RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em mais um sinal de aquecimento do mercado de trabalho, a taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,8% no trimestre encerrado em julho, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É o menor patamar para esse período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Até então, a mínima para o trimestre até julho havia sido registrada em 2014 (7%).
O IBGE associou o novo resultado à melhoria da renda do trabalho. Os ganhos de rendimento estariam beneficiando o consumo das famílias e, assim, aquecendo a demanda por profissionais no mercado.
“A renda é uma âncora importante para o consumo”, disse a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy. “A inferência que a gente pode fazer aqui é de melhoria do mercado de trabalho que se dá pela expansão do consumo das famílias, acompanhado de crescimento da renda.”
No trimestre até julho, o rendimento médio das pessoas ocupadas com algum tipo de trabalho foi estimado em R$ 3.206 por mês. Considerando apenas os períodos até julho na série histórica, um valor maior do que esse só foi observado em 2020 (R$ 3.267).
À época, a pandemia expulsou do mercado principalmente os trabalhadores informais, que costumam ganham menos. Essa mudança de composição e não grandes reajustes salariais é apontada como responsável por aumentar a média da renda de quem permaneceu empregado na fase inicial da crise sanitária.
Ao chegar a R$ 3.206 até julho deste ano, o rendimento teve variação positiva de 0,7% ante abril (R$ 3.183). O IBGE, porém, considera o percentual dentro da margem de estabilidade da pesquisa.
Na comparação com o trimestre até julho do ano passado (R$ 3.058), a renda cresceu 4,8%. Os dados são ajustados de acordo com a inflação.
A taxa de desemprego estava em 7,5% no trimestre até abril. O novo resultado (6,8%) veio um pouco abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6,9%, segundo a agência Bloomberg.
De acordo com o IBGE, o número de desempregados recuou a 7,4 milhões até julho. É o menor desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015 (6,9 milhões).
O contingente de desocupados caiu 9,5% ante o período encerrado em abril (menos 783 mil) e 12,8% na comparação com um ano antes (menos 1,1 milhão).
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo nas estatísticas oficiais.
A taxa de desemprego já havia marcado 6,9% no trimestre encerrado em junho. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre períodos com meses repetidos, como é o caso dos intervalos finalizados em junho e julho.
POPULAÇÃO OCUPADA CHEGA A 102 MILHÕES
A população ocupada com algum trabalho chegou a 102 milhões. Assim, renovou o recorde dos diferentes trimestres da série iniciada em 2012.
Segundo o IBGE, o contingente cresceu 1,2% na comparação trimestral (mais 1,2 milhão) e 2,7% em relação a um ano antes (mais 2,7 milhões).
Já o nível da ocupação foi estimado em 57,9% até julho. Trata-se do percentual de pessoas que estavam trabalhando (ocupadas) em relação ao total de 14 anos ou mais. O pico ocorreu nos trimestres finalizados em novembro e dezembro de 2013 (58,5%).
A Pnad Contínua abrange tanto atividades formais quanto informais. Ou seja, contempla desde as vagas com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.
Os empregados do setor privado chegaram a 52,5 milhões até julho, o maior contingente da série. Já os empregados do setor público alcançaram o recorde de 12,7 milhões.
No setor privado, houve máximas tanto no número de empregados com carteira assinada quanto no contingente sem carteira: 38,5 milhões e 13,9 milhões, respectivamente.
“O principal ponto do trimestre até julho é que reforça o cenário aquecido que a gente já viu no final do primeiro semestre. É uma taxa de desemprego historicamente baixa”, afirma o economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Na visão do pesquisador, o crescimento da renda é um fator importante para entender os dados, porque o movimento “ajuda a girar a roda” do mercado de trabalho.
Outro aspecto que estimula a geração de empregos é o comportamento positivo mais disseminado das atividades econômicas em 2024, conforme Tobler. No ano passado, os ganhos ficaram mais concentrados na agropecuária, diz o economista.
“O mercado de trabalho surfa essa onda também”, aponta.
No trimestre até julho, a atividade que impulsionou a ocupação no setor privado foi o comércio, disse o IBGE. O número de pessoas ocupadas nesse segmento chegou a 19,3 milhões. É outro recorde da série histórica.
POSSÍVEL PERDA DE RITMO
Para Tobler, a taxa de desemprego deve permanecer em torno de 7% até o final do ano, em relativa estabilidade.
Ele lembra que, antes de atingir 6,8% até julho, o indicador já estava em 6,9% até junho, o que pode sinalizar alguma perda de fôlego.
“A taxa pode estar chegando ao ponto de andar de lado”, afirma o economista.
A taxa de informalidade, por sua vez, foi de 38,7% até julho. O indicador mede o percentual de informais em relação ao total de ocupados. A máxima dos diferentes trimestres foi registrada até agosto de 2019 (41%), antes da pandemia.
REFLEXOS NO PIB E NA INFLAÇÃO
Após a crise da Covid-19, o mercado de trabalho mostrou retomada no Brasil. O desempenho aquecido reforçou projeções de PIB (Produto Interno Bruto), mas trouxe alerta para um possível impacto na inflação.
Conforme economistas, a sequência de avanços do emprego e da renda tende a beneficiar neste ano o consumo das famílias, considerado motor da atividade econômica.
O possível efeito colateral da procura por bens e serviços em alta, de forma contínua, é a pressão sobre os preços, o que desafiaria o processo de desinflação.
O resultado do PIB do segundo trimestre deste ano será divulgado pelo IBGE na próxima terça (3).
LEONARDO VIECELI / Folhapress