SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A morte do diretor e escritor italiano Pier Paolo Pasolini continua cercada por mistérios após mais de quatro décadas. O corpo do artista foi encontrado ensanguentado, com marcas de espancamento e de atropelamento em Roma, no dia 2 de novembro de 1975.
Na época, Giuseppe Pelosi, então com 17 anos, confessou ter sido o único responsável pelo crime. Em depoimento, o adolescente disse que o diretor o teria atacado durante um encontro sexual, motivo pelo qual decidiu matá-lo. Ele foi condenado, mas o homicídio nunca foi de fato esclarecido.
Décadas após a confissão, Pelosi voltou atrás e disse que assumiu a culpa por ter sofrido coerção. Em 2005, durante uma entrevista na televisão, ele afirmou que dois homens haviam matado Pasolini, chamando-o de “bicha” e “comunista imundo” enquanto o espancavam até a morte.
As lacunas em torno da morte voltaram a ser alvo de escrutínio depois que o Financial Times publicou uma extensa reportagem sobre o caso, no final de agosto.
O texto detalha a investigação independente promovida pelo advogado Stefano Maccioni desde 2008. Ao longo do trabalho, ele encontrou inconsistências que colocam em xeque a confissão de Pelosi.
Uma delas diz respeito à ausência de sangue no interior do carro de Pasolini que o jovem usou para fugir da cena do crime. Isso gerou estranhamento porque ele disse que estava pingando de sangue quando entrou no veículo.
Maccioni também encontrou evidências que sugerem a participação de outras pessoas embora o jovem tenha sido condenado como o único autor do assassinato. O advogado identificou vestígios de DNA que indicavam a presença de pelo menos mais cinco pessoas na cena do crime.
Em 1976, a política disse que Pelosi agiu com “cúmplices desconhecidos”. No julgamento, porém, os outros participantes foram excluídos do veredito e a culpa foi atribuída integralmente ao jovem.
Durante sua investigação, Maccioni levantou a possibilidade de Pasolini ter sido vítima de um crime político, algo comum na Itália dos anos 1970. Ele sustenta essa hipótese porque o cineasta conduzia investigações sobre figuras poderosas, como Enrico Mattei, presidente da estatal de petróleo Ente Nazionale Idrocarburi (ENI).
À época, Pasolini estava escrevendo o romance “Petróleo”, que narra a história de um engenheiro da ENI que tem dupla personalidade -católico e empenhado, de um lado, e sensual e diabólico, do outro. Na obra inacabada, a empresa é descrita como um centro de poder obscuro.
Munido dessas evidências, Maccioni tentou reabrir o caso, mas recebeu sucessivas negativas da Justiça italiana.
Redação / Folhapress