SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Distritos policiais fincados nas periferias das zonas leste e sul de São Paulo registraram de janeiro a julho deste ano mais queixas de roubos do que de furtos, uma dinâmica diferente do observado no restante do estado e na própria capital, onde ocorre o inverso.
O roubo é tipificado quando há uso de armas ou agressão. Já o furto é uma modalidade de crime em que não há violência, como, por exemplo, quando um objeto é tomado sem que seu dono perceba naquele momento ou quando um celular é pego da mão de uma pessoa distraída.
O 47° DP (Capão Redondo), na zona sul, encabeça a lista. Em sete meses foram 2.501 roubos contra 1.734 furtos. Também no lado sul da capital, o 37° DP (Campo Limpo) recebeu 2.218 queixas de roubo e 2.046 de furto.
Em outra ponta da cidade, o 44° DP (Guaianases), na zona leste, elaborou 1.097 boletins de ocorrência de roubo no período e 917 de furto.
No geral, o estado de São Paulo registrou 321.084 ocorrências de furto e 117.191 de roubos de janeiro a julho. Enquanto na capital foram 139.129 registros de furto e 69.408 de roubos em semelhante período. Os números são da Secretaria da Segurança Pública.
Além das três delegacias mencionadas, o ranking é composto pelo 49° DP (São Mateus), 54° DP (Cidade Tiradentes), 68° DP (Lajeado) e 70° DP (Vila Ema), todos na zona leste, e pelo 95° DP (Heliópolis), na zona sul.
Em todos eles o número de roubos já era maior ou era semelhante ao número de furtos em 2023.
Para o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rafael Alcadipani, a inversão dos casos de forma mais localizada pode estar associada a descrença das ações policiais nessas regiões, o que geraria uma subnotificação nos registros dos casos sem violência.
“As pessoas sabem que muito pouco vai ser feito. Historicamente, a gente sabe que não existe uma capacidade de resposta efetiva da polícia, principalmente para esse tipo de crime”, disse ele.
O coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha, considera que o aumento do efetivo policial no centro da cidade pode ter deixado essas áreas da periferia mais expostas.
“Esses bairros têm uma confluência de fatores. Tem uma política do governo atual de focar o policiamento ostensivo, a PM, no centro da cidade, diminuição de crimes patrimoniais. Tem funcionado, tem caído os indicadores da cidade como um todo, mas a gente vê esse efeito [na periferia]”.
Rocha acrescentou ser necessária uma melhora na zeladoria dos bairros periféricos, algo de responsabilidade do governo municipal, como melhoria na iluminação. Também afirmou que o “policiamento é violento e muito pouco eficiente nas periferias da cidade”.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse não ser correta a comparação de indicadores criminais de distrito policiais, pois cada bairro possui características populacionais, sazonais e geográficas distintas, que impactam nos indicadores criminais. “A pasta se mantém atenta à variação dos índices em todo estado para implementar políticas públicas de enfrentamento, bem com reorientar as atividades policiais e o patrulhamento nas ruas. Esse trabalho é realizado de forma conjunta, entre as polícias Civil e Militar, aliando inteligência e tecnologia”.
A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que o estado fechou os primeiros sete meses do ano com redução de 13,1% nos roubos em geral, em comparação com igual período de 2023, alcançando o menor número em 24 anos. Em relação aos furtos, recuaram 3,7% no mesmo comparativo.
“Se analisado apenas a capital, as quedas nestes mesmos indicadores foram de 12,1% e 3,4%, respectivamente, sendo que os roubos apresentaram a menor quantidade desde 2013”.
Ainda de acordo com a SSP, “o policiamento preventivo e ostensivo realizado pela PM é reforçado e remanejado de forma estratégica, conforme o monitoramento das áreas com maior incidência criminal, sem deixar qualquer área desprotegida”.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress