Estado de São Paulo já tem 26 candidatos “eleitos”

Número de candidaturas únicas chega a 214 em todo o Brasil; na região, em Batatais e Nuporanga não há concorrência

Na macrorregião de Ribeirão Preto, as cidades de Nuporanga e Batatais têm apenas um candidato, sem opositor | Foto: Rede social

Já imaginou um prefeito sendo eleito com apenas um voto? É o que pode ocorrer em 214 municípios do Brasil nas eleições de outubro. Entre essas cidades, 26 estão no estado de São Paulo, com apenas um candidato registrado. Na macrorregião de Ribeirão Preto, as cidades de Nuporanga e Batatais têm apenas um candidato, sem opositor.

Os dados constam na pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) e foram divulgados em 20 de agosto. Na série histórica de 2000 a 2024, este é o maior número de candidaturas únicas na disputa pelas prefeituras.

O cenário dobrou em comparação com 2020, quando essa situação ocorreu em 107 municípios. Além disso, nestas eleições há uma queda no total de candidatos às prefeituras: 15.441, enquanto na eleição passada foram 19.379. Uma redução, portanto, de 20,3%.

Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, acredita que os desafios crescentes têm desestimulado novas candidaturas. “É uma queda significativa. Quando avaliamos todos esses dados juntos, pensamos na hipótese mais provável de que os desafios crescentes desestimulam as pessoas a entrarem na disputa eleitoral, especialmente para a vaga de prefeito”, analisa.

“E não falo apenas da falta de recursos financeiros e de apoio técnico. As dificuldades incluem questões burocráticas e entraves jurídicos, que tornam a vida pública muito penosa na ponta.”

O único concorrente ao cargo em Batatais é Juninho Gaspar (PP), atual prefeito do município, que busca a reeleição. Em 2020, por exemplo, quatro candidatos disputaram o pleito. Na época, o atual prefeito foi eleito com 59,9% dos votos válidos. Na sequência, Mazzaron (MDB) e Sabará (PCdoB) tiveram 26,44% e 7,81%, respectivamente. Agora, o partido de ambos faz parte da coligação de Juninho.

Por fim, na época, o PSOL lançou Fernando Ferreira, que teve 5,91% dos votos. Sem força política, o partido decidiu não tentar outra candidatura. No município de Nuporanga, Daniel Viana (PSDB) também busca a reeleição e não terá concorrente.

Perfil das cidades

De acordo com os estudos da CNM, a média populacional das cidades com candidato único é de 6.700 habitantes, o que indica que esse fenômeno, em geral, ocorre com mais frequência nas pequenas cidades. Na lista de 214 candidatos únicos de 2024, o município com menor população é Borá (SP), com 907 habitantes, e o de maior população é Batatais (SP), que possui 58.402 habitantes.

No Brasil, o Rio Grande do Sul (61%) lidera a lista de candidaturas únicas, e Goiás (20%) tem menos pretendentes ao cargo, supostamente “já eleitos”. Das 214 cidades com candidatura única pelo Brasil, Minas Gerais tem 41%, e São Paulo 26%.

Nas últimas sete eleições, 699 municípios (12,5% do total) tiveram ao menos um candidato único. Na maioria (562), isso ocorreu apenas uma vez. Em outras 107, o cenário já aconteceu duas vezes. Já em 30 cidades, três ou mais eleições municipais tiveram candidatura única, sendo 12 municípios do Rio Grande do Sul, 5 de São Paulo, 4 do Paraná, 3 da Paraíba, 2 de Minas Gerais, 2 do Rio Grande do Norte, 1 do Piauí e 1 de Santa Catarina.

Perfil dos candidatos

As candidaturas únicas para a prefeitura estão concentradas entre homens brancos e casados, com menor grau de escolaridade, comparado ao total das candidaturas, e idade média de 49 anos. Quanto aos partidos, 64% pertencem a quatro siglas: MDB, PSD, PP e União. Esses partidos detêm 42% do número total de candidatos nestas eleições.

A maioria dos candidatos únicos está em busca da reeleição em 2024, sendo 7 a cada 10, como é o caso de Nuporanga e Batatais. Ou seja, do universo de 214 candidaturas únicas, espera-se 154 gestores reeleitos e 60 novos prefeitos ou prefeitas.

Entre os partidos

No Brasil, o MDB é o partido com mais candidatos únicos (50), o PSD tem 34, o PP 27, o União 24, o PL 16, Republicanos 13, PT 10, PSB 9, Podemos 8, PSDB 7, PDT 8 e Avante 5.

Avaliando os recortes regionais, a região Sudeste concentra 68 cidades com candidaturas únicas (32%), seguido pela região Sul (66 candidaturas ou 31%), Nordeste (37 candidaturas ou 17%), Centro-Oeste (30 candidaturas ou 15%) e Norte (11 candidaturas ou 5%).

Por fim, cabe mencionar novamente que os dados podem, e devem, sofrer alterações, pois a atualização dos dados abertos do TSE é diária, ocorrendo até mesmo mais de uma vez por dia. Assim, à medida que novos registros de candidaturas forem incluídos, os resultados obtidos sofrerão alterações pontuais.

De acordo com o mestre em Ciências Sociais e Política e doutor em Sociologia Política, José Elias Domingos, essa junção é característica de municípios pequenos.

“Eu enxergo essas candidaturas únicas e a união, a junção de partidos de espectro ideológico distintos como algo muito característico dos municípios pequenos, como mostra a pesquisa. E essa característica de estar mais presente, essas candidaturas únicas em municípios pequenos pode ter explicação em dois quesitos. O primeiro é porque nesses municípios não há tanta identificação político-partidária. Os partidos não são tão fortalecidos organicamente. E a segunda questão diz respeito à maior facilidade de consolidar diferentes demandas, diferentes pontos de vista, diferentes projetos, até porque estamos falando de municípios com uma média de seis mil habitantes. Então, não há quantitativamente tantas pessoas para debater projetos distintos do município.”

Para ele, há um risco de uma Câmara de Vereadores alinhada com o Executivo. “E o outro detalhe que é muito importante é porque, em uma candidatura única, corre-se o risco também de, nas eleições proporcionais, termos uma Câmara de Vereadores majoritariamente alinhada com o Executivo, porque se grande parte da base político-partidária apoiou na eleição majoritária um único projeto, a tendência é você ter uma Câmara não exercendo efetivamente o papel dela, que é o de fiscalização crítica das atuações do prefeito”, completou.

A reportagem do THMais tentou contato com o candidato à reeleição de Nuporanga, mas não obteve resposta até o fim desta matéria. O prefeito de Batatais respondeu às perguntas enviadas. O advogado Juninho Gaspar, de 40 anos, é o atual prefeito de Batatais. Formado em Comunicação Social e Direito, também tem pós-graduação em Direito, Gestão Pública e Controle Externo.

Foi vereador de Batatais entre 2009 e 2016, sendo presidente da Câmara no biênio 2013/2014. Também foi superintendente regional do Detran entre 2017 e 2018 e gerente regional da Ceagesp de Franca (SP) em 2019. Em 2020, foi eleito prefeito de Batatais para o atual mandato.

“Esperávamos e gostaríamos de ter concorrentes, para colocar em debate as questões relevantes da nossa cidade, apresentar tudo aquilo que foi realizado e também falar sobre o que ainda precisa ser feito, afinal, em 3 anos e meio de gestão, com 1 ano e meio de pandemia, não é possível sanar todos os problemas.”

Segundo ele, a falta de oponentes é reflexo de um governo agregador.

“Temos também que compreender que isso é reflexo de um governo que, desde a campanha anterior, possuía um propósito agregador. Isso levamos desde o nosso slogan de campanha em 2020, que era o nosso principal ideal: construir uma Batatais para todos.”

Sobre o alinhamento com a futura Câmara Municipal, o prefeito aposta na conjunção de ideias, independentemente de ideologias diferentes em âmbito estadual ou nacional.

“Buscamos parcerias com todos os vereadores durante todo o mandato, para trazer recursos para a cidade. Enfim, acredito muito que, ao contrário do que muitos políticos faziam e alguns ainda fazem, nós não devemos deixar os interesses da população apenas para serem observados no momento da eleição e, sim, obviamente, durante todo o mandato.”

**Texto por Igor Ramos