SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse nesta terça-feira (3) à agência de notícias Reuters que a eventual detenção do ex-diplomata Edmundo González na Venezuela seria uma prisão política, e o Brasil “não aceita que haja prisioneiros políticos”.
Na segunda (2), o Ministério Público da Venezuela, alinhado ao regime de Nicolás Maduro, pediu a prisão de González depois que o líder opositor ignorou pela terceira vez uma intimação da Justiça. O ex-candidato à Presidência é acusado de desobediência das leis, falsificação de papéis públicos, conspiração, usurpação de funções e sabotagem -crimes que podem acarretar em até 30 anos de prisão.
González afirma que, caso se apresentasse à Justiça venezuelana, seria submetido a um processo sem garantias de independência nem devido processo legal. O ex-diplomata não aparece em público desde o dia 30 de julho, e seus advogados disseram que ele não pediu asilo a nenhuma embaixada.
“Não há como negar que há uma escalada autoritária na Venezuela”, afirmou Amorim. “Não vemos abertura ao diálogo e há forte reação [de Caracas] a qualquer comentário”.
É uma das falas mais duras até aqui de um representante do governo brasileiro em relação à ditadura de Maduro desde as eleições presidenciais em julho, quando o ditador foi proclamado reeleito pelo órgão eleitoral do país. O resultado é contestado pela oposição, e o presidente Lula já disse que não reconhece a vitória de Maduro.
Países que já vinham criticando a condução do regime na crise política voltaram a se pronunciar depois da nova ofensiva contra González.
“Esse é só mais um exemplo das tentativas de Maduro de ficar no poder através da força e de se recusar a reconhecer a vitória de González em julho”, disse nesta terça o porta-voz da Casa Branca John Kirby. “Estamos avaliando uma série de opções para demonstrar a Maduro e seus aliados que suas ações na Venezuela terão consequências.”
Na segunda, os Estados Unidos apreenderam um avião usado pelo ditador na República Dominicana, dizendo que a compra da aeronave teria violado sanções contra a Venezuela. Caracas chamou a ação de pirataria.
“Rejeitamos de maneira inequívoca e absoluta a ordem de prisão [contra González]”, afirmaram Costa Rica, Argentina, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai em comunicado conjunto. “A ordem de apreensão cita vários supostos crimes que não passam de mais uma tentativa de silenciar González e ignorar a vontade popular venezuelana.”
Além deles, o Chile também se manifestou na segunda. A chancelaria do país disse que “rejeita energicamente a ordem de detenção” e “qualquer forma de repressão contra opositores ao regime ditatorial na Venezuela”.
“O governo do Chile faz um apelo para que sejam respeitados os princípios democráticos, bem como os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os venezuelanos”, afirmou a pasta. O presidente chileno, Gabriel Boric, é o crítico mais frequente do regime de Maduro entre os líderes de esquerda da região.
Redação / Folhapress