Marta, recordista de participação em debates em SP, desta vez está na retaguarda

BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A paulistana Marta Suplicy (PT), 79, não encabeça desta vez uma candidatura, mas detém um título que dificilmente será batido nos próximos anos —ela é a pessoa que mais participou de debates eleitorais na história da disputa à Prefeitura de São Paulo.

Tendo concorrido quatro vezes e vencido uma, Marta foi a 21 confrontos ao vivo nessas eleições —2000, 2004, 2008 e 2016.

No último dia 8, ela até esteve presente novamente no primeiro debate da eleição paulistana, realizado na TV Bandeirantes, mas ficou na plateia.

Marta atualmente é a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), que em 2020 foi a seis debates na eleição em que foi derrotado por Bruno Covas (PSDB).

“Debate, pra mim, é sinônimo de democracia. De um lado, revela as ideias e até o caráter dos candidatos. De outro, é a ferramenta mais poderosa para o eleitor decidir o voto. Eu já participei de muitos debates. Ganhei alguns, perdi outros. É do jogo”, disse Marta.

A petista disse ter ficado impressionada com “o baixo nível e a enxurrada de mentiras” do confronto na Band e, além do candidato de quem é vice, elogiou a atuação de Tabata Amaral (PSB).

Na ocasião, disse que seu colega de chapa tem “fluência verbal, foco na resposta” e vai direto ao ponto, “não enrola”.

Os debates desta campanha têm sido marcados por momentos de agressividade. No último, na TV Gazeta, no domingo (1º), o autodenominado ex-coach Pablo Marçal, candidato do nanico PRTB, levou uma bronca por ter falado palavrões.

A marca obtida ao longo dos anos por Marta Suplicy a deixa distante do segundo pelotão, nenhum deles candidato na atual eleição —José Serra (PSDB), Luiza Erundina (PSOL), Celso Russomanno (Republicanos), Paulo Maluf (PP) e Fernando Haddad (PT), todos com participação de 13 a 16 vezes cada um.

Nas 21 vezes em que esteve frente a frente com concorrentes a petista teve um de seus desempenhos mais inflamados na disputa em que derrotou Paulo Maluf e foi eleita prefeita, em 2000.

No primeiro debate do segundo turno, ela e o oponente trocaram ataques durante boa parte do tempo, sendo que o ponto alto foi o “cala a boca, Maluf” dito pela petista em um desses entreveros, frase que acabou virando bordão de campanha dali em diante.

Um outro episódio polêmico envolvendo Marta não ocorreu em debates, mas na sua propaganda eleitoral na TV. A repercussão acabou a obrigando a ficar na defensiva e se explicar durante um confronto cara a cara com o adversário.

Em 2008, sua campanha levou ao ar uma propaganda que levantava insinuações sobre a vida privada de Gilberto Kassab (então no DEM). “Você sabe mesmo quem é o Kassab? Sabe de onde ele veio? Qual a história do seu partido?”, questionava um locutor. Por fim, quando surgia a foto do então prefeito, a propaganda encerrava perguntando: “Sabe se ele é casado? Tem filhos?”

Com um passado de defesa dos direitos LGBTQIA+, Marta foi questionada por aliados e, no penúltimo debate do segundo turno, na TV Record, pediu desculpas.

Segundo ela, a propaganda havia sido testada pela equipe de marketing e ninguém teria visto tom malicioso.

“Eu não havia visto essa conotação. Fez parte da minha campanha [o comercial], agora foi retirado do ar por meu pedido. Eu sinto que tenha molestado o candidato e outras pessoas do meu partido.”

A história dos debates na campanha municipal de São Paulo reúne um total de 53 confrontos, contando com os quatro já realizados neste ano —além do da Band, os candidatos se enfrentaram no dia 14 no evento realizado pelo site Terra, o jornal O Estado de S. Paulo e a Faap (Fundação Armando Alvares Penteado). Houve ainda encontro realizado pela Revista Veja e a ESPM no qual Nunes, Boulos e Datena não compareceram.

Há previsão de outros debates no primeiro turno em São Paulo, entre eles o da Rede TV!/UOL e o da Folha/UOL, nos dias 17 e 30 de setembro, respectivamente.

Um primeiro episódio de relevo histórico nos debates paulistanos ocorreu no último confronto da campanha de 1985, realizado pela Folha e pela TV Globo em 10 de novembro, cinco dias antes da eleição.

Na ocasião, o jornalista Boris Casoy fez uma pergunta que por anos seria classificada por Fernando Henrique Cardoso como uma das responsáveis por sua derrota: “Senador, o sr. acredita em Deus?”

“Essa pergunta o senhor disse que não me faria”, respondeu Fernando Henrique. Depois de uma breve discussão entre candidato e jornalista sobre quem teria dito o que sobre a suposta promessa, o então candidato do PMDB (o PSDB só seria criado em 1988) respondeu de forma enviesada.

“É uma pergunta típica de alguém que quer levar uma questão, que é íntima, para o público, uma pergunta típica de alguém que quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo”, começou FHC.

“Devo dizer ao deputado [sic] Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo e, na medida que respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.”

Considerado favorito em boa parte da disputa, a ponto de ter posado para fotos sentado na cadeira de prefeito na véspera do pleito, FHC foi derrotado por Jânio Quadros por 3,5 pontos percentuais de diferença, a mais apertada da história na disputa à Prefeitura de São Paulo.

RANIER BRAGON E CAROLINA DAFFARA / Folhapress

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