primeira suplente do Republicanos, Coronel Helena Reis, é secretária de Esportes no governo Tarcísio.
Desde que chegou ao Palácio dos Bandeirantes, o governador buscou abrigar o cunhado em cargos públicos. Em janeiro de 2023, nomeou Martins como assessor especial, mas recuou no dia seguinte, dizendo desconhecer a norma do STF (Supremo Tribunal Federal) que considera nepotismo a contratação de concunhados.
Em maio do ano passado, o cunhado foi aprovado como membro do comitê de auditoria da Desenvolve SP, agência de fomento paulista, com salário de R$ 14,5 mil.
Em nota, o deputado Campetti afirma que Martins foi nomeado em seu gabinete “por suas qualificações profissionais, técnicas e acadêmicas ilibadas”. “Além disso, é pessoa de minha extrema confiança, não havendo, portanto, nenhum tipo de impedimento para que ele exerça suas atividades”, completa.
Tarcísio foi procurado por meio da assessoria de imprensa do governo, que enviou nota afirmando que “as nomeações realizadas no âmbito do Poder Legislativo para atuação em gabinetes de parlamentares estão sujeitas às normas constitucionais específicas e não se inserem na competência do chefe do Executivo estadual”.
Militar da reserva e casado com a irmã da primeira-dama Cristiane Freitas, Martins já havia sido contratado pela campanha eleitoral do governador, como mostrou a Folha. Ele recebeu R$ 40 mil a título de serviços de administração financeira.
Também foi esse mesmo cunhado que alugou a Tarcísio um apartamento em São José dos Campos, no interior de São Paulo, por valor inferior ao de mercado. Avaliado em cerca de R$ 1,6 milhão, o imóvel foi alugado por R$ 1.185 por mês.
Para comprovar o domicílio eleitoral em São Paulo na época da campanha, Tarcísio, que é carioca e fez carreira em Brasília, apresentou à Justiça Eleitoral o contrato de aluguel firmado com Martins.
Conforme a Folha mostrou, Tarcísio não vivia no imóvel, que estava em reforma. À reportagem ele disse, na ocasião, manter base na capital devido aos compromissos de campanha.
Martins foi para a reserva em 2019. Segundo o currículo dele, desde então e até junho de 2021, o militar atuou na Infraero, órgão vinculado ao Ministério da Infraestrutura, que era comandado por Tarcísio.
O agora deputado Campetti, por sua vez, também mantém relação de proximidade com Tarcísio, de quem foi assessor no Ministério da Infraestrutura. Policial federal licenciado, ele estava presente no tiroteio que interrompeu a agenda de Tarcísio, então candidato, em Paraisópolis.
Tarcísio e Campetti foram alvos de uma ação na Justiça Eleitoral que os acusava de usar instrumentos de trabalho do policial, como arma e distintivo, em benefício da campanha de Tarcísio, o que é proibido. O caso foi julgado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com decisão favorável ao governador.
Assim como fez com seu cunhado, Tarcísio buscou abrigar Campetti em cargos públicos e chegou a nomeá-lo seu assessor no governo paulista, mas a Polícia Federal reivindicou o policial de volta para seus quadros em junho de 2023.
Desde então, o governador se empenhou em articulações para emplacar um deputado estadual do Republicanos em outros cargos e, assim, ajudar Campetti a assumir seu mandato, o que só se concretizou um ano depois.
CAROLINA LINHARES / Folhapress