SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tema que não escapou à polarização nacional entre o lulismo e o bolsonarismo, o bloqueio da rede social X (antigo Twitter) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, separou os candidatos à Prefeitura de São Paulo em diferentes trincheiras de opinião.
A medida foi criticada por Ricardo Nunes (MDB) e defendida por Guilherme Boulos (PSOL) neste sábado (31), durante seus eventos de campanha, enquanto Pablo Marçal (PRTB) não entrou no assunto e se manteve indiferente.
Questionada pela Folha, a assessoria de Marçal enviou, no sábado, uma frase dele a respeito do bloqueio da rede social. “O X eu não sei, mas o M estão tentando bloquear a todo custo”, declarou.
Por enquanto, o bloqueio do X é tratado pelas equipes das campanhas como um tema lateral –não aparece nas páginas do Instagram dos três candidatos, por exemplo, e só foi mencionado por Nunes e Boulos para responder a perguntas da imprensa.
Mas, como toda questão ideológica, tem potencial para ser utilizada com objetivo de fustigar os rivais.
A equipe de Nunes, por exemplo, está atenta à indiferença de Marçal em um tema especialmente caro para os bolsonaristas, público que é disputado entre o prefeito e o influenciador.
A crítica é a de que Marçal tem sido eloquente em seu protesto por ter tido seus perfis em redes sociais suspensos pela Justiça Eleitoral, denunciando o caso como censura, mas não se mobilizou da mesma forma em relação ao bloqueio do X, que também é considerado censura pela direita conservadora.
Em um momento em que Nunes vê aliados políticos, parlamentares bolsonaristas e eleitores migrarem para a campanha do rival, a questão do X se tornou uma oportunidade para que o prefeito demonstre alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Neste sábado (31), durante uma visita à periferia da zona sul, Nunes afirmou que o Brasil “sai da lista dos países da real democracia” e que a decisão de Moraes “é para lamentar”.
“A censura é sempre algo que vai em desencontro à nossa democracia. O Brasil entra agora como o sétimo colocado numa lista de países que acabaram excluindo o X. Não podemos concordar de forma nenhuma. A gente preza pela democracia, pela liberdade de expressão”, disse o prefeito.
Durante um comício em Londrina (PR), Bolsonaro disse, sem citar o nome de Moraes, que “estamos vendo, cada vez mais, quem queria e quem está impondo uma ditadura no nosso país”.
Tarcísio foi na mesma linha ao afirmar, no próprio X antes do bloqueio, que “a liberdade é inegociável”.
Em outro gesto para o bolsonarismo, Nunes já afirmou que vai à manifestação marcada para o 7 de setembro, na avenida Paulista, com a presença de Bolsonaro. O mote do ato é justamente protestar contra Moraes –e a ordem de bloquear o X impulsionou a convocação.
Marçal, por sua vez, não definiu se irá comparecer, embora aliados do ex-presidente digam esperar a presença do influenciador.
A crítica a Moraes é um tópico que já causou desavença entre Marçal e bolsonaristas anteriormente.
Um dos imbróglios envolveu uma entrevista que Marçal daria ao comunicador bolsonarista Paulo Figueiredo no mês passado e que acabou desmarcada pelo candidato. Segundo Figueiredo, Marçal desistiu de participar do seu programa para evitar perguntas sobre Moraes.
Houve ainda um segundo episódio, quando o pastor Silas Malafaia e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) criticaram Marçal, também no mês passado, pelo fato de o influenciador ter se manifestado contra um impeachment de Moraes após as revelações da Folha de que o ministro havia agido fora do rito para investigar bolsonaristas.
A tese de Marçal era a de que o presidente Lula (PT) estava por trás do impeachment para nomear um novo ministro do STF. Carlos afirmou que o candidato “passou pano” para o ministro, e Malafaia disse que aquilo era uma “conversa fiada”.
“É amiguinho dele? Você nunca me enganou e não vai ser agora!”, escreveu o pastor.
Os bolsonaristas lembraram ainda que Marçal esteve na posse de Moraes no TSE, em 2022, mas o influenciador afirma que foi ao local na condição de candidato a presidente, como os demais adversários.
No outro campo, Boulos demonstrou alinhamento com as opiniões de Lula e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Ele não poupou críticas ao dono do X, Elon Musk, ao defender a decisão de Moraes.
“Uma grande corporação, uma big tech, ainda mais uma presidida por um alucinado de extrema direita como Elon Musk não está acima das leis brasileiras. A lei foi cumprida”, disse neste sábado, durante visita à zona leste.
Destoando dos principais adversários, Boulos demarcou sua posição de esquerda nesse tema, o que deve ser incluído no arsenal dos rivais que já o ligam à ditadura e ao autoritarismo por conta de outros assuntos, como o apoio no passado ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.
Ao mesmo tempo, porém, Boulos atua no sentido contrário em relação a outros temas caros para a esquerda –vem suavizando suas opiniões progressistas ao falar de aborto e legalização das drogas, na tentativa de evitar ser visto como radical e de conquistar o eleitor de centro.
CAROLINA LINHARES / Folhapress