SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um conjunto de medidas tomadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tornou o momento ideal para os fundos de infraestrutura, que têm entregado rentabilidade superior a outros investimentos alternativos, como os fundos imobiliários e os fiagros (fundos do agronegócio).
Os fundos de investimento em infraestrutura aplicam em títulos de dívida de concessionárias e empresas autorizadas a explorar serviços públicos de diversos setores, como rodovias, saneamento e energia, e têm como uma característica importante a isenção do Imposto de Renda. Isso se eles tiverem ao menos 85% de suas alocações em debêntures incentivadas.
Nos estandes da Expert XP, um dos maiores eventos da Faria Lima que aconteceu entre sexta (31) e sábado (1) em São Paulo, não se falava em outro assunto. Os espaços de gestoras que estão bem posicionadas nesse investimento, inclusive, estavam lotados.
Um levantamento feito pela Guide Investimentos em junho mostrou que, além dos investimentos alternativos, os fundos de infraestrutura superaram também o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e o IMA-B (índice financeiro que reúne os títulos públicos atrelados à inflação).
Na média, a carteira dos chamados FI-Infras (fundos de infraestrutura) está por volta de IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mais 7,8%, segundo a Guide.
“Mantemos nossa visão positiva com os fundos de infraestrutura em função das taxas elevadas e do risco relativamente baixo”, diz a casa de análise.
Os principais motivos que têm levado os investidores aos FI-Infras dizem respeito à tributação e aos incentivos do governo ao setor. A taxação dos fundos exclusivos e a restrição da emissão dos títulos de crédito privado CRI e CRA (certificados de recebíveis de infraestrutura e do agronegócio), e LCI e LCA (letras de crédito de infraestrutura e do agronegócio), que são isentos, são alguns dos fatores que têm levado os investidores para os fundos de infraestrutura.
Além disso, com medidas como o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Lula tem demonstrado empenho em incentivar os investimentos em infraestrutura como indutores do crescimento econômico do país.
“A verdade é que o governo mexeu recentemente nas regulamentações de LCI, de LCA, de CRI e de CRA, mas ele não mexeu no FI-Infra. Então, todo mundo que ficou restrito tem olhado para esse outro ponto”, diz Daniela Gamboa, diretora de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos.
A SulAmérica, que possui atualmente R$ 76 bilhões em ativos sob gestão, está em fase de estruturação de um IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) na B3 de um fundo de investimento em infraestrutura. É o primeiro fundo que a gestora vai abrir na Bolsa em toda sua história.
Outra gestora que também está para fazer IPO de um fundo de infraestrutura na Bolsa é a JivaMauá, que hoje tem R$ 19 bilhões sob gestão. A oferta será liquidada na próxima quarta-feira (4). Como está muito próxima a oferta, a gestora está em período de silêncio e não pôde ceder entrevista à Folha. A reportagem passou pelo estande da Jive na Expert XP, que observou grande procura pelo público do evento.
A Sparta, por sua vez, já está há algum tempo posicionada em FI-Infra e agora está surfando nessa onda. A gestora possui dois fundos de infraestrutura listados na Bolsa, um que rende IPCA+9,7% ao ano, com rendimento acumulado em 12 meses de 16,3%, e outro pós-fixado, que rende CDI+4,2%, com rendimento em 12 meses de 15,5%.
Em um ano, a gestora ampliou em 50% o valor de ativos sob gestão, de R$ 10 bilhões para R$ 15 bilhões. Desse total de incremento, R$ 4 bilhões foram com os fundos de infraestrutura.
“Acho que aumentou muito a demanda por infraestrutura de maneira geral porque crédito depende de previsibilidade do emissor, e infraestrutura é onde a gente tem previsibilidade do emissor. E aí isenção as pessoas gostam também”, disse o CEO da Sparta, Ulisses Nehmi.
“Então, como mexeram em todo o resto [fundos exclusivos, LCIs, LCAs, CRIs e CRA] acabou tendo uma demanda maior por isso. E a gente já era a gestora independente que tinha essa pegada mais forte em infraestrutura. Foi o cenário ideal para a gente”, completou.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress