SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O receio de ser assaltado leva três a cada dez brasileiros a deixarem em casa, ou em outro local seguro, seus telefones celulares que contém aplicativos bancários. A estimativa é de uma pesquisa Datafolha que aborda violência, crimes digitais e hábitos com o celular, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha de S.Paulo.
Esse mesmo levantamento aponta que 53% dos entrevistados que têm smartphone já deixaram de circular em alguma área de sua cidade ou em determinados horários por medo de ter o aparelho roubado ou furtado. Além disso, o instituto projeta, com base nas respostas, que ocorreram em média 1.680 roubos e furtos de celulares por hora no país, e que o prejuízo à população foi de R$ 22,7 bilhões em 12 meses.
O Datafolha entrevistou 2.508 pessoas com mais de 16 anos em todas as regiões do Brasil entre os dias 11 e 17 de junho. A pergunta sobre o hábito de deixar o celular em local seguro foi feita a um universo menor de entrevistados, de 1.781 pessoas que disseram ter aplicativos de banco instalados no smartphone. Nos dois casos, a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A proporção de pessoas que deixaram de circular com seus aparelhos é maior entre mulheres (38%) do que entre homens (30%), e também entre os mais velhos. Quatro em cada dez entrevistados com mais de 60 anos afirmam que deixaram de circular nas ruas com celulares que contém apps bancários.
Isso ocorre mesmo que só 5% dos entrevistados nessa faixa etária afirmem que tiveram o celular roubado ou furtado nos últimos meses, o que está abaixo da média. Esse tipo de crime atingiu 9% dos brasileiros no mesmo período, aponta o Datafolha.
Essa medida de prevenção também é tomada com mais frequência nas capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes, se comparadas com os municípios no interior e menos populosos. Afinal, esse tipo de crime ocorre com mais frequência nas metrópoles: nas regiões metropolitanas, 14% afirmam que tiveram o celular roubado ou furtado nos 12 meses anteriores à data da pesquisa. Só 6% dos moradores do interior respondem o mesmo.
O mesmo padrão se percebe entre aqueles que respondem que já evitaram circular em algumas regiões e horários por medo de assalto. Nas capitais, 68% respondem que isso já ocorreu. No interior, 44% dizem a mesma coisa.
Os mais pobres demonstram-se mais precavidos com seus celulares do que os mais ricos. Entre aqueles com renda familiar mensal até dois salários mínimos (R$ 2.824), 40% afirmam que deixam em casa o aparelho com aplicativos bancários. Essa proporção cai para 25% e 24% entre com faixa de renda acima de cinco salários mínimos (R$ 7.060).
A explicação passa pelo potencial impacto financeiro envolvido na perda de um smartphone para as mãos de um criminoso. A mesma pesquisa Datafolha estimou o valor que as vítimas perdem, em média, em diferentes tipos de crime contra o patrimônio, inclusive golpes digitais.
O roubo ou furto de celular está em segundo lugar numa lista de 13 situações diferentes, representando um prejuízo de R$ 1.549, em média. Perde só para fraudes em cartões de crédito, que representam um dano médio de R$ 1.702.
“Quem é mais pobre gasta o dinheiro que equivale a um mês do seu salário, muitas vezes, por um celular”, lembra o diretor-executivo do Fórum, Renato Sérgio de Lima. “Então, [o crime] acaba tendo um impacto muito maior do que para classe com mais poder aquisitivo.”
TULIO KRUSE / Folhapress